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segunda-feira, 4 de setembro de 2023

Kollontai: "A Prostituição e as maneiras de combatê-la"

 

"A Prostituição e as maneiras de combatê-la"      por Alexandra Kollontai

Camaradas, a questão da prostituição é um assunto difícil e espinhoso que tem recebido pouquíssima atenção na Rússia Soviética. O sinistro legado de nosso passado capitalista burguês continua a envenenar a atmosfera da república operária e afeta a saúde física e moral do povo trabalhador da Rússia Soviética. É verdade que nos três anos da revolução a natureza da prostituição tem, sob a pressão das mudanças econômicas e sociais, alterado de certa forma. Mas ainda estamos longe de nos ver livres deste mal. A prostituição continua a existir e ameaça o sentimento de solidariedade e camaradagem entre os homens e mulheres trabalhadoras, os membros da república operária. E este sentimento é a fundação e a base da sociedade comunista que estamos construindo e tornando uma realidade. É hora de pensar e prestar atenção às razões por trás da prostituição. É hora de encontrarmos maneiras e meios nos livrarmos de uma vez por todas deste mal, que não tem lugar em uma república operária.

Nossa república operária até então não criou leis direcionadas à eliminação da prostituição, e nem ao menos lançou uma fórmula clara e científica sobre a visão de que a prostituição é algo que fere o coletivo. Sabemos que a prostituição é um mal, também temos conhecimento de que no momento, neste período transicional com todos os seus problemas, a prostituição se tornou extremamente difundida. Mas varremos tal problema para de baixo do tapete, temos estado em silêncio sobre isso. Isto é, parcialmente, por conta das atitudes hipócritas que herdamos da burguesia, e parcialmente por causa de nossa relutância em considerar e aceitar os danos que a prostituição em larga escala causa à coletividade. E nossa falta de entusiasmo na luta contra a prostituição se refletiu na nossa legislação.

Nós ainda não passamos nenhum estatuto reconhecendo a prostituição como um fenômeno social prejudicial. Quando as velhas leis czaristas foram revogadas pelo Conselho de Comissários do Povo, todos os estatutos relativos à prostituição foram abolidos. Todavia nenhuma medida nova baseada nos interesses do trabalho coletivo foi introduzida. Deste modo as políticas das autoridades soviéticas direcionadas às prostitutas e à prostituição têm sido caracterizadas por diversidade e contradições. Em algumas áreas a polícia ainda realiza batidas policiais contra as prostitutas como nos velhos tempos. Em outros lugares, os bordéis existem abertamente. (A Comissão Interdepartamental sobre a Luta contra a Prostituição possui dados sobre isso.) E ainda existem algumas outras áreas em que as prostitutas são consideradas criminosas e são jogadas em campos de trabalho forçado. As diferentes atitudes das autoridades locais evidenciam a ausência de um estatuto claramente redigido. Nossa vaga atitude se tratando deste fenômeno social complexo é responsável, por uma série de distorções e desvios dos princípios subjacentes à nossa legislação e moralidade.

Sendo assim, nós devemos não somente confrontar o problema da prostituição, mas buscar uma solução que seja alinhada com nossos princípios básicos e com o programa de mudança social e econômica adotados pelo partido dos comunistas. Devemos, acima de tudo, definir claramente o que é a prostituição. A prostituição é um fenômeno que está intimamente ligado à renda não produtiva e que prospera na época dominada pelo capital e pela propriedade privada. As prostitutas, sob nosso ponto de vista, são mulheres que vendem seus corpos pelo benefício material – por comida decente, por vestimentas e outras vantagens; as prostitutas são todas aquelas que evitam a necessidade de trabalhar dando-se para um homem, seja em uma base temporária ou por toda a vida.


quarta-feira, 30 de agosto de 2023

A derrocada de Washington no Afeganistão é o prelúdio do desastre final da OTAN na Ucrânia

 

O fato gritante – absurdamente ignorado pelas mídias ocidentais – é que a luta do Afeganistão para se recuperar é o resultado dos 20 anos de destruição que os EUA e a OTAN infligiram àquele país.    

                

Esta semana fazem dois anos que os Estados Unidos e a OTAN abandonaram o Afeganistão, deixado em ruínas. O país é assolado pela pobreza e pelo impacto devastador da guerra. O mesmo destino aguarda a Ucrânia, mas numa escala muito maior.

A principal diferença provável é que as consequências políticas e militares para o bloco liderado pelos EUA serão inevitavelmente calamitosas para as presunções de poder imperial de Washington.

Há dois anos, a 15 de agosto de 2021, os rebeldes talibãs invadiram a capital afegã, Cabul, derrubando o presidente apoiado pelos EUA, Ashraf Ghani, que fugiu do país. No final desse mês, todas as forças americanas e aliadas da OTAN se retiraram do Afeganistão, numa retirada caótica e apressada que viu pessoas desesperadas agarradas ao trem de aterragem dos aviões quando estes descolavam das pistas. Foi um desastre sob a direção do Presidente dos EUA, Joe Biden.

O abandono forçado do Afeganistão marcou o fim de 20 anos de ocupação militar dos EUA naquele país da Ásia Central. Os americanos tinham invadido o país em novembro de 2001, numa duvidosa vingança pelos alegados ataques terroristas de 11 de setembro, ocorridos dois meses antes em Nova Iorque e na Pensilvânia e na sede do Pentágono, no estado da Virgínia. A narrativa oficial é inacreditável.

Seja como for, o atoleiro militar que Washington criou a seguir no Afeganistão tornou-se fútil e insustentável. Biden finalmente retirou o seu país da confusão, mas dificilmente merece elogios por encerrar uma "guerra sem fim".

Biden tentou tornar uma desgraça e de um episódio criminoso colossal numa virtude. É revelador que, mal os EUA repatriaram as suas tropas, o militarismo de Washington tenha voltado a atuar, alimentando o conflito na Ucrânia e intensificando a hostilidade contra a Rússia e a China.

Os talibãs lutaram contra os americanos e os seus parceiros criminosos da OTAN até à exaustão, apesar das esmagadoras probabilidades contra eles. O movimento islamita está no poder pela segunda vez, depois de ter governado o Afeganistão de 1996 a 2001, altura em que os americanos o invadiram sob a cínica bandeira da "Operação Liberdade Duradoura". Há que reconhecer que os americanos e os seus servos mediáticos ocidentais têm uma audácia total no engano orwelliano e na auto-ilusão.

domingo, 13 de março de 2022

As sanções de Washington destruirão a Europa, não a Rússia


                                                                                                    Pepe Escobar   (*)     

  O campo de batalha está traçado.

A lista negra oficial russa de nações sancionadoras hostis inclui os EUA, a UE, o Canadá e, na Ásia, Japão, Coreia do Sul, Formosa e Singapura (a única do Sudeste Asiático). Repare como a dita "comunidade internacional" continua a encolher.

 

O Sul Global deveria estar consciente de que nenhuma nação da Ásia Ocidental, América Latina e África se juntou ao comboio das sanções de Washington.

 

Moscou ainda nem sequer anunciou o seu próprio pacote de contra sanções. No entanto, um decreto oficial "Sobre a ordem temporária das obrigações para com certos credores estrangeiros" que permite às empresas russas liquidarem as suas dívidas em rublos, dá uma pista do que está para vir.

 

As contra-medidas russas giram todas em torno deste novo decreto presidencial, assinado no sábado passado, que o economista Yevgeny Yushchuk define como uma "mina terrestre de retaliação nuclear".

 

Funciona assim: para pagar empréstimos obtidos de um país sancionador que excedam 10 milhões de rublos por mês, uma empresa russa não tem de fazer uma transferência. Ela pede a um banco russo que abra uma conta correspondente em rublos sob o nome do credor. A seguir a empresa transfere rublos para esta conta à taxa de câmbio do dia e é tudo perfeitamente legal.

 

Pagamentos em divisas estrangeiras só passam pelo Banco Central numa base casuística. Eles devem receber autorização especial da Comissão Governamental para o Controlo do Investimento Estrangeiro.

 

O que isto significa na prática é que a maior parte dos cerca de US$478 mil milhões da dívida externa russa pode "desaparecer" dos balanços dos bancos ocidentais. O equivalente em rublos será depositado algures, em bancos russos, mas os bancos ocidentais, tal como estão as coisas, podem não ter acesso a ele.

 

É discutível se esta estratégia simples foi o produto daqueles cérebros não soberanistas reunidos no Banco Central russo. É mais provável que tenha havido contributos do influente economista Sergei Glazyev, um antigo conselheiro de topo do Presidente russo Vladimir Putin sobre integração regional: aqui está uma edição revista, em inglês, do seu ensaio inovador Sanctions and Sovereignty, que resumi anteriormente.

 

sexta-feira, 4 de março de 2022

A Rússia impede os EUA de desencadearem guerra biológica a partir dos seus laboratórios militares na Ucrânia

 

                                                                                              Vladimir Platov   ( * )  

Considerando a agitação iniciada pelos serviços   de inteligência dos EUA nos últimos tempos, quer na Ásia Central, na Transcaucásia ou noutras zonas limítrofes da Rússia e da China, está a aumentar o risco de um desastre biológico proveniente dos múltiplos laboratórios biológicos militares secretos instalados pelos EUA em regiões potencialmente instáveis do ponto de vista político e social.

 Quanto a isso, a questão de os EUA prepararem uma bomba-relógio biológica no Cazaquistão já foi levantada muitas vezes. O risco crescente de o Pentágono iniciar uma guerra biológica utilizando os mais de 400 laboratórios biológicos americanos localizados por todo o mundo e a necessidade de uma resposta clara ao risco de desastre biológico mundial a partir das instalações secretas dos EUA no estrangeiro tem sido repetidamente apontado. Afinal de contas, estes laboratórios biológicos têm cerca de 13.000 "empregados" que estão ocupados a criar estirpes de agentes patogénicos assassinos (micróbios e vírus) resistentes a vacinas.

Hoje em dia já não é segredo que os EUA criaram laboratórios biológicos em 25 países do mundo:   no Médio Oriente, África, Sudeste Asiático. Só no seio da antiga União Soviética existem laboratórios biológicos militares americanos na Ucrânia, Azerbaijão, Arménia, Geórgia, Cazaquistão, Quirguistão, Moldávia e Uzbequistão.


quarta-feira, 2 de março de 2022

Os crimes de guerra nazistas devem obter a condenação de todo o mundo.

 

                                                                                     Gennady Yushchenko (+} 


Tornou-se muito clara a tática punições dos nazistas batalhões, que sofrem a derrota no confronto com as tropas ЛНР-ДНР. É tudo a mesma tática de "terra arrasada", que realizaram fascistas ocupantes, deixando sob os golpes do exército Vermelho, com o território da união SOVIÉTICA, incluindo a Ucrânia. Os alemães explodiram Днепрогэс, destruíram centenas de fábricas, minas e pontes, queimaram dezenas de milhares de casas na Ucrânia.

 O mesmo estão fazendo os nazistas de "batalhões territoriais". Mesmo partindo de Donbass, eles continuam a bombardear a partir de 122 e 152 миллиметровых de armas da cidade e vilas deste sofredora da região. A cada dia morrem civis. Estes são crimes de guerra. O ocidente ainda não está tentando parar o fogo de bairros residenciais de Donbass, o que torna o "moralista" e "humanistas" da UE e dos EUA sócios crimes de guerra.

 

Tentando criar a impressão de que os culpados da morte de civis de pessoas é o exército russo, eles vão para um sujo provocação, raking da cidade, estão sob o seu controle. No centro de Kharkov, ocorreu uma grande explosão. Todos os "mundiais" de MÍDIA, totalmente controlados Washington, tocaram sobre a culpa da Rússia. Mas isso, obviamente, foi a subversão do veículo, начиненной centenas de quilos de explosivos, o que indica que os clientes e os autores do crime. Essa é a tática professam controladas CIA inúmeras organizações terroristas em todo o mundo.

 

O ocidente e o seu "terceira coluna" na Rússia protegem отъявленных os nazistas e os terroristas que tomaram o poder na Ucrânia e fizeram seus cidadãos reféns de suas nefastas русофобии e антисоветизма. Com reféns no verdadeiro sentido da palavra. Por exemplo, na cidade de Mariupol, cercada de exércitos ЛНР-ДНР, nazistas, dos regimentos "Básico" e "muito bom arraso" não permitem que os civis deixar a cidade. Бандеровцы colocam pontos de queima nos andares superiores das casas, das quais as pessoas não resolvem ir embora. Eles são transformados em escudos humanos para os nazistas dos punitivas unidades.

 

A desconstrução construtiva do modelo relações da Rússia com o Ocidente

                                                      Alastair Crooke [*]

Putin quer dizer precisamente o que diz: a Rússia está encostada à parede, e não há lugar algum para onde a Rússia se possa retirar agora – para eles é uma questão existencial.

 

O Ocidente já estava irado. E apoplético depois que o presidente Putin chocou os líderes ocidentais ao ordenar uma operação militar especial na Ucrânia, que está a ser amplamente descrita (e percebida no Ocidente) como uma declaração de guerra: "um ataque de choque e pavor afetando amplamente cidades em toda a Ucrânia". Na verdade, o Ocidente está tão furioso que o espaço da informação literalmente se bifurcou em dois: é tudo a preto e branco, sem cinzento.

 

Para o Ocidente, Putin desafiou Biden de forma abrangente: unilateral e ilegalmente “mudou as fronteiras” da Europa e agiu como uma “potência revisionista”, tentando mudar não apenas as fronteiras da Ucrânia, mas a atual ordem mundial. “Trinta anos após o fim da Guerra Fria, estamos enfrentando um esforço determinado para redefinir a ordem multilateral”, advertiu o alto representante da UE, Josep Borell. “É um ato de desafio. É um manifesto revisionismo, o manifesto para rever a ordem mundial”.

 

Putin é caracterizado como um novo Hitler e seus atos são considerados “ilegais”. Alega-se que foi ele quem rasgou o Acordo de Minsk II (ainda assim, as Repúblicas declararam sua independência em 2014, assinaram Minsk em 2015, e foi a Rússia que nunca assinou o acordo – e, portanto, não pode violá-lo). De facto, foram os EUA que efetivamente vetaram o processo de Minsk desde 2014 e a publicação da correspondência diplomática da Rússia em novembro de 2021 expôs que a França e a Alemanha também tinham pouca intenção de pressionar Kiev para qualquer implementação significativa. Assim, tendo concluído que um acordo negociado – conforme estipulado nos Acordos de Minsk – simplesmente não aconteceria, Putin determinou que não fazia sentido esperar mais antes de implementar a linha vermelha da Rússia.

 

O falecido Stephen Cohen escreveu sobre os perigos de um inqualificável maniqueísmo – e como o espectro de um Putin diabólico havia tão sobrecarregado e envenenado a imagem dele nos EUA que Washington não consegue pensar direito – e não apenas sobre Putin, mas sobre a Rússia em si mesma. O argumento de Cohen era que essa total demonização enfraquece a diplomacia. Como se distingue o que é diferente do diabólico? Cohen pergunta como isso aconteceu? Ele sugere que em 2004, o colunista do NY Times, Nicholas Kristof, inadvertidamente explicou, pelo menos parcialmente, a diabolização de Putin. Kristof lamentou-se amargamente de ter sido “enganado pelo Sr. Putin. Ele não é uma versão sóbria de Boris Yeltsin”.


terça-feira, 1 de março de 2022

Desnazificação da Ucrânia e o apodrecimento da Mídia.

 



   
            Batalhão Azov é uma força paramilitar de extrema-direita da Ucrânia


                                                                                                                                                                    

A primeira vítima da guerra são os meios de comunicação do ocidente e a liberdade de expressão. Praticamente todos tocam pelo mesmo diapasão.

Numa homogeneidade perfeita repetem a narrativa imperial de que se trata de uma guerra da Rússia contra a Ucrânia. Isto é falso. Trata-se, sim, de uma operação da Rússia contra a OTAN.

A Rússia está a travar uma batalha existencial contra o aparelho militar da OTAN ali existente e para desnazificar o país. Ela já venceu a primeira parte dessa operação:   mais de mil ativos militares e centros de comando ligados à OTAN foram destruídos. Falta a segunda parte, que é desnazificar o país. Mas nenhum dos meios de comunicação corporativos diz isso, pois a voz do dono é que manda.

Eles entretêm-se com fake news ridículas, como essa de apresentar como grande estadista um ex-comediante viciado em estupefacientes e títere de Washington.

Ou então a inflacionar qualquer manifestação insignificante da quinta coluna que existe dentro da Rússia.

Em contrapartida, ameaças reais à liberdade de expressão – como a proibição dos canais da RT e da Sputnik em vários países – não lhes merece qualquer reprovação.

Acompanham assim os serviçais governantes europeus que mandam iluminar edifícios públicos com luzes coloridas. A equação é perfeita:   políticos submissos + mídia orquestradas = modelação da opinião pública.


Fonte:  sites  Pátria  Latina  e  Resistir Info

01/março/2022

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Julgamento histórico pode definir o futuro das terras indígenas do Brasil

 




No dia 28/10, o Supremo Tribunal Federal (STF) pode iniciar o julgamento que definirá os rumos das demarcações das Terras Indígenas no Brasil. O que está em jogo é o reconhecimento ou a negação do direito mais fundamental aos povos indígenas: o direito a terra.

 

Há duas teses em disputa: de um lado, a chamada “teoria do indigenato”, que reconhece o direito territorial dos povos indígenas como “originário”, segundo os termos da Constituição; do outro lado, está uma proposta que restringe os direitos desses povos às suas terras ao reinterpretar a Constituição com base na tese do chamado ‘marco temporal’. Nessa interpretação, defendida por ruralistas, os povos indígenas só teriam direito à demarcação das terras que estivessem sob sua posse no dia 5 de outubro de 1988, data de promulgação da Constituição, ou que, nessa data, estivessem sob disputa física ou judicial comprovada.

 

Entenda o caso

 

Tramita no STF um pedido de reintegração de posse (Recurso Extraordinário 1.017.365) movido pela Fundação do Meio Ambiente do Estado de Santa Catarina (Farma) contra a Fundação Nacional do Índio (Funai) e indígenas do povo Xokleng, envolvendo a Terra Indígena Ibirama-Laklanõ, área reivindicada e já identificada como parte de seu território tradicional, também habitado por populações Guarani e Kaingang

 

O Recurso teve a repercussão geral reconhecida pelo plenário do STF em 2019. Isso significa que o que for julgado nesse caso servirá para fixar uma tese para todos os casos envolvendo demarcações de terras indígenas, em todas as instâncias do judiciário.

 

O que está em jogo?

 

Por isso, a decisão da Suprema Corte irá impactar o futuro de centenas de populações indígenas, já que a aplicação do marco temporal pode dificultar ainda mais as demarcações, indispensáveis à sobrevivência desses povos, à pacificação de conflitos territoriais históricos, além de coibir a violência resultante de invasões e atividades ilícitas, como grilagem de terras, garimpo e extração madeireira.

 

A existência dos povos indígenas isolados também estará ainda mais ameaçada caso a votação seja favorável à tese do marco temporal. Isso porque, por seu modo de vida nômade e avesso ao contato, é impossível comprovar a presença desses grupos em 5 de outubro de 1988 nas terras que hoje habitam ou que estivessem reivindicando formalmente o reconhecimento de seus territórios. O Estado brasileiro até hoje não conseguiu confirmar exatamente quantos são e onde estão essas comunidades especialmente vulneráveis.

 

sábado, 17 de outubro de 2020

Os ‘lugares obscuros’ dos EUA, o biopoder e a tortura sexual (II)

   A prática sistemática da tortura, da detenção e execução extrajudicial, a instalação de uma rede de “prisões secretas” de forma a iludir a vigilância humanitária são parte integrante da “guerra ao terror” invocada pelos EUA. Tal como outros aspectos dessa “guerra ao terror”, são na verdade formas normalizadas do mais bárbaro terrorismo de Estado.  

  Por Nazanin Armanian

 

Apesar de proibido na maioria dos países do mundo, o uso do terror e a tortura contra mulheres e homens na prisão não diminui, muito pelo contrário. Donald Trump, o presidente de uma democracia formal como os Estados Unidos, defende publicamente a tortura e ordena manter aberto o campo da detenção ilegal de Guantánamo. A que ponto conseguiram normalizar a apologia do terrorismo de Estado!

 

Nas prisões que este país administra, a tortura não é obra de “umas maçãs podres” caídas acidentalmente em Guantánamo, Abu Ghraib ou na prisão afegã de Bagram (”Jardim dos Deuses” em sânscrito): é estruturada, estudada e dirigida desde cima. Uma dezena de buracos obscuros, ampliados pelo golpe da Guerra contra o Terror, são a manifestação máxima daquilo que Michel Foucault narra: o espaço onde o biopoder se confronta diretamente com o corpo desnudado e aniquila até a alma do réu (e o pouco de alma que os seus algozes ainda teriam). O ataque ao mais íntimo dessas pessoas é apenas a cereja do sistema: segundo o Relatório da Comissão Histórica do Conflito e suas Vítimas da Colômbia, pelo menos 53 menores foram violadas pelos soldados dos Estados Unidos, que filmaram os abusos e venderam os vídeos como material pornográfico. As guerras são um bom negócio para os seus organizadores!

 

Embora alguns tipos de tortura já sejam conhecidos publicamente (privação de sono, calor e frio extremos, ser amarrado à cadeira alemã ou trancado durante semanas em caixões ou na casota de cão de um metro quadrado, entre outros), a tortura sexual é o que há de mais ocultado tanto pelos que a cometem como pelas vítimas, apesar de estar amplamente difundida pelo mundo.

 

Nesses espaços, depois de recebê-los com socos e pontapés, os carcereiros borrifam os seus reféns com gás de pimenta, arrancam-lhes a roupa, lançam-nos nas celas e sentam-se sobre seus corpos famintos para os imobilizar e para continuar a espancá-los. Alguns que narraram a sua passagem pelo inferno, afirmam que sentiram mais dor ao serem despojados das suas roupas do que por causa dos golpes. Pois, para grande parte da humanidade, que atribuiu um sentido moral ao vestuário, a nudez forçada é uma das agressões mais profundas que se pode sofrer e ser violada é a maior. Nunca superam o trauma físico e psicológico do ataque à sua dignidade sexual. Em Guantánamo, os presos, a princípio, lutaram com a única arma de que dispunham: lançar fezes sobre os guardas e cuspir-lhes. Foram derrotados a golpe de espancamentos e choques eléctricos, até se renderem.

Embora sejamos sinceros: os Estados Unidos não poderiam organizar o negócio do sequestro, tortura e destruição de nações inteiras sem a cooperação dos seus aliados.

Entre os países onde dispõem de masmorras estão Iraque, Afeganistão, Paquistão, Turquia, Azerbaijão, Quénia, Marrocos, Diego García, Egipto, Síria, Líbia, Tailândia, Polónia, Lituânia, Roménia e Kosovo, enquanto os países democráticos como o Reino Unido , Itália, Escócia, Espanha, Portugal, Finlândia ou Suécia, têm cooperado com esses atos terroristas autorizando à CIA-MI6 o sequestro de pessoas inocentes no seu solo e usar os seus aeroportos para esse peculiar tráfico de pessoas.

 

Mulheres nas masmorras dos EUA

 

O êxito enorme mas "secreto" do Vietname socialista.

 

                                                                                                                                 

                                                                                                          Por  André Vltchek

Há cerca de vinte anos, quando me mudei para Hanói, a cidade estava sombria, cinzenta, coberta de fumaça. A guerra terminara, mas permaneciam terríveis cicatrizes.

 

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Nota  do  blog:   Este é um artigo  relativamente recente  de Andre Vltchek (1962-2020), antes do seu falecimento em Istambul dia 22 de Setembro.  

Vltchek foi escritor, realizador de cinema, fotógrafo, jornalista, analista político e um ardente anti-imperialista.   A sua posição consequente e lúcida foi um exemplo do que deve ser um jornalismo combativo e de ideias, o qual se contrapõe ao jornalismo pasteurizado, medíocre  e vergonhoso  das  grande  mídias  corporativas  que nos mentem e omitem diariamente. 

Andre Vltchek foi, e  continua   sendo,  um exemplo para todos  aqueles  que  professam    acreditam  nos  ideias de  Liberdade  e  de  Justiça.

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Eu trouxe o meu veículo com tração às quatro rodas do Chile e insisti em conduzi-lo pessoalmente. Foi um dos primeiros SUV da cidade. Cada vez que conduzia, era atingido por scooters, que voavam como projéteis pelas amplas avenidas da capital.

 

Hanói era linda, melancólica, mas claramente marcada pela guerra. Havia histórias, histórias terríveis do passado. Nos "meus dias", o Vietname era um dos países mais pobres da Ásia.

 

Muitos patrimónios históricos, incluindo o Santuário My Son, no Vietname Central, eram basicamente vastos campos de minas, mesmo muitos anos após os terríveis bombardeios dos EUA. A única maneira de visitá-los era em veículos militares de propriedade do governo.

 

O prédio onde eu morava literalmente surgiu do infame "Hanói Hilton", a antiga prisão francesa onde os patriotas e revolucionários vietnamitas eram torturados, violentados e executados e onde alguns pilotos americanos capturados foram mantidos durante o que é chamada no Vietname a Guerra Americana. Da minha janela, podia ver uma das duas guilhotinas no pátio do que então se tinha tornado um museu do colonialismo.

 

A juíza mafiosa que instruiu o processo de Assange.

 

   
                                                                                         Por  Manlio  Danucci 


Emma Ar
buthnot é a juíza-chefe que, em Londres, instruiu o processo de extradição de Julian Assange para os Estados Unidos, onde o espera uma condenação a 175 anos de prisão por "espionagem", isto é, por ter publicado, enquanto jornalista de investigação, provas dos crimes de guerra dos Estados Unidos, entre os quais vídeos de massacres de civis no Iraque e no Afeganistão. No processo, confiado à juíza Vanessa Baraitser, foram rejeitados todos os requerimentos da defesa.



Emma Arbuthnot é a juíza-chefe que, em Londres, instruiu o processo de extradição de Julian Assange para os Estados Unidos, onde o espera uma condenação a 175 anos de prisão por "espionagem", isto é, por ter publicado, enquanto jornalista de investigação, provas dos crimes de guerra dos Estados Unidos, entre os quais vídeos de massacres de civis no Iraque e no Afeganistão. No processo, confiado à juíza Vanessa Baraitser, foram rejeitados todos os requerimentos da defesa.


Em 2018, depois de ter fracassado a acusação de violência sexual por parte da Suécia, a juíza Arbuthnot recusou-se a anular o mandado de prisão, de maneira a que Assange não pudesse conseguir asilo no Equador. Arbuthnot rejeitou as conclusões do Grupo de Trabalho das Nações Unidas sobre a detenção arbitrária de Julian Assange. Também não foram ouvidas e levadas em conta as afirmações do responsável da ONU contra a tortura: "Assange, detido em condições extremas e não justificadas de isolamento, apresenta os sintomas típicos de uma prolongada exposição a tortura psicológica".

Em 2020, enquanto milhares de detidos eram transferidos para prisão domiciliária como medida contra o coronavírus, Assange foi mantido na cadeia, exposto ao contágio em condições físicas muito débeis. No tribunal, Assange não pode contactar com os seus advogados, é mantido numa gaiola de vidro blindado e ameaçado de expulsão se abrir a boca. O que existe por detrás deste extremo rigor?



A juíza Arbuthnot usa o título de "Lady", uma vez que é casada com Lorde James Arbuthnot, conhecido como um "falcão" dos conservadores, antigo ministro das Adjudicações da Defesa, ligado ao complexo militar-industrial e aos serviços de espionagem. Lorde Arbuthnot é, designadamente, presidente da Comissão Consultiva britânica da empresa Thalès, multinacional francesa especializada em sistemas militares aeroespaciais e membro da comissão equivalente da empresa Montrose Associates, especializada em inteligência estratégica (cargos generosamente pagos). Lorde Arbuthnot integra a Henry Jackson Society (HJS), um influente "think tank" ou grupo de pressão transatlântico ligado ao governo e aos serviços de espionagem dos Estados Unidos.

No passado mês de Julho, o secretário de Estado norte-americano, Michael Pompeo, usou da palavra em Londres numa mesa-redonda da HSJ: desde que foi director da CIA em 2017, Pompeo acusa o website WikiLeaks, fundado por Assange, de ser "um serviço de espionagem do inimigo". Uma campanha no mesmo sentido é conduzida pela Henry Jackson Society, que acusa Assange de "semear dúvidas sobre a posição moral dos governos democráticos ocidentais com o apoio de regimes autocráticos".



No Conselho Político da mesma HSJ, ao lado de Lorde Arbuthnot, esteve até há pouco Priti Patel, actual ministro do Interior do Reino Unido, a quem está atribuída a extradição de Assange. A este grupo de pressão que conduz uma campanha de intoxicação pela extradição de Assange, sob a direcção de Lorde Arbuthnot e outras personalidades influentes, está substancialmente associada a juíza Lady Arbuthnot. Foi nomeada magistrada-chefe pela rainha em Setembro de 2016, depois de WikiLeaks ter publicado em Março os documentos mais comprometedores para os Estados Unidos. Entre eles os emails da secretária de Estado Hillary Clinton revelando o verdadeiro objectivo da guerra da NATO contra a Líbia: impedir que este país utilizasse as suas reservas de ouro para criar uma moeda pan-africana alternativa ao dólar e ao franco CFA, a moeda imposta pela França a 14 ex-colónias africanas.

O verdadeiro "delito" pelo qual Assange é julgado é o de ter aberto uma brecha no muro da omertà (secretismo mafioso) político-mediático que encobre os interesses reais que jogam a cartada da guerra operando no "Estado profundo". É este poder oculto que submete Assange a um processo, instruído por Lady Arbuthnot, que faz lembrar os da Santa Inquisição em termos de tratamento do acusado. Se for extraditado para os Estados Unidos, Assange será submetido a "medidas administrativas especiais" muito mais duras que as britânicas: ficará isolado numa pequena cela; não poderá contactar a família nem falar, nem mesmo através dos seus advogados uma vez que estes serão incriminados se derem conhecimento de qualquer das suas mensagens. Por outras palavras, será condenado à morte.

17/Setembro/2020

Ver também:

 Assange e a miséria do jornalismo , também reproduzido aqui

  ‘None Of It Reported’: How Corporate Media Buried The Assange Trial ("Nada disto é informado": Como os media corporativos enterraram o julgamento de Assange).

O original encontra-se em Il Manifesto e a tradução em www.oladooculto.com/noticias.php?id=856


Este artigo encontra-se em https://resistir.info/ .

 

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Acerca da Venezuela

                                                                                                                                           por Michael Hudson
                                                                         entrevistado por The Saker

Há uma grande controvérsia sobre o verdadeiro perfil da economia venezuelana e se a reforma e as políticas de Hugo Chávez e Nicolau Maduro foram cruciais para o povo da Venezuela ou se foram completamente equivocadas e precipitaram as crises atuais. Toda a gente parece ter opiniões muito fortes sobre isso. Mas eu não, simplesmente porque não tenho a perícia necessária para ter tais opiniões. Decidi então perguntar a um dos mais respeitados economistas independentes, Michael Hudson, por quem tenho imenso respeito e cujas análises (incluindo as que ele escreveu em parceria com Paul Craig Roberts ) parecem ser as mais confiáveis e honestas possíveis. Na verdade, Paul Craig Roberts considera Hudson o " melhor economista do mundo "!
Sou profundamente grato a Michael por suas respostas. Espero que contribuam para um entendimento honesto e objetivo do que realmente está a acontecer na Venezuela.

The Saker
The Saker: Poderia resumir o estado da economia da Venezuela quando Chávez chegou ao poder?

Michael Hudson: A Venezuela foi uma monocultura do petróleo. Suas receitas de exportação eram gastas em grande parte na importação de alimentos e de outras necessidades que poderiam ter produzido internamente. Seu comércio era em grande parte com os Estados Unidos. Portanto, apesar de sua riqueza em petróleo, a dívida externa aumentou.

Desde o início, as companhias petrolíferas americanas temiam que a Venezuela pudesse algum dia usar suas receitas petrolíferas para beneficiar a população em geral, em vez de permitir que a indústria petrolífera dos EUA e sua aristocracia compradora local desviassem sua riqueza. Assim, a indústria do petróleo – apoiada pela diplomacia dos EUA – manteve a Venezuela como refém de duas maneiras.

Em primeiro lugar, as refinarias de petróleo não foram construídas na Venezuela, mas em Trinidad e nos estados do sul da Costa do Golfo dos EUA. Isso permitiu que as companhias de petróleo dos EUA – ou o governo dos EUA – deixassem a Venezuela sem um meio de "avançar sozinha" e prosseguir uma política independente com seu petróleo, uma vez que precisava ter esse petróleo refinado. Não ajuda ter reservas de petróleo se não conseguir refiná-lo para que seja utilizável.

Segundo, os banqueiros centrais da Venezuela foram persuadidos a comprometer suas reservas de petróleo e todos os ativos do sector estatal de petróleo (incluindo a Citgo) como garantia colateral da sua dívida externa. Isso significava que, se a Venezuela não pagasse (ou fosse forçada a incumprimento por bancos norte-americanos que se recusassem a efetuar pagamentos atempados sobre a sua dívida externa), os detentores de títulos e grandes petrolíferas dos EUA estariam em posição legal de tomar posse dos ativos petrolíferos venezuelanos.

Tais políticas pró EUA tornaram a Venezuela uma oligarquia latino-americana tipicamente polarizada. Apesar de ser nominalmente rica em receitas petrolíferas, sua riqueza estava concentrada nas mãos de uma oligarquia pró EUA que deixava o seu desenvolvimento interno ser pilotado pelo Banco Mundial e pelo FMI. A população indígena, especialmente sua minoria racial rural bem como a subclasse urbana, foi excluída da participação na riqueza do petróleo do país. A recusa arrogante da oligarquia a compartilhar a riqueza, ou mesmo tornar a Venezuela auto-suficiente em elementos essenciais, tornou a eleição de Hugo Chávez um resultado natural.

The Saker: Poderia descrever as várias reformas e mudanças introduzidas por Hugo Chávez? O que ele fez de certo e o que fez de errado?

Michael Hudson: Chávez procurou restaurar uma economia mista para a Venezuela, utilizando suas receitas governamentais – principalmente do petróleo, é claro – para desenvolver infraestrutura e gastos internos em saúde, educação, emprego para elevar padrões de vida e produtividade para o seu eleitorado.

O que ele não conseguiu fazer foi sanar o desfalque sistemático e aumentar o rendimento do sector petrolífero. E foi incapaz de conter a fuga de capitais da oligarquia, levando sua riqueza e movendo-a para o exterior.

Isso não era "errado". Simplesmente leva muito tempo mudar a ruptura de uma economia – enquanto os EUA usam sanções e "truques sujos" para travar esse processo.

O Saker: Quais são,na sua opinião, as causas da atual crise económica na Venezuela – devem-se primariamente a erros cometidos por Chávez e Maduro ou a causa principal é sabotagem, subversão e sanções dos EUA?

Michael Hudson: Não há qualquer modo de Chávez e Maduro poderem ter seguido uma política pró venezuelana destinada a alcançar a independência económica sem incitar a fúria, a subversão e as sanções dos Estados Unidos. A política externa americana continua tão focada no petróleo quanto estava quando invadiu o Iraque sob o regime de Dick Cheney. A política dos EUA é tratar a Venezuela como uma extensão da economia estado-unidense, gerando um excedente comercial de petróleo para gastar nos Estados Unidos ou transferindo suas poupanças para bancos dos EUA.

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Conquistas soviéticas importantes ao mundo e à classe operária.

              Rodrigo  S 
É comum ouvir nas sociedades capitalistas que a União Soviética era atrasada em todos os aspectos:  social, político, cultural, econômico e técnico-científico. Existe uma tendência a ver o lado negativo do socialismo, e até mesmo de transformar em negativo um aspecto que na verdade é positivo, através da propaganda anticomunista.

Esse discurso é absorvido facilmente pela falta de contrapontos de qualidade, necessários, a esses mitos. O presente texto é uma tentativa de ser um desses contrapontos. Serão enumeradas diversas conquistas da União Soviética durante toda sua existência. Aqui nos focaremos apenas nessa experiência em particular, especialmente antes de uma série de reformas que pouco a pouco destruíram o socialismo na URSS, por ela ter se tratado de um grande marco da história do socialismo e igualmente o que tem o maior número de informações disponível.

Conquistas políticas e sociais
1. A República Socialista Federativa Soviética da Rússia foi o primeiro Estado proletário da História a se consolidar, num combate contra mais de 10 países capitalistas que tentaram parar a revolução socialista. Foram derrotados pelo Exército Vermelho.

2. A Rússia socialista foi o primeiro país a criminalizar o racismo. Existiam Soviets para todas as etnias e nacionalidades. Alguns eram compostos inteiramente por minorias étnicas como afrodescendentes, outros Soviets eram compostos inteiramente por judeus. Isso numa época em que nos países capitalistas ambos eram tratados com desdém, uma segregação violenta com vítimas mortais e genocídios. Vários artistas, intelectuais e ativistas negros elogiavam o tempo que passaram na União Soviética, por exemplo o ativista, sociólogo e historiador W.E.B. Du Bois, o cantor Paul Robeson, o boxeador Muhammad Ali, o poeta Claude McKay. Considerações sobre essas experiências podem ser encontradas no livro “Black in the USSR”, de Joy Gleason Carew; na autobiografia de Harry Haywood, “Black Bolshevik”; e também no livro de William Mandel, “Soviet But Not Russian: The Other Peoples of the Soviet Union”.

3. Até o fim da “Era Stalin”, as várias nacionalidades e etnias que compunham a URSS tinham a possibilidade (e eram, também, encorajadas) a utilizar o próprio idioma, continuar com seus próprios costumes e religiões. O Oblast Autônomo Judaico, por exemplo, foi criado em 1934 na cidade de Birobidjan.

4. O analfabetismo foi quase completamente erradicado em aproximadamente 20 anos após a revolução, por causa de uma ampla campanha promovida pelo partido. Antes, 80% da população era analfabeta, apenas 13% das mulheres podia ler. Até a Revolução Russa, apenas 250 mil russos tinham educação superior. Em 1959 esse número já ultrapassava a marca dos 13 milhões e 45 milhões com 7 a 10 anos de estudo. No Uzbequistão pré-revolucionário, 2% da população era alfabetizada; em 1968 o número sobe para 95%.

5. Não havia população desempregada ou sem-teto e a habitação não tinha os problemas que hoje conhecemos como comuns nos países capitalistas, onde impera a especulação imobiliária. A segregação de habitações por renda familiar.

6. Instituíram a equidade de gênero, com pagamentos iguais entre homens e mulheres na mesma função, direito de voto e de participação política direta (através dos Soviets) às mulheres, acesso à educação sem distinção de gênero (e também de etnia, nacionalidade ou religião). As mulheres se juntavam na construção do socialismo sem segregação e não eram impedidas de exercer as mesmas profissões dos homens.

7. A alimentação era planejada, com preços regulados e subsidiados pelo Estado, para garantir a necessidade das populações soviéticas, em primeiro lugar, ao invés do lucro por venda de excedentes.

8. Os livros, revistas e jornais também eram subsidiados para que tivessem um preço baixo, aumentando o acesso da população à literatura e à imprensa. O rádio, que foi uma invenção russa da época imperial, foi muito difundido e importante meio de divulgação cultural. O número de instituições culturais subiu de 32 mil em 1929 para 54 mil em 1933. Construíram-se palácios da cultura, primeiro em Leningrado, depois em centros industriais e culturais e nos kolkhozes (propriedades agrícolas coletivas com administração popular). Em 1913 havia 9 milhões de livros nas bibliotecas e 180 museus; em 1932 já havia 91 milhões de exemplares e 732 museus. A tiragem de jornais aumentou 300% de 1928 a 1933. Em todos os distritos editavam-se jornais locais, cerca de 3 mil das Estações de Máquinas e Tratores e mais de mil jornais de fábrica e empresa. Mais de 3 milhões de operários e camponeses eram correspondentes. Publicava-se nos 88 idiomas dos povos da URSS.

9. O sistema de saúde universal foi o primeiro no mundo. Nenhum outro país tinha tantos médicos per capita ou camas de hospital per capita. A expectativa de vida dobrou. O número de médicos era o dobro que nos EUA; em 1977 havia na URSS aproximadamente 35 médicos e 212 camas de hospital a cada 10 mil habitantes e nos EUA os números eram 18 e 63, respectivamente, a cada 10 mil habitantes. De acordo com o censo de 1913, a expectativa de vida era de apenas 35 anos, aproximadamente; mesmo com a Segunda Guerra Mundial, nos anos 50 a expectativa já havia subido para 55 anos e continuou a crescer até a marca dos 75 anos para mulheres e 65 para homens; na década de 90 houve a maior queda desse índice, que só voltou a se recuperar realmente em 2005.

10. Uma queda notável na mortalidade aconteceu ao mesmo tempo em que a industrialização e a urbanização crescia. Em Moscou, em 1913, a mortalidade por tuberculose, por exemplo, era de 22,6 a cada 10 mil habitantes; em 1938 já estava entre 10 e 12. Um a cada 4 médicos era especializado em tuberculose.
 
11. O sistema político-econômico era voltado para a defesa do trabalhador como classe dominante. Os sindicatos se tornaram ferramentas de poder político nas mãos dos trabalhadores, que então podiam vetar demissões e mudar o setor gerencial. Indiretamente, a Revolução alimentou a pressão, nos países capitalistas, por melhores condições de trabalho. Porém, nenhum sindicato no capitalismo é capaz de prover a mesma liberdade política que tinham os soviéticos.

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Venezuela rompe com o petrodólar.

                por Manlio Dinucci

A partir desta semana o preço médio do petróleo é cotado em yuan chinês", anunciou a 15 de Setembro o ministro venezuelano do Petróleo. Pela primeira vez o preço de venda do petróleo venezuelano deixa de ser cotado em dólares.

É a resposta de Caracas às sanções lançadas em 25 de Agosto pela administração Trump, mais duras que as da administração Obama em 2014: elas impedem a Venezuela de encaixar os dólares provenientes da venda do petróleo aos EUA, mais de um milhão de barris por dia, dólares até aqui utilizados para importar bens de consumo como produtos alimentares e medicamentos. As sanções impedem também o comércio de títulos emitidos pela PDVSA, a companhia petrolífera do Estado venezuelano.

Washington visa um duplo objetivo:   aumentar na Venezuela a penúria dos bens de primeira necessidade e, assim, o descontentamento popular, sobre o qual se apoia a oposição interna (subvencionada e sustentada pelos EUA) para abater o governo Maduro; colocar o Estado venezuelano em situação de incumprimento (default), ou seja, em falência, impedindo-o de pagar as prestações da dívida externa. Isso significa por em situação de falência o Estado que tem as maiores reservas petrolíferas do mundo, quase dez vezes maiores que as dos Estados Unidos.

Dessa forma, Caracas tenta subtrair-se às garras sufocantes das sanções, cotando o preço de venda do petróleo não mais em dólares dos EUA mas sim em yuan chinês. O yuan entrou há um ano no cabaz de moedas de reserva do Fundo Monetário Internacional (juntamente com o dólar, o euro, o yen e a libra esterlina) e Pequim está em vias de lançar contratos futuros (contratos a termo) de compra-
venda de petróleo em yuan, convertíveis em ouro. "Se o novo contrato de futuros ganhar consistência, corroendo nem que seja uma parte do poder esmagador dos petrodólares, isto seria um golpe fulminante para a economia americana", comenta o diário Il Sole 24 ore.

sábado, 3 de junho de 2017

Como a Mídia inventa “ repressão” na Venezuela.

            por Thierry Deronne

Enfiemo-nos na pele de uma pessoa que apenas dispusesse dos meios de comunicação diário para se informar sobre a Venezuela e que dia após dia se falasse de ‘manifestantes’ e “repressão”. Como não entender que essa pessoa acreditasse que a população está na rua e que o governo a reprime?

Porém, não há nenhuma revolta popular na Venezuela. Apesar da guerra econômica a grande maioria da população vai para as suas ocupações, trabalha, estuda, sobrevive. É por isso que a direita organiza as suas marchas com início nos bairros ricos. É por isso que recorre à violência, ao terrorismo e se localiza nos municípios de direita. Os bairros venezuelanos são em 90%, bairros populares. Compreende-se a enorme lacuna: os media transformam as ilhas sociológicas das camadas ricas (alguns % do território) em “Venezuela”. E 2% da população em “população”. [1]

A ex-presidente argentina Cristina Fernandez, depois de Evo Morales, denunciou: “a violência é utilizada na Venezuela como metodologia para alcançar o poder e derrubar um governo” [2]. Do Equador, o ex-presidente Rafael Correa recordou que “a Venezuela é uma democracia. É através do diálogo, com eleições, que devem ser resolvidas as diferenças. Muitos casos de violência vêm claramente dos partidos da oposição [3]. Esta também é a posição do Caricom, que inclui os países do Caribe [4]. O papa Francisco teve que incitar os bispos da Venezuela que, como no Chile em 1973, arrastavam os pés face ao diálogo nacional proposto pelo Presidente Maduro [5]. Este lançou o processo participativo para a Assembleia Constituinte, e confirmou a eleição presidencial legalmente prevista para 2018.

Assembleia Popular. Desde o desaparecimento de Hugo Chávez, em 2013, a Venezuela é vítima de uma guerra económica que visa privar a população de bens essenciais, principalmente alimentos e medicamentos. A direita local reúne certos elementos da estratégia implementada no Chile pela dupla Nixon-Pinochet, claramente para causar a exasperação dos setores populares e legitimar a própria violência. De acordo com o relatório do orçamento 2017 colocado no site do Departamento de Estado [6]. Foram entregues 5,5 milhões de dólares à “sociedade civil” da Venezuela. O jornalista venezuelano Eleazar Diaz Rangel, editor do diário Últimas Notícias (centro-direita) revelou trechos do relatório que o Almirante Kurt Tidd, chefe do comando Sul, enviou para o Senado dos EUA: “com a política do MUD (coligação da oposição venezuelana) estabelecemos uma agenda comum, que inclui um cenário duro, combinando ações de rua e dosificando o emprego da violência a partir da perspectiva de cerco e asfixia.” [7]

A fase insurrecional implica atacar os serviços públicos, escolas, maternidades (El Valle, El Carrizal), instituições de saúde, bloquear ruas e artérias principais para bloquear a distribuição de alimentos e paralisar a economia. Através da mídia privada, a direita apela abertamente aos militares para realizarem um golpe de Estado contra o Presidente eleito [8]. Mais recentemente os bandos paramilitares colombianos passaram do papel de formadores para um papel mais ativo: o corpo sem vida de Pedro Josué Carrillo, militante chavista, acaba de ser encontrado no Estado de Lara, com marcas de tortura típicas do país de Uribe [9] .

Apesar dos morteiros, armas, granadas ou coquetéis Molotov usados por manifestantes “pacíficos”; (sem esquecer as efígies de chavistas enforcadas em pontes, assinatura dos paramilitares colombianos), a lei proíbe a polícia ou a guarda nacional de usar as armas de fogo. Manifestantes da direita aproveitam a oportunidade para forçar a sua vantagem e evidenciam o seu ódio sobre guardas ou polícia, provocá-los com jactos de urina, excrementos e disparos com balas reais, observando a reação das câmaras da CNN.

Elementos das forças de segurança que desobedeceram e foram culpados de ferimentos ou mortes de manifestantes foram presos e processados [10]. O fato é que a grande maioria das vítimas são trabalhadores que iam para o trabalho ou voltavam, ativistas chavistas ou elementos das forças da ordem [11] . É por isso que os media falam de mortes em geral – para que se acredite que se trata de “mortos pelo regime.” A lista dos “mortos” serve para aumentar o apoio global à desestabilização: há nestes assassinatos, é terrível constatá-lo, o efeito de uma encomenda para os media.

Qualquer manifestante que mata, destrói, agride, tortura, sabota sabe que será santificado pela mídia internacional. Estes tornaram-se um incentivo para perseguir o terrorismo. Todos os mortos, todas as sabotagens econômicas serão atribuídas ao “regime”, incluindo dentro da Venezuela, onde a mídia, como a economia, é na sua maioria privada. Que a democracia participativa que é a da Venezuela tente defender-se como compete a todo o Estado de direito, vai ser imediatamente denunciada como “repressiva”. Quem ouse punir um terrorista, e isto o tornará de imediato um “preso político”. Para o jornalista e sociólogo argentino Marco Teruggi “; uma intervenção na Venezuela, o governo dos Estados Unidos tem condições mais favoráveis do que tinha para bombardear a Líbia, tendo em conta o fato de que a União Africana tinha condenado essa intervenção quase por unanimidade. (..) Tudo depende da capacidade da direita manter mais tempo o braço de ferro na rua como espaço político. Donde a importância de manter a caixa de ressonância mediática”. [12]


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