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quinta-feira, 29 de março de 2012

No século XXI sem banheiro.


Ninguém nega hoje a liderança da Índia ou o fato de ela ocupar posições próximas da liderança mundial em muitas estefas de vital importância. A Índia faz parte dos países com os mais altos ritmos do desenvolvimento econômico. É o país com a maior classe média do mundo. É também a maior importadora de armas do planeta. O papel da Índia nos assuntos mundiais e suas pretensões à liderança regional e, em perspetiva, mundial, puseram-na entre os países que hoje em dia determinam as tendências fundamentais da política global.

Mas, como é que estes êxitos inegáveis se refletem na vida da maioria da população indiana? Porque, infelizmente, a Índia figura entre os líderes mundiais também pelo alto nível de estratificação social. Ao lado de pessoas muito ricas, que se gabam de seu luxo, centenas de milhões de pessoas continuam vivendo na pobreza, ganhando menos de um dólar por pessoa, por dia, e privadas de acesso às comodidades mais elementares.

A jovem camponesa Anita Bai Narre, do Estado de Madhya Pradesh, transformou-se, nas últimas semanas, em quase heroína nacional. Ela mereceu uma audiência do Presidente da Índia, Pratibhi Patil, ganhou um prêmio de 500000 rupias ($10 000), e sua fotografia foi publicada em todos os principais jornais indianos. Porque? Simplesmente porque, depois de casar, se negou a viver na casa dos sogros, que não tinha banheiro.

O que teria sucedido se este passo não tivesse sido apenas por Anita mas sim por todas as jovens indianas recém-casadas? Pois, de acordo com os dados do último recenseamento, 53% das casas na Índia não têm banheiro, chegando este ìndice a 70% nas zonas rurais.

A  carência de elementares comodidades nas casas indianas é agravada ainda mais pela carência de banheiros públicos, sobretudo femininas. Segundo escreve o The New York Times, Nova Delhi tem mais de 1500 banheiros públicos masculinos e somente 132 femininos (muitos dos quais praticamente não funcionam).

Boris Volkhonski, perito do Instituto de Pesquisas Estratégicas da Rússia, assinala:

"Os estrangeiros que visitam a Índia ficam literalmente chocados ao ver que os indianos, sem vergonha alguma, fazem as necessidades diretamente à beira da via pública. Eu próprio, ao visitar a Índia por primeira vez, nos anos 80, sofri um choque fortíssimo quando visitei a mesquita de Jama-Masjid, de Nova Deli, em fins de setembro. Fazia cerca de 30 graus, era uma sexta-feira e a mesquita estava cheia de gente. A meio-caminho entre a cerca e o edifício principal da mesquita compreendi que não conseguirei dar um passo nem para diante nem para trás e ia desmaiar devido a um intenso mau cheiro. A única coisa que me manteve em pé foi o fato de ver onde poderia cair, a perspetiva de ficar deitado no meio dessa sujeira obrigou-me a controlar meus sentidos".

Desde então, a situação não mudou muito. Há dias, Jairam Ramesh, ministro da Água Potável  (que acumula também o cargo de ministro do Desenvolvimento Agrícola), formulou a imensa tarefa de resolver este problema nos próximos 10 anos. “Precisamos de uma revolução social para eliminar esta mancha da nossa sociedade”, disse .


Os organismos internacionais não são, porém, tão otimistas. O recente relatório da UNICEF e OMS afirma que a Índia só poderá assegurar condições sanitárias dignas à população em 2054 e, aos habitantes dos Estados de Madhya Pradesh e Orissa, só no próximo século. Mas esta situação se repercute diretamente no desenvolvimento econômico das regiões. Por exemplo, a falta de banheiros em Orissa polui as águas costeiras do Golfo de Bengala, o que, por sua vez, impede o desenvolvimento do colossal potencial turístico desse belíssimo Estado.

Por incrível que pareça, o número de telefones por pessoa, na Índia, é maior que o número de banheiros. Segundo os dados do já mencionado recenseamento, em 63,2% das casas indianas há telefones, seja de linha fixa, seja celulares. Este fato reflete uma das contradições da etapa contemporânea de desenvolvimento da Índia: resulta mais fácil garantir à população tecnologias de ponta do que comodidades elementares.

fonte: voz da Rússia-  B. Volkhonski


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