Brasil - SOS Mata Atlântica - Foi
aprovado na tarde de quarta-feira (3/4) o relatório final do projeto de lei que
quer abrir a Estrada Caminhos do Colono, que corta o Parque Nacional do Iguaçu.
Com 18 quilômetros de extensão, a estrada corta a área mais protegida do
Parque, na qual é proibida a visitação de turistas. Para legalizar a estrada, o
Projeto de lei nº 7123, de 2010, de autoria do deputado ruralista Assis do
Couto (PT-PR), incluiu o conceito estrada-parque na Lei do Sistema Nacional de
Unidades de Conservação (SNUC).
O projeto foi aprovado por uma
comissão especial criada na Câmara dos Deputados e segue agora para a Mesa da
Câmara, onde ficará por 5 sessões antes de ser encaminhado ao Senado, sem
necessidade de ser votado em plenário. Só será encaminhado ao plenário caso
algum deputado entre com requerimento durante algumas dessas sessões.
"Este é mais um atentado
contra o meio ambiente e a sociedade. É um patrimônio da humanidade que está
sob forte ameaça", lamenta Mario Mantovani, diretor de Políticas Públicas
da Fundação SOS Mata Atlântica, que acompanhou a votação ontem. "Restam
apenas 7,9% da Mata Atlântica original e o pouco que sobrou pode ser devastado
com iniciativas como essa de deputados ruralistas e a omissão do governo",
afirmou ele.
Malu Ribeiro, coordenadora de
projetos da Fundação SOS Mata Atlântica e especialista em estradas-parque,
critica a forma como o processo vem sendo conduzido. "Trata-se de enorme
agravante o fato da Câmara especial aprovar o projeto de lei sem um estudo
técnico e científico e de impactos ambientais para o parque. Isto não
representa um conceito de estrada-parque, com características especiais. Neste
caso, é a abertura de uma ferida, um caminho para a devastação, aumentando as
ameaças a um parque que é referência e um grande patrimônio do país", diz
ela.
Na opinião de Ivy Wiens, do
Instituto Socioambiental e coordenadora-geral da Rede de ONGs da Mata
Atlântica, sob o pretexto de levar o país ao "desenvolvimento", mais
de 400 projetos de lei estão em análise no Congresso Nacional para promover um
retrocesso gigantesco na legislação nacional.
"O exemplo mais recente é o
projeto de lei que permite a abertura da Estrada do Colono, no Parque Nacional
do Iguaçu, e que teve parecer favorável aprovado na tarde de ontem. Além de
trazer impactos a um dos biomas mais ameaçados do planeta, a Mata Atlântica, as
discussões sobre este projeto estão acontecendo em uma Comissão Especial que
desobriga que seu conteúdo seja amplamente discutido em plenário", afirma
ela.
Segundo Ivy, a Rede de Ongs da
Mata Atlântica, articulação que reúne mais de 200 organizações em 17 Estados,
repudia a forma como as questões socioambientais têm sido discutidas no
Congresso Nacional e, na certeza de que esse tipo de postura não é unânime
entre deputados e senadores, está iniciando contato com diversos parlamentares,
para que esses retrocessos sejam barrados. "O Brasil tem um potencial
enorme de geração de riqueza e de garantia à boa qualidade de vida,
aproveitando as cadeias produtivas da sociobiodiversidade, mas o que vemos são
nossos parlamentares acabando com este patrimônio, com posturas
ultrapassadas", lamenta.
Para Miriam Prochnow,
coordenadora de Políticas Públicas da Apremavi (Associação de Preservação do
Meio Ambiente e da Vida), "a aprovação desse projeto é mais um grande
retrocesso ambiental, especialmente porque ele vem travestido sob a forma de um
instrumento necessário às Unidades de Conservação, que é a figura da
estrada-parque".
"A estrada do colono não
pode ser classificada como uma estrada-parque, porque sua reabertura, visando
atender interesses puramente privados, trará um impacto irreparável à única
área conservada que sobrou no extremo oeste do Paraná e que beneficia toda a
comunidade, com a prestação de serviços ambientais. No caso do Parque Nacional
do Iguaçu já existe uma verdadeira estrada-parque que é aquela que leva às
Cataratas. Reabrir a Estrada do Colono significa também abrir o Parque para que
contrabandistas, traficantes de drogas e de armas possam se valer da floresta
como rota de contrabando e de fuga, destruindo a floresta e dificultando o
trabalho dos órgãos de controle e fiscalização", ressalta Miriam.
Uma ferida na floresta
A Estrada do Colono foi aberta no
início do século XX para ligar as cidades de Serranópolis do Iguaçu e Capanema,
no sudoeste do Paraná, cortando o Parque Nacional do Iguaçu, criado em 1939.
Primeiramente uma trilha, o
trecho se transformou em estrada de terra nos anos 50 e quase chegou a ser
asfaltado nos anos 80. A estrada foi oficialmente fechada pelo governo federal
em 2001, o que gerou uma onde de ações na Justiça para reabrir a passagem. Em
2013, a disputa chegou à Câmara dos Deputados, incentivada pela bancada
ruralista.
Patrimônio ameaçado
Segundo o site
www.cataratasdoiguacu.com.br, o Parque Nacional do Iguaçu abriga o maior
remanescente de Mata Atlântica da região sul do Brasil e protege uma riquíssima
biodiversidade, constituída por espécies representativas da fauna e flora
brasileiras, das quais algumas ameaçadas de extinção.
O Parque do Iguaçu foi a primeira
Unidade de Conservação do Brasil a ser instituída como Sítio do Patrimônio
Mundial Natural pela UNESCO, no ano de 1986. Unido pelo rio Iguaçu ao Parque
Nacional Iguazú, na Argentina, o Parque integra o mais importante contínuo
biológico do Centro-Sul da América do Sul, com mais de 600 mil hectares de
áreas protegidas e outros 400 mil em florestas ainda primitivas,
responsabilidade ímpar para ações conjuntas entre brasileiros e argentinos nos
esforços de preservação deste tão importante patrimônio mundial.
Fonte: site: diárioliberdade. org
Nenhum comentário:
Postar um comentário