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quarta-feira, 30 de agosto de 2023

A derrocada de Washington no Afeganistão é o prelúdio do desastre final da OTAN na Ucrânia

 

O fato gritante – absurdamente ignorado pelas mídias ocidentais – é que a luta do Afeganistão para se recuperar é o resultado dos 20 anos de destruição que os EUA e a OTAN infligiram àquele país.    

                

Esta semana fazem dois anos que os Estados Unidos e a OTAN abandonaram o Afeganistão, deixado em ruínas. O país é assolado pela pobreza e pelo impacto devastador da guerra. O mesmo destino aguarda a Ucrânia, mas numa escala muito maior.

A principal diferença provável é que as consequências políticas e militares para o bloco liderado pelos EUA serão inevitavelmente calamitosas para as presunções de poder imperial de Washington.

Há dois anos, a 15 de agosto de 2021, os rebeldes talibãs invadiram a capital afegã, Cabul, derrubando o presidente apoiado pelos EUA, Ashraf Ghani, que fugiu do país. No final desse mês, todas as forças americanas e aliadas da OTAN se retiraram do Afeganistão, numa retirada caótica e apressada que viu pessoas desesperadas agarradas ao trem de aterragem dos aviões quando estes descolavam das pistas. Foi um desastre sob a direção do Presidente dos EUA, Joe Biden.

O abandono forçado do Afeganistão marcou o fim de 20 anos de ocupação militar dos EUA naquele país da Ásia Central. Os americanos tinham invadido o país em novembro de 2001, numa duvidosa vingança pelos alegados ataques terroristas de 11 de setembro, ocorridos dois meses antes em Nova Iorque e na Pensilvânia e na sede do Pentágono, no estado da Virgínia. A narrativa oficial é inacreditável.

Seja como for, o atoleiro militar que Washington criou a seguir no Afeganistão tornou-se fútil e insustentável. Biden finalmente retirou o seu país da confusão, mas dificilmente merece elogios por encerrar uma "guerra sem fim".

Biden tentou tornar uma desgraça e de um episódio criminoso colossal numa virtude. É revelador que, mal os EUA repatriaram as suas tropas, o militarismo de Washington tenha voltado a atuar, alimentando o conflito na Ucrânia e intensificando a hostilidade contra a Rússia e a China.

Os talibãs lutaram contra os americanos e os seus parceiros criminosos da OTAN até à exaustão, apesar das esmagadoras probabilidades contra eles. O movimento islamita está no poder pela segunda vez, depois de ter governado o Afeganistão de 1996 a 2001, altura em que os americanos o invadiram sob a cínica bandeira da "Operação Liberdade Duradoura". Há que reconhecer que os americanos e os seus servos mediáticos ocidentais têm uma audácia total no engano orwelliano e na auto-ilusão.


O abandono do Afeganistão deveria ser motivo de grande vergonha para os americanos, bem como de fundamento para que tribunais de crimes de guerra processem Biden, os seus antecessores e outros líderes ocidentais. Os americanos e os seus cães de guarda da OTAN foram para lá supostamente para "construir a democracia" e derrotar os talibãs, que acusaram de cumplicidade na atrocidade do 11 de setembro. Essas acusações foram sempre frágeis, se não mesmo absurdas. A guerra liderada pelos Estados Unidos contra o Afeganistão, tal como a guerra contemporânea contra o Iraque (2003-2012), que foi igualmente desastrosa, teve sempre como objetivo a afirmação do poder imperial de Washington e a prossecução de noções de "domínio de espetro total" sobre os rivais geopolíticos, a Rússia e a China.

É notável, mas não surpreendente, que esta semana tenha havido pouca cobertura nos media ocidentais sobre o segundo aniversário do desastre do Afeganistão. A vergonhosa retirada das forças norte-americanas está ao mesmo nível da sua retirada desordenada de Saigão, no antigo Vietname do Sul, em 1975, às mãos dos insurretos vietnamitas.

A escassa cobertura dos media ocidentais tendeu perversamente a atribuir ao governo talibã a culpa pela pobreza e pelas ruinosas consequências da guerra. De acordo com o Comité Internacional da Cruz Vermelha, cerca de 15,5 milhões de afegãos, ou seja, quase 40% da população, encontram-se em situação de insegurança alimentar extrema. Um dos principais factores de privação é a apreensão de US$7 mil milhões de ativos do banco central do Afeganistão por Washington, em resposta à tomada do poder pelos Talibã. Washington continua a recusar qualquer devolução devido a "preocupações com direitos humanos".

O fato gritante – absurdamente ignorado pelos media ocidentais – é que a luta do Afeganistão para se recuperar é o resultado dos 20 anos de destruição que os EUA e a OTAN infligiram àquele país.

O mesmo legado horrendo de guerra e maquinações militares pode ser visto em várias outras nações onde Washington e os seus cúmplices ocidentais se inseriram sob o pretexto de "construir a democracia":   Iraque, Líbia, Síria, Iémen e Somália, entre outros.

Atualmente, no estado do Níger, na África Ocidental, os americanos e os seus aliados neocolonialistas europeus estão a preparar uma invasão militar para inverter um golpe popular efetuado no mês passado contra um presidente fantoche apoiado pelo Ocidente.

A máquina de guerra da OTAN, ao serviço do seu mestre americano, nunca para na sua ruinosa passagem por nações consideradas alvo dos interesses imperialistas dos EUA. Que mais provas são necessárias para demonstrar que a OTAN é uma organização terrorista imperialista?

A Ucrânia está a enfrentar um destino trágico semelhante. O conflito, que já dura há 18 meses, é uma guerra por procuração contra a Rússia, instigada por Washington e pelos seus lacaios ocidentais da NATO. O massacre naquele país continua incessante porque as potências ocidentais prosseguem incansavelmente a sua agenda anti-Rússia, paga com o sangue dos ucranianos e subsidiada pelo público ocidental. Este último tem sido enganado por uma barragem incessante de mentiras e de propaganda de guerra enganosa por parte dos servis media ocidentais, que se esforçam por encobrir a vil natureza nazi do regime de Kiev e suprimir todo o contexto histórico que conduziu ao conflito.

Do mesmo modo como o Afeganistão e incontáveis outras nações foram finalmente descartadas por Washington quando esta se cansou das suas maquinações fracassadas, a Ucrânia também será posta de lado como um trapo sujo. Os ucranianos suportarão durante décadas o horror e as dificuldades da guerra como um Estado fracassado criado pelo imperialismo americano.

O regime de Kiev, sob o comando do presidente fantoche Vladimir Zelensky, empanturrou-se de corrupção desenfreada da mesma forma que o regime de Cabul, apoiado pelos EUA, o fez antes de os talibãs o expulsarem.

A Ucrânia não tem qualquer possibilidade de vencer forças russas superiores. O desprezível regime de Kiev, infestado de nazis, um dia cairá sob o peso da própria sua corrupção – e Washington e os seus vassalos europeus escaparão para deixar a Ucrânia como uma fossa fumegante, embora extraindo a sua riqueza natural para sempre através do pagamento de dívidas e da posse de capital estrangeiro. A menos, claro, que os ucranianos tomem um caminho político radicalmente diferente, talvez unindo-se à Rússia, como fizeram a Crimeia e as regiões do Donbass.

Por enquanto, Washington e os seus parceiros imperiais continuam a farsa de se vangloriarem do seu apoio à Ucrânia durante "o tempo que for preciso". Mas eles e os seus media propagandistas sabem que o jogo está a acabar na medida em que a Rússia consegue enfrentar o poder do bloco militar dos 31 membros da OTAN.

A OTAN enredou-se fatalmente numa guerra por procuração na Ucrânia de um modo que terá muito mais consequências do que as suas anteriores aventuras criminosas na Ásia Central, no Médio Oriente e em África. As repercussões financeiras para a Europa, em particular, já se manifestam com uma vingança de dureza fiscal do Estado, mal-estar econômico, bancarrotas e colapso público. Os problemas da imigração em massa decorrentes das guerras da OTAN também se agravarão de forma insuportável.

Mas o mais fatal, talvez, é o enorme impacto político do fracasso abjeto que espera Washington e a OTAN quando a realidade da derrota na Ucrânia se tornar inevitável. Os media ocidentais já estão a admitir timidamente o desastre. Com o tempo, esse descalabro irá ampliar-se. Haverá muito ranger de dentes e recriminações sobre o fiasco liderado pelos EUA na Ucrânia. As consequências entre os membros da OTAN em relação ao Afeganistão foram palpáveis; em relação à Ucrânia, serão explosivas para o frágil sentido de unidade e objetivo do bloco.

Se o Afeganistão pode ser encarado como um desastre para as pretensões ocidentais e como uma fraude descarado, o desastre da Ucrânia terá repercussões ainda mais devastadoras.

É chegado o dia do ajuste de contas com o criminoso belicismo de décadas liderado pelos EUA através da sua máquina de guerra da OTAN. Esse dia pode estar mais próximo do que se imagina.

18/Agosto/2023

Ver também:

[*] Strategic Culture Foundation.

O original encontra-se em strategic-culture.org/news/2023/08/18/washington-afghanistan-debacle-is-prelude-to-natos-ultimate-disaster-in-ukraine/

Este artigo encontra-se em resistir.info


 

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