Américo Nunes
Em 2015 passam 125 anos desde a
primeira vez em que o dia 1.º de Maio se realizou como Dia Internacional do
Trabalhador, em 1890. Em homenagem aos mártires de Chicago, os Congressos
Socialistas de Paris, de 1889, haviam aprovado uma resolução a declarar o 1.º
de Maio do ano seguinte, «e para todo o sempre», o dia em que os trabalhadores
de todo o mundo homenageavam os que caíram na luta pelas oito horas e passariam
a apresentar aos poderes públicos as suas reivindicações.
Apesar da repressão sangrenta de
que foram alvo por parte das autoridades durante as greves pela redução do
horário de trabalho iniciadas no dia 1 de Maio de 1886, os 8hX8hX8h, 48 horas
semanais de trabalho, oito por dia, mais oito para estudo e lazer e oito para
dormir, este horário foi desde logo conquistado por 200 mil operários
norte-americanos. Dez anos depois o horário de 48 horas semanais já constava
das leis em 40 estados dos EUA.
Baseado numa armadilha da
polícia, que colocara ela própria uma bomba debaixo do palco dum comício, um
tribunal condenou oito dos dirigentes operários. Quatro foram enforcados, um
quinto suicidou-se antes de o ser, e os restantes três – condenados a prisão
perpétua –, foram libertados em 1893, quando, a culminar sete anos de protestos
e solidariedade do operariado mundial, um governador concluiu que todos os
condenados eram inocentes.
O operariado português foi dos
que inscreveu o nome de Portugal entre os países que realizaram o primeiro de
Maio em 1890.
A luta pelo objetivo das oito
horas alastrou a todo o mundo. Depois dos decretos da Paz e da Terra, a grande
Revolução Russa de 1917 publicou o decreto das oito horas de trabalho diário, e
o 1.º de Maio veio a ser declarado dia feriado.
Temos primeiros de Maio que
ficarão para a história da luta dos trabalhadores e mesmo para a história de
Portugal.
Foi após a participação combativa
do operariado de Lisboa em defesa da República, na escalada de Monsanto, onde a
tentativa de restauração da Monarquia foi derrotada, e após um 1.º de Maio
grandioso em 1919, que as 48 horas semanais para a indústria e o comércio foram
consagradas na lei.
A mesma atualidade
Durante o fascismo, com as greves
e as manifestações proibidas, o 1.º de Maio, em regra sob forte repressão
policial, nunca deixou de ser celebrado, em luta pela liberdade. Em 1962,
dezenas de milhares manifestaram-se em Lisboa e no Porto, ao mesmo tempo que
nos campos do Ribatejo e Alentejo alastrou a partir desse dia o movimento
grevístico que levou à conquista das oito horas diárias para os trabalhadores
agrícolas.
O 1.º de Maio de 1974 foi um hino
de alegria à liberdade e um levantamento popular de milhões de portugueses em
apoio ao MFA, que transformou o golpe militar dos capitães e o levantamento
militar que se lhe seguiu no processo revolucionário que realizou as conquistas
de Abril.
Em 1982, o operariado do Porto
defendeu o direito de manifestação na Praça da Liberdade sob a repressão
sangrenta do governo da AD. Dia 30 de Abril à noite, às ordens do ministro
Ângelo Correia, a polícia de intervenção disparou armas de guerra sobre os
manifestantes assassinando dois operários e ferindo mais de cem. No dia
seguinte, um imenso 1.º de Maio derrotou os ímpetos fascizantes da AD.
Mas nem todos os primeiros de
Maio foram trágicos. Muitos foram também de luta, celebração e festa. E alguns,
hoje parecendo-nos pequenas coisas, como a distribuição de tarjetas a fugir da
polícia, uma manifestação de alguns minutos logo dispersa à bastonada ou à
força de canhões de água com tinta. Pichagens noturnas com vivas ao 1.º de
Maio, uns foguetes deitados à socapa manhã cedo, durante o fascismo, demonstram
que em função das circunstâncias, há pequenos primeiros de Maio que são grandes
na coragem de quem os realiza e têm um valor simbólico que os transcende.
Provavelmente não há data
histórica com mais de um século que continue a ter a mesma atualidade e a
prosseguir os mesmos objetivos que estiveram na sua origem. O 1.º de Maio
continua a realizar-se em todo o mundo, da Europa às Américas, da África à Ásia
e à Oceania comemora-se e luta-se no Dia Internacional do Trabalhador. Contra a
repressão e a exploração capitalista, e em muitos casos prosseguindo ainda a
luta pelas oito horas de trabalho diário. Em países onde nunca foram
conquistadas e noutros, onde já as tiveram, e que no retrocesso civilizacional
em curso lhes foram retiradas.
O 1.º de Maio configura ainda
hoje também, através da ação, um forte elo de solidariedade internacionalista
dos trabalhadores de todo mundo. Correspondendo ao apelo da CGTP-IN, os
trabalhadores lá estarão a comprová-lo este ano mais uma vez.
Fonte : Avante
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