Por Marco Weissheimer
O General Sérgio Etchegoyen foi
indicado para assumir como ministro-chefe da Secretaria de Segurança
Institucional – pasta à qual ficará subordinada a Agência Brasileira de
Inteligência (Abin). (Foto: Divulgação)
O militar gaúcho natural de Cruz
Alta foi o primeiro general da ativa a criticar publicamente o trabalho da
comissão, qualificado por ele como “patético” e “leviano”. Isso porque a CNV
incluiu o pai dele, general Leo Guedes Etchegoyen, entre os militares
responsáveis por violações de direitos humanos durante a ditadura militar. Essa
não foi a única citação envolvendo familiares do general. Um tio dele, Cyro
Guedes Etchegoyen, foi apontado pelo coronel Paulo Malhães à Comissão Nacional
da Verdade, como autoridade responsável pela Casa da Morte, local de tortura e
morte de presos políticos da ditadura, localizada no município de Petrópolis,
Rio de Janeiro.
Em nota divulgada em dezembro de
2014, o general Etchegoyen, juntamente com outros quatro irmãos e a mãe dele,
protestaram contra a inclusão do nome do pai no relatório da CNV, dizendo ela
tinha o único propósito de “denegrir” a imagem do general Leo Etchegoyen. A
nota afirmou:
“Ao apresentar seu nome,
acompanhado de apenas três das muitas funções que desempenhou a serviço do
Brasil, sem qualquer vinculação a fatos ou vítimas, os integrantes da CNV
deixaram clara a natureza leviana de suas investigações e explicitaram o
propósito de seu trabalho, qual seja o de puramente denegrir. (…) No seu
patético esforço para reescrever a história, a CNV apontou um culpado para um
crime que não identifica, sem qualquer respeito aos princípios constitucionais
do contraditório e da ampla defesa”.
Após o golpe de 1964, Leo Guedes
Etchegoyen assumiu a chefia de Polícia do RS, período no qual recebeu Daniel
Anthony Mitrione (na foto, de jaleco branco, durante sua passagem por Porto
Alegre), notório especialista norte-americano em métodos de tortura contra
presos políticos. Mitrioni ministrou curso à Guarda Civil do Estado.
Após o golpe de 1964, Leo Guedes
Etchegoyen assumiu a chefia de Polícia do RS, período no qual recebeu Daniel
Anthony Mitrione (na foto, de jaleco branco, em frente ao Palácio da Polícia,
durante sua passagem por Porto Alegre), notório especialista norte-americano em
métodos de tortura contra presos políticos. Mitrioni, que acabou sendo morto
pelos tupamaros no Uruguai, ministrou curso à Guarda Civil do Estado.
Após o golpe de 1964, Leo Guedes Etchegoyen assumiu a chefia de Polícia do RS, período no qual recebeu Daniel Anthony Mitrione (na foto, de jaleco branco, em frente ao Palácio da Polícia, durante sua passagem por Porto Alegre), notório especialista norte-americano em métodos de tortura contra presos políticos. Mitrioni, que acabou sendo morto pelos tupamaros no Uruguai, ministrou curso à Guarda Civil do Estado.
A resposta da Comissão da Verdade
Diante da reação da família do
general, a assessoria de comunicação da Comissão Nacional da Verdade divulgou
nota, no dia 11 de dezembro de 2014, relatando os fatos que basearam a inclusão
de Leo Etchegoyen no capítulo 16 do volume I do relatório final, categoria B:
“responsável pela gestão de estruturas onde ocorreram graves violações de
direitos humanos”. Segundo o relato da CNV, “após o golpe de 1964, Leo Guedes
Etchegoyen assumiu a chefia de Polícia do Estado do Rio Grande do Sul, período
no qual recebeu Daniel Anthony Mitrione, notório especialista norte-americano em
métodos de tortura contra presos políticos, para ministrar curso à Guarda Civil
do Estado, realizado no período de 19 a 26 de junho”.
Em novembro de 1964, Etchegoyen
assumiu a Secretaria de Segurança Pública do Rio Grande do Sul, permanecendo no
caro até fevereiro de 1965. Mais tarde, o militar foi chefe do Estado Maior do
II Exército, de 1979 a julho de 1981, período no qual serviu sob as ordens do
general Milton Tavares de Souza, comandante do II Exército que chefiou o Centro
de Informações do Exército no período Médici. Ainda segundo a Comissão da
Verdade, em 28 de dezembro de 1979, o general Leo Etchegoyen, na qualidade de
chefe do Estado Maior e supervisor das atividades do DOI-CODI, elogiou os
serviços prestados pelo tenente coronel Dalmo Lúcio Muniz Cyrillo, chefe do DOI
CODI do II Exército, destacando “sua experiência no campo das informações e por
sua dedicação, boa vontade, capacidade de trabalho e espírito de cooperação”.
Cyrillo atuou no DOI-CODI do II
Exército como chefe de equipes de interrogatório e desempenhou a função de
subcomandante nos períodos de Carlos Alberto Brilhante Ustra e Audir Santos
Maciel. Em 1979, ele assumiu o comando do DOI-CODI de São Paulo, período no
qual atuou sob as ordens de Leo Etchegoyen e Milton Tavares de Souza.
Em 19 de abril de 1980, assinala
ainda a CNV, quando Leo Etchegoyen era chefe do Estado Maior do II Exército,
seu comando esteve vinculado ao planejamento da prisão de sindicalistas e
lideranças dos metalúrgicos da região do ABC, bem como do sequestro de integrantes
de organizações de direitos humanos que prestavam solidariedade aos
trabalhadores, como os advogados José Carlos Dias (então presidente da Comissão
Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo) e Dalmo Dallari (ex-presidente da
mesma comissão). Essas prisões, diz a Comissão, foram efetuadas com violência,
sem mandado de prisão e sem a devida comunicação às famílias. Essa operação foi
planejada pelo comando do II Exército e executada por agentes do DOI-CODI, no
período em que Leo Etchegoyen era o chefe do Estado Maior do II Exército,
principal instância de planejamento de ações daquele comando.
Em depoimento à CNV, coronel
Paulo Malhães apontou o coronel Cyro Guedes Ethegoyen, tio de Sergio
Etchegoyen, como a autoridade responsável pela Casa da Morte, residência
localizada em Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, que serviu de
cárcere e local de tortura e execução de vários presos políticos.
Em depoimento à CNV, coronel
Paulo Malhães apontou o coronel Cyro Guedes Ethegoyen, tio de Sergio
Etchegoyen, como a autoridade responsável pela Casa da Morte, residência
localizada em Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, que serviu de
cárcere e local de tortura e execução de vários presos políticos.
Em depoimento à CNV, coronel
Paulo Malhães apontou o coronel Cyro Guedes Ethegoyen, tio de Sergio
Etchegoyen, como a autoridade responsável pela Casa da Morte, residência
localizada em Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, que serviu de
cárcere e local de tortura e execução de vários presos políticos
A Casa da Morte e a morte de
Malhães
Essa não foi a única menção a um
familiar de Sergio Etchegoyen nos trabalhos da Comissão da Verdade. Em
depoimento concedido à CNV, o coronel reformado Paulo Malhães apontou o coronel
Cyro Guedes Ethegoyen, tio de Sergio Etchegoyen, como a autoridade responsável
pela Casa da Morte, residência localizada em Petrópolis, na região serrana do
Rio de Janeiro, que serviu de cárcere e local de tortura e execução de vários
presos políticos. Segundo Malhães, Cyro Etchegoyen era a autoridade do Centro
de Informações do Exército (CEI), responsável pela Casa. Ele foi chefe da seção
de Informações e Contrainformações do CIE, atuando também sob as ordens do
general Milton Tavares.
Em seu depoimento à Comissão da
Verdade, Malhães admitiu ter participado de diversas sessões de tortura e de
ter ordenado e participado de várias ocultações de cadáveres que envolviam,
entre outras práticas, a mutilação dos corpos, com a retirada das digitais,
mediante o corte das mãos, e da arcada dentária. Questionado em seu depoimento
sobre as torturas e as mutilações de cadáveres, ele defendeu a prática como
“uma necessidade” e disse que os corpos eram mutilados “para não deixar
rastros”. “Quebrava os dentes. As mãos (cortava) daqui para cima”, afirmou,
apontando as próprias falanges. Cerca de um mês depois de prestar depoimento à
Comissão da Verdade, Malhães foi assassinado por asfixia em sua casa localizada
na zona rural de Nova Iguaçu.
A nota divulgada por Sérgio
Etchegoyen e familiares, em dezembro de 2014, qualifica o relatório da CNV como
“patético esforço para reescrever a história” e afirma que “Leo Guedes
Etchegoyen representa a segunda geração de uma família de generais que serve o
Brasil, com retidão e patriotismo, há 96 anos”. E acrescenta: “Seguiremos
defendendo sua honrada memória e responsabilizando os levianos que a atacarem”.
Fonte: site
Sul 21
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