Denuncia Bernabé
Penayo, da Federação Nacional dos Taxistas do Paraguai
Leonardo Wexell Severo
“Estive preso de 1975 a 1978
acusado de pertencer à Federação Juvenil Comunista e posso dizer que o governo
de Horacio Cartes é o que mais se aproxima da ditadura de Alfredo Stroessner
(1954-1989)”, denunciou o presidente da Federação Nacional dos Taxistas do
Paraguai, Bernabé Penayo, se somando à greve geral convocada pelas centrais
sindicais, organizações camponesas, estudantis, femininas e comunitárias para
dezembro.
Na avaliação de Penayo, “este
tipo de paralisação que envolve todos os setores é uma experiência importante,
histórica, pois não é frequente”, mobilizando o país em momentos especiais.
“Neste governo encabeçado por Cartes esta é a segunda greve geral, o que
demonstra o grau de insatisfação popular com os rumos adotados. É alguém que
não respeita a liberdade sindical, tem um plano econômico totalmente contrário
aos interesses dos trabalhadores para privilegiar o grande capital estrangeiro.
Tudo isso leva o país a uma situação cada vez mais grave e nos faz pressionar
para que mude urgentemente a sua política econômica”, destacou.
A queda na qualidade dos serviços
públicos vai além dos sucessivos cortes promovidos pelo governo, alertou o
sindicalista, dialoga também com o clientelismo e o apadrinhamento, resultado
da falta de estabilidade que só é brindada no país após 10 anos de
trabalho.
Quando Fernando Lugo assumiu a
presidência, explicou, entrou na máquina pública uma grande quantidade de
servidores que não eram colorados, que não haviam ficado viciados nos 62 anos
em que este partido esteve no poder desde o começo da ditadura de Stroessner. “Assim que Lugo foi derrubado, 90% deles
foram demitidos por não pertencerem ao Partido Colorado, havendo um grande
retrocesso no atendimento básico à população mais necessitada”, declarou.
Na lógica neoliberal de
“enxugamento” do papel do Estado em prol dos cartéis e monopólios privados, o
governo Cartes acelerou a lei das Associações Público-Privadas (APPs),
“concedendo”, com fartura de dinheiro público, áreas estratégias da economia
para o capital estrangeiro.
”A lei de Associação Público
Privada é totalmente entreguista, atenta contra a soberania nacional, com tudo
podendo ser privatizado: hospitais, escolas, penitenciárias, rodovias. É uma
lei que atenta contra a Constituição Nacional que aponta que todos os acordos e
empréstimos têm de ser necessariamente aprovados pelo parlamento. Esta lei não,
ela concentra tudo em Cartes para melhor vender o país”, condenou.
Conforme o líder dos taxistas
paraguaios, a implantação desta ideologia subserviente foi um dos grandes
objetivos da Operação Condor, patrocinada pelo governo dos Estados Unidos para
que as ditaduras da Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai
varressem com a oposição nacionalista.
“É importante termos a integração
latino-americana como barreira às imposições externas, particularmente dos EUA.
É um obstáculo a que cedo ou tarde venham com o retorno da doutrina de
‘Segurança Nacional’, que foi a base da intervenção norte-americana em toda a
América Latina. A Operação Condor possibilitou a plena instalação das ditaduras
militares contra todos os que se opunham à entrega dos nossos países. Superando
aquele momento, fomos nos unindo e criando uma série de organizações com a
participação da Venezuela, Bolívia, Equador, Argentina, Brasil, construindo uma
integração que é vital para que os nossos povos sejam independentes”,
assinalou.
Para Penayo, é preciso honrar a
trajetória de mártires e heróis que abriram caminho para a liberdade, citando o
caso de Emílio Roa Espinosa, que foi secretário-geral da Confederação Paraguaia
de Trabalhadores e secretário da Construção do Paraguai. Espinosa foi
sequestrado junto com o presidente do Partido Comunista Paraguaio (PCP),
Antonio Maidana, em Buenos Aires, no dia 27 de agosto de 1980, e entregue à
ditadura de Stroessner, que desapareceu com eles. “Recordo que Roa era um
operário qualificado da construção civil, amigo do meu pai e companheiro do
PCP, que visitava minha casa com certa frequência. Eu tinha dez anos e mais de
meia dúzia de irmãos e ele chegava com um pacote de balas para todos. Era um
momento muito esperado, havia sempre muita ansiedade da nossa parte e atenção
especial da parte dele. Atualmente sua neta vive aqui próximo a Assunção.
Sempre recordamos seu exemplo. Lamentavelmente há um abandono da memória dos
muitos que morreram lutando, falta um lugar à altura desta experiência
histórica de luta pela liberdade. É um dever nosso, um compromisso que temos de
cumprir com as novas gerações”, concluiu.
Fonte: blog Comunica
Sul
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