Miguel Urbano Rodrigues
O documentário de Laura Poitras
“Citizenfour”, premiado com um Óscar, não tem tido a atenção que merece por
parte do público no nosso país. O seu título é o nome de código de Edward
Snowden, o ex agente da CIA que revelou ao mundo a existência e o funcionamento
do monstruoso sistema de espionagem criado pela NSA, cujos tentáculos cobrem o
mundo. Peça fundamental da estratégia imperialista de dominação planetária, o
desmascaramento desta ameaça é uma tarefa de defesa da humanidade.
Contei as pessoas à saída da sala
do pequeno cinema do Porto que acabara de exibir o documentário Citizenfour:
eram apenas 19.
Por quê tão pouca gente?
Eu conhecia a resposta:
1.A esmagadora maioria dos
portugueses (o panorama não difere muito noutros países) desconhece a perigosa
ameaça que a estratégia de poder dos EUA representa para a humanidade.
2. É extremamente difícil
conseguir que centenas de milhões de pessoas, manipuladas pela gigantesca
máquina de desinformação mediática controlada por Washington, tomem consciência
de que os valores da chamada «democracia americana» são hoje uma arma de
propaganda e que nos EUA, neste início do século XXI, a Casa Branca, o
Pentágono e a Agencia Nacional de Segurança – NSA com a cumplicidade do
Congresso, montaram uma engrenagem diabólica, na prática incontrolável, para
dominar o planeta, através, da espionagem.
Citizenfour é o nome de código de
Edward Snowden no Documentário em que a cineasta e jornalista norte-americana
Laura Poitras resume em linguagem fílmica a estória do jovem informático, ex
agente da CIA, que revelou ao mundo a existência e o funcionamento do
monstruoso sistema de espionagem criado pela NSA, cujos tentáculos cobriam o
mundo.
O importante no filme não é a sua
qualidade, mas o desmascaramento da ameaça à humanidade.
Snowden estava em Hong Kong
quando, após cautelosos contatos por mails encriptados, aceitou encontrar-se
naquela cidade com Laura Poitras e o jornalista americano Glenn Greenwald,
colunista do diário britânico The Guardian. Sabendo que estava a ser vigiado,
entregou a ambos os documentos secretos em seu poder. Quando Greenwald, com a
sua anuência, começou a publicá-los em The Guardian, ficou transparente que o
chamado sistema de Vigilância da NSA, elogiado pelo presidente Obama, é, na
realidade, uma poderosa máquina de espionagem de dimensão planetária. O
escândalo adquiriu proporções mundiais quando o Washington Post e o semanário
alemão Der Spiegel e a BBC decidiram também divulgar provas indesmentíveis das
atividades ilegais da NSA, criminosas segundo o direito internacional. Até a
chanceler Ângela Merkel, entre muitos outros aliados dos EUA (incluindo Dilma
Roussef e o próprio Cameron) era alvo da espionagem da NSA.
Obama sentiu a necessidade de
intervir e pediu desculpas a Merkel, e ela, tão hipócrita como o americano,
simulou acreditar na garantia de que não voltaria a ser espiada pela NSA.
O filme ilumina bem o cinismo do
presidente dos EUA, mais perigoso para a humanidade do que Reagan e os Bus. Não
somente atacou agressivamente Snowden, afirmando que não era «um patriota»,
como deu luz verde à perseguição judicial iniciada ao ex funcionário da NSA.
Para o incriminar acharam que o Patriot Act era insuficiente e foram
desenterrar uma lei da época da Primeira Guerra Mundial, que visava desertores
e terroristas. No Senado e na Câmara dos Representantes chegaram a exigir-lhe a
cabeça, e nos grandes media tornaram-se rotineiros os apelos para que fosse
assassinado.
Em Hong Kong, Snowden
apercebeu-se de que se permanecesse ali as suas probabilidades de sobreviver
eram mínimas. Retiraram-lhe inclusive o passaporte americano.
O documentário de Laura Poitras
descreve os esforços de Greenwald e outros amigos para o tirarem da China
enquanto pedia asilo a muitos países. A ajuda de Sónia Bridi, uma jornalista do
Wikileaks, de Julian Assange, foi decisiva para o meterem num avião da Aeroflot
que o levou a Moscovo. O desfecho da estória é bem conhecido. Snowden
permaneceu na área internacional do aeroporto internacional daquela cidade, até
que finalmente o governo de Putin, resistindo às pressões de Washington, lhe
concedeu asilo na Rússia. Ali se encontra ainda.
O escasso número de espectadores
que o filme de Laura Potras, premiado com um Óscar, tem atraído em Portugal é
esclarecedor da dificuldade, mencionada no início deste artigo, da desmontagem
da máquina de desinformação do imperialismo. O sistema dos Cinco Olhos que
transforma a mentira em verdade - no qual o Reino Unido, o Canadá, a Austrália
e a Nova Zelândia participam como cúmplices - tem aliás colaborado ativamente
com a NSA.
Mas o diabolismo da espionagem
mundial da Agencia de Segurança norte americana funciona também como incentivo
à luta contra a engrenagem do sistema de poder que gradualmente está
transformado os EUA num Estado totalitário com matizes neofascistas,
Não instalou campos de
concentração, não construiu câmaras de gás e fornos crematórios mas, sob uma
enganadora fachada democrática, faz do seu sistema de espionagem o instrumento
de um poder hegemónico, desencadeia guerras genocidas, saqueia os recursos
naturais de dezenas de povos e semeia o terrorismo pelo mundo. Neste início do século
XXI os seus atos e ideologia justificam o qualificativo de IV Reich.
Vila Nova de Gaia, 21 de Março de
2015
fonte: site PCB
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