Devemos
esperar que Macri lance uma ofensiva forte, começando com a nomeação de seu
gabinete. Segundo escutamos em Wall Street, está preparando uma equipe com
(Domingo) Cavallo e os ultra-neoliberais mais agressivos.
A análise de James Petras na
CX36, segunda-feira, 23 de novembro de 2015
Transcrevemos esta completa
análise que você pode voltar a escutar aqui:
http://www.ivoox.com/columna-james-petras-encx36-23nov15-audios-mp3_rf_9483753_1.html
Efraín Chury Iribarne: A
ultra-direita ganhou as eleições na Argentina neste domingo e anunciou que
tentará expulsar a Venezuela do Mercosul, que negociará com os fundos abutres e
voltará ao FMI. Queríamos escutar sua análise sobre isto.
JP: Primeiro, devemos notar que o
modelo de extração de capital agrário-mineral como base da Economia, já se
esgotou há tempos – como já disse aqui. A ideia de que podem compartilhar as
grandes rendas entre capitalistas, financistas, trabalhadores pensionistas, é
um modelo que se esgotou há tempos e é preciso escolher entre operários,
trabalhadores e empregados ou capitalistas.
Nesse sentido, os governos
auto-intitulados progressistas não queriam enfrentar esta realidade e começaram
a perder apoio entre os setores populares e, particularmente, da classe média,
como ocorreu no Brasil, Argentina, Uruguai e atualmente na Venezuela, além de
outros países.
Então, ante o fato da
deterioração começar a afetar o bolso e a inflação começar a despertar, podemos
dizer que a ideia de que é necessário ir mais adiante do populismo e do
nacionalismo, para o socialismo, estava sobre a agenda. E quando os governantes
desses países não tomaram esse caminho, prepararam o caminho para a volta da
direita, que se aproveita das dificuldades econômicas que afetam setores
populares e – obviamente – com o grande respaldo do capital nacional e
internacional.
Foi isso que aconteceu na
Argentina.
Agora, este esgotamento deixou o
país polarizado em uma forma indireta. Claramente (Daniel) Scioli não representava
uma alternativa socialista nem progressista no sentido popular. Porém, o país
ficou sumamente polarizado e em nenhum sentido (Mauricio) Macri tem um mandato
para estas medidas extremistas que está preparando.
Devemos esperar que Macri lance
uma ofensiva forte, começando com a nomeação de seu gabinete. Segundo escutamos
em Wall Street, está preparando uma equipe com (Domingo) Cavallo e os
ultra-neoliberais mais agressivos.
Então, esse gabinete será a
primeira medida que mostrará a face ultradireitista.
Já os grandes capitais daqui
estão esperando as privatizações, a liberalização, estão preparando as maletas
para uma invasão capitalista internacional imperialista à Argentina. Um
imperialismo por convite.
E Macri – não há nenhuma dúvida –
vai adotar medidas que rumam para a desvalorização do peso argentino, o que
resultará em uma grande perda do poder de consumo dos trabalhadores na
Argentina, porém favorecerá absurdamente os setores financeiros.
Em segundo lugar, os cortes
fiscais, o que vai provocar uma grande queda no que recebem os beneficiários
das pensões, os funcionários públicos e qualquer outro setor social que receba
alguma transferência pública.
Isso também tem enormes
repercussões porque, como dissemos, a sociedade argentina se polarizou. E uma
coisa muito peculiar é que os argentinos de todas as classes têm a tendência de
se queixar de tudo. Queixam-se do futebol, queixam-se dos governantes, etc.
Algumas vezes têm razão, porém outras vezes perdem de vista as consequências de
repudiar algo sem considerar o que vai surgir.
Neste caso, podemos dizer que um
setor popular e, particularmente, a classe média, decidiu cair na armadilha da
“mudança”, sem saber exatamente o que significa essa mudança.
E mais uma coisa, se os
argentinos são queixosos também sabem lutar pelas coisas que afetam seu bolso.
Então, os mesmos que votaram em Macri – ou ao menos alguns – são os mesmos que
sairão às ruas uma vez que o impacto social e econômico começar a afetar seu
bolso, sua renda, seus empregos, as possibilidades de conseguir algum seguro,
etc.
Creio que isto detonará a luta de
classes mais feroz que vimos nos últimos tempos, despertará essa capacidade de
greves gerais que somente encontramos na Argentina e, talvez, no Uruguai. E
esse também será um grande obstáculo para Macri poder realizar suas políticas.
Trata-se de continuar apesar dos conflitos, apesar da resistência, poderia
chegar a ser algo muito grave.
Ou seja, a classe trabalhadora
mais ou menos adormecida durante o período de Néstor Kirchner e Cristina
Fernández, vai despertar abruptamente e veremos uma intensificação da luta de
classes em todo sentido.
Esse é um prognóstico para os que
estão chorando agora pelo esgotamento do modelo progressista. Era inevitável
porque todo modelo progressista não era progressista. Era uma política econômica
muito contraditória e as fundações eram reacionárias, apesar da política de
bem-estar social ser positiva. As fundações eram bastante reacionárias porque o
eixo eram os agrários-mineradores, a grande mineração, a grande agricultura, os
exportadores e os financistas.
E agora, com Macri, a
coincidência entre setores reacionários e governo vai fomentar enormes
conflitos. E eu acredito que dentro de seis meses veremos outra conjuntura. As
festas de Macri de hoje vão terminar nas ruas, com outro tipo de atividade que
não é exatamente abrindo champanhe e dançando sobre o palco.
Veremos outro tipo de
confrontação, “piqueteros” e outras formas de resistência.
(*) Escute ao vivo, às
segundas-feiras, às 11:30 horas (hora local), a audição de James Petras na CX36,
Radio Centenario de Montevidéu (Uruguai) na 1250AM do dial; e para todo o mundo
através de www.radio36.com.uy, que transmite 24 horas on line.
Fonte:
http://radio36.com.uy/entrevistas/2015/11/23/petras.html
Fonte e tradução: Partido Comunista Brasileiro
(PCB)
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