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quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Entrevista a André Sarmento, um dos 73 presos durante a ocupação da reitoria da USP.


A entrevista que segue abaixo com André Sarmento, realizada pela Causa Operária, denota o grau de truculência do governador tucano Geraldo Alckmin o grande responsável pelos atos de violência típicas do nazifascismo- ideologia maldita e anti-democrática- que norteou as ações de muitos ditadores pelo mundo e que tem, e isto é certo, delineado vários atos e medidas do governador tucano

O conluio entre os invasores-  Polícia, mídia, jornais e governo tucano- ficou assaz nítida a medida que os acontecimentos eram narrados pelo PIG  e seus colaboradores e difusores mais assíduos, através daquela medonha e vergonhosa  perspectiva única.     Realmente foi algo extremamente hediondo a violência desferida pelos policiais com uma arsenal que lembrou  uma verdadeira guerra.    Mais uma mancha no já famigerado , deletério, e anti-democrático  governo do PSDB  paulista.  




Todo o nosso apoio aos jovens que lutam por um mundo melhor.   Não abandonem essa bandeira,.  Façam como a juventude  estudantil chilena:    gritem, lutem, lutem    (... )   e avancem!                 O Brasil  precisa de vocês!

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PCO - André Sarmento é militante da AJR e do PCO e acompanhou todo o processo de luta na USP, desde o confronto entre os estudantes e a polícia no dia 27 de outubro até a ocupação do prédio da FFLCH (Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da USP) e da reitoria da universidade.


Estava no prédio da reitoria quando este foi invadido pela polícia que, a mando do governo do Estado e da reitoria da USP, reprimiu o movimento de luta dos estudantes

Causa Operária: Como foi a ação da polícia para desocupar a reitoria?

André Sarmento: A ação da reitoria foi completamente desproporcional em relação à ação do movimento estudantil. A ação contou com cerca de 400 policiais e por isso a reitoria foi cercada e completamente sitiada. Havia no local batalhões da Cavalaria, GATE, Tropa de Choque, entre outros. Foi uma verdadeira operação de guerra contra os estudantes.

Eles chegaram por volta das 5 horas da manhã e todos os policiais, sem exceção, estavam sem identificação. Só conseguimos identificar de qual grupo os policiais eram pelas suas fardas. E, ao contrário do que diz a imprensa capitalista, estavam armados com armas letais. Avistei soldados com submetralhadoras, revolveres e pistolas calibre 12. Sem falar nos escudos, bombas de gás lacrimogênio, balas de borracha etc.

Naquele momento, a reitoria estava sem luz, pois havia sido cortada há alguns dias por decisão da burocracia universitária.

Nós fomos surpreendidos, pois a maioria estava dormindo no momento da desocupação. Acordamos com o barulho da PM que batia o cassetete contra os escudos para fazer terrorismo. Parecia cena de filme de terror quando se escuta os tambores ao ser levado para a forca.

Quando perceberam do que se tratava, os companheiros começaram a acordar uns aos outros.

Algumas pessoas que estavam na portaria da reitoria fazendo guarda foram detidas e sequer conseguiram avisar os que estavam dentro do prédio da chegada da polícia.

A ação foi muito violenta. Nós conseguimos sair do prédio por uma rota de fuga, mas havia tantos policiais que fomos surpreendidos do lado de fora. Através da violência, eles juntaram todos em um canto e fomos colocados de costas para eles, sem poder olhar para os lados e nem conversar entre nós.

Durante todo o tempo ficavam com os cassetetes e escudos nas nossas costas para intimidar.

Nos levaram novamente para dentro da reitoria. E lá dentro, com todos já rendidos, a repressão continuou. Nos obrigaram a sentar em cacos de vidro, pois eles quebraram muitos vidros para entrar no local. Fomos todos revistados e o tempo todo os policiais se dirigiram a nós fazendo ameaças.

O mais aterrorizante foi quando eles separaram os homens das mulheres. Elas foram trancadas em um cômodo e cercadas pelos policiais. Ouvíamos gritos desesperados daquelas companheiras.

Neste instante, alguns estudantes homens se dirigiram aos policiais perguntando quem eram os responsáveis pela operação, no entanto, eles não apenas não responderam como tentaram nos intimidar mais uma vez. Diziam coisas como: "Cala a boca, você não sabe que as mulheres são histéricas?"; "Aqui quem manda é a gente". E outros insultos e ameaças.

Alguns companheiros chegaram a ser algemados. Outro colega foi jogado no chão e teve outro que após um golpe de um policial teve o supercílio cortado.

Para impedir que registrássemos estas cenas e que pudéssemos manter contato com pessoas de fora mandaram que todos desligassem os celulares.

Fora isso, confiscaram o material de alguns estudantes que conseguiram filmar a ação da PM ou tiveram que apagar os registros.

Uma ação típica da ditadura militar.

Além disso, a polícia quebrou muitas coisas para incriminar o movimento estudantil. Inclusive, locais que ficaram fechados e inacessíveis para os estudantes durante a ocupação foram arrombados pelos policiais.

Causa Operária: Como os estudantes reagiram à invasão policial?

André Sarmento: Como a maior parte foi pega de surpresa não conseguíimos ter nenhuma grande reação. Seria uma luta desproporcional. Seriam pouco mais de 70 pessoas contra centenas armados até os dentes. Alguns companheiros conseguiram fugir.

Nossa principal atitude foi nos agruparmos para impedir que não ocorresse algo como alguém isolado ser vítima de uma violência policial ainda maior.

A gente se agrupar para evitar uma ação mais violenta por parte da polícia foi uma atitude espontânea.

Causa Operária: A imprensa capitalista fez uma ampla campanha atacando a ocupação, alegando que os estudantes depredaram a reitoria, no entanto, as imagens das próprias emissoras mostram que a polícia entrou no prédio quebrando diversas coisas. Você presenciou isto?

André Sarmento: Presenciei isso, sim. Vi cenas deste tipo quando estava dentro do prédio da reitoria. E quando estávamos lá fora dava para escutar o som de portas sendo quebradas.

Presenciei portas sendo quebradas, arrombadas; vidros sendo quebrados.

Inclusive, esta cena que a polícia está mostrando de cadeiras viradas e outros móveis quebrados foi resultado da sua própria ação.

A única coisa que fizemos dentro da reitoria foi pintar as paredes com palavras de ordem, algo que pode até ser considerado uma intervenção artística. Pintamos dizeres contra a PM, contra a privatização da USP, contra a repressão etc.

Causa Operária: Estudantes denunciaram que mesmo pessoas que não participavam da ocupação foram detidas e que o CRUSP (Conjunto Residencial da USP) foi cercado pela PM. O que você sabe a respeito?

André Sarmento: Quando estávamos dentro da reitoria sendo presos pela polícia fui surpreendido com a presença de companheiros que eu sabia que não estavam dormindo na reitoria naquela noite. Foi o caso do companheiro Rafael, morador do CRUSP. Ele era membro da comissão de negociação com a reitoria e se apresentou para servir de intermediador entre os estudantes e a PM. No entanto, acabou preso.

Estas denúncias são verdadeiras e podemos ver que isso foi feito de caso pensado. Pessoas que se aproximaram da ocupação, a maioria delas para protestar contra a violência policial, foram presas.

Teve uma companheira que foi presa e não estava participando da ocupação. Ela foi arrastada para dentro da reitoria e acho que de todos nós ela foi a mais torturada.

Teve outro rapaz que estava do lado de fora e também foi preso. Ele estava filmando a ação da polícia e foi reprimido por isso.

A ação não foi apenas contra os ocupantes, mas contra todos os estudantes. Fizeram isso para impedir a reação por parte dos estudantes contra a invasão.

Existia uma forte tendência dos estudantes do CRUSP a descer para protestar. Para impedir, a polícia jogou bomba de gás lacrimogêneo contra as pessoas e prendeu quem estava participando de forma mais ativa da mobilização, mesmo não estando dentro do prédio da reitoria naquela noite.

Causa Operária: Depois de detidos os estudantes continuaram a ser ameaçados?

André Sarmento: Sim. Esta companheira que citei anteriormente estava questionando a ação da polícia e foi trazida para dentro da reitoria por isso. Eu vi ela sendo jogada no chão e amordaçada. Colocaram um pano na boca dela para força-la a parar de gritar, assim como faziam durante a ditadura militar.

Isso causou uma comoção em todos nós e acabou unificando todos para que nos mantivéssemos firmes durante a ação da polícia.

Outro companheiro foi algemado por não aceitar o tratamento dado pela PM.

A todo momento os policiais falavam que não existia Lei, pois a Lei eram eles e que não adiantaria a gente reclamar. Ficavam nos agredindo com cassetete o tempo todo.

No trajeto para a delegacia eles falavam que a polícia deveria entrar no campus mesmo e que eles gostariam de agir na USP como eles fazem em Paraisópolis.

As ameaças psicológicas eram deste tipo.

Causa Operária: Os estudantes presos fizeram várias denúncias sobre a ação policial. O que você ouviu enquanto estava com eles na delegacia?

André Sarmento: Tomei conhecimento de uma companheira que foi presa grávida e que foi submetida a esta situação.

Foi negada assistência médica a um companheiro que teve o supercílio cortado por um golpe dado por um policial. Na delegacia, ele pediu para ir no médico e a escrivã disse para ele o seguinte: "O mais próximo que temos daqui é o IML (Instituto Médico Legal) e você não está morto. Pelo menos por enquanto."

Causa Operária: Quanto tempo vocês ficaram detidos? O que aconteceu na Delegacia e por que demoraram para liberar os estudantes?

André Sarmento: Nós ficamos detidos por quase 24 horas. Fomos presos a 5 horas da manhã e saíamos depois das 4 horas da manhã do dia seguinte.

Não recebíamos informações na delegacia. As pessoas que deveriam nos informar se negavam a falar. Ainda por cima nos intimidavam. Repetiam o tempo todo que não existia Lei, que se não nos "comportássemos" seriamos agredidos.

Em boa parte do tempo, nossa cela foi o ônibus. Ficamos sem água e comida por horas. Nos negaram até o direito de nos comunicarmos com as pessoas de fora pelo celular e os jornalistas não podiam chegar perto do local.

Em um primeiro momento, fomos informados que assinaríamos apenas um termo circunstancial e que depois seríamos liberados. Mas isso mudou e nos dividiram em grupos de cinco pessoas para poder nos isolar e impedir que tomássemos ciência do que ocorria.

Só ficamos sabendo que seríamos processados por danos ao patrimônio público e desacato à ordem judicial quando um escrivão, sem querer, deixou escapar a informação. Chegaram a nos enquadrar nos crimes de formação de quadrilha e crime ambiental.

Sobre isso aconteceu algo importante. Os próprios funcionários da delegacia, e até mesmo um delegado, começaram a afirmar que a ordem para nos processar por este motivo vinha "de cima", ou seja, do governo do estado.

O que é mais absurdo é que tentaram alegar que nós fomos pegos em flagrante. Como, se estávamos dormindo? Seria a primeira vez que mais de setenta pessoas são pegas em flagrante dormindo.

Durante os depoimentos, fomos instigados a produzir provas contra nós mesmos. Por isso, todos os 73 presos políticos falaram que responderiam apenas em juízo. O tratamento dado aos estudantes foi algo inadmissível.

Além disso, as perguntas eram feitas para nos incriminar. Por exemplo, nos questionaram sobre coquetéis molotovs que supostamente teriam sido achados na reitoria. Eu estive na ocupação e vi que não havia nada disso lá. Nos perguntaram por que a gente tinha feito aquilo. Se agimos sobre influência de entorpecentes, se já tínhamos participado de outros movimentos etc.

Demorou muito porque fizeram um esquema para tentar ao máximo incriminar os estudantes e, através destas artimanhas, produzir provas.

O interessante é que em diversos momentos nós fazíamos reuniões no ônibus e discutíamos a situação.

Em uma destas discussões produzimos uma nota política intitulada de "Nota dos 73 presos políticos da USP" que denunciava esta situação. Depois desta nota o tratamento da polícia dado a nós foi modificado. Passamos a receber informações e ter contato com a imprensa.

Gostaria de salientar que não foi encontrado drogas na ocupação, o que mostra o grau de mentiras da imprensa capitalista.

Causa Operária: O que dizia esta nota?

André Sarmento: Em primeiro lugar, dizia que estava sendo realizada uma prisão arbitrária.

Em segundo lugar, que aquele fato fazia parte de um processo de repressão geral dentro da universidade e que era resultado da luta contra a privatização.

Denunciava toda a situação a que os estudantes foram submetidos e fazia um chamado a todos para lutarem contra a PM, Rodas e o processo de privatização da USP. Deixando claro que aqueles 73 estudantes e trabalhadores que estavam presos faziam parte de um movimento que lutaria até as últimas consequências por estas questões.

  fonte:   Diario Liberdade.

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