O New York Times tem uma história vergonhosa quando se trata da Venezuela. O Conselho Editorial aplaudiu com felicidade o violento golpe de Estado em abril de 2002 que derrubou o presidente Chávez e resultou na morte de mais de 100 pessoas. Quando Chávez voltou ao poder dois dias depois, graças aos seus milhões de seguidores e as Forças Armadas leais, o 'Times' não se retratou por seu erro anterior, mas com arrogância implorou a Chávez a "governar responsavelmente", alegando que ele era o responsável pelo golpe.
(Caracas, 01 de Febrero 2015
Noticias24).- A escritora venezuelana, Eva Golinger, através do portal RT,
publicou um artigo donde afirma que “hay un golpe de Estado en marcha en
Venezuela”.
Há um golpe de Estado em marcha
na Venezuela. As peças estão se encaixando como em um filme da CIA. A cada
passo um novo traidor se revela, uma traição nasce, cheia de promessas para
entregar a batata quente que justifique o injustificável. As infiltrações
aumentam, os rumores circulam como um barril de pólvora, e a mentalidade de
pânico ameaça superar a lógica. As manchetes da mídia gritam perigo, crise e
derrota iminente, enquanto que os suspeitos de sempre declaram a guerra
encoberta contra um povo cujo único crime é ser guardião da maior mina de ouro
negro no mundo.
Esta semana, enquanto o New York
Times publicou um editorial desacreditando e ridicularizando o presidente
venezuelano Nicolás Maduro, qualificando-o de "errático e despótico"
('O senhor Maduro em seu labirinto', NYT 26 de janeiro de 2015), um jornal no
outro lado do Atlântico acusou o presidente da Assembleia Nacional da
Venezuela, Diosdado Cabello, a figura política mais destacada do país depois de
Nicolás Maduro, de ser um chefe do narcotráfico ('El jefe de seguridad del
número dos chavista deserta a EE.UU. y le acusa de narcotráfico', ABC.es 27 de
janeiro de 2015). As acusações vêm de um ex-oficial da Guarda de Honra
presidencial da Venezuela, Leasmy Salazar, que serviu ao presidente Chávez e
foi recrutado pela Agência Antidrogas dos Estados Unidos (DEA), agora
convertendo-se no novo "menino de ouro" na guerra de Washington
contra a Venezuela.
Dois dias depois, o New York
Times publicou um artigo de primeira página atacando a economia e a indústria
petroleira venezuelana e prevendo sua queda ('Escassez e longas filas na
Venezuela após a queda do petróleo', New York Times 29 de janeiro de 2015).
Óbvias omissões do artigo incluíram menção das centenas de toneladas de
alimentos e outros produtos de consumo que foram retidos ou vendidos como
contrabando pelas distribuidoras privadas e empresas, afim de criar escassez,
pânico, descontentamento com o Governo e de justificar a especulação dos preços
inflados. O artigo também se nega a mencionar as medidas e iniciativas em curso
implementadas pelo Governo para superar as dificuldades econômicas.
Ao mesmo tempo, uma notícia
sensacionalista, absurda e enganosa foi publicada em vários diários
estadunidenses, em forma impressa e online, que vincula a Venezuela às armas
nucleares e um plano para bombardear a cidade de Nova Iorque ('Cientista é
preso nos Estados Unidos por ajudar a Venezuela a construir bombas', 30 de
janeiro de 2015, NPR). Enquanto que a manchete faz os leitores acreditarem que
a Venezuela esteve diretamente envolvida num plano terrorista contra os EUA, o
texto do artigo deixa claro que não há nenhuma participação venezuelana no
acontecimento. Toda a farsa era uma armadilha criada pelo FBI, cujos agentes
pretenderem ser funcionários venezuelanos para capturar um cientista nuclear
que uma vez trabalhou no laboratório de Los Álamos e não tinha nenhuma conexão
com a Venezuela.
Nesse mesmo dia, a porta-voz do
Departamento de Estado, Jan Psaki, condenou a suposta "criminalização da
dissidência política" na Venezuela, ao ser consultada por um jornalista
sobre a chegada do fugitivo general venezuelano Antonio Rivero a Nova Iorque
para pedir o apoio do Comitê de Trabalho das Nações Unidas sobre a detenção
arbitrária. Rivero fugiu de uma ordem de prisão na Venezuela depois de sua
participação em protestos antigovernamentais violentos que causaram a morte de
mais de 40 pessoas, em sua maioria partidários do Governo e as forças de
segurança do Estado, em fevereiro passado. Sua chegada aos EUA coincidiu com
Salazar, evidenciando um esforço coordenado para enfraquecer as Forças Armadas
da Venezuela, expondo publicamente dois altos oficiais militares - ambos
vinculados a Chávez - que se voltaram contra seu Governo e estão buscando
ativamente a intervenção estrangeira contra o seu próprio país.
Esses exemplos são só uma parte
da crescente e sistemática cobertura negativa e distorcida da situação na
Venezuela nos meios de comunicação estadunidenses, pintando uma imagem
exageradamente sombria da situação atual do país e retratando o Governo como
incompetente, ditatorial e criminoso. Apesar deste tipo de campanha midiática
coordenada contra a Venezuela não ser novidade - os meios de comunicação
constantemente projetaram o presidente Hugo Chávez, eleito quatro vezes por uma
maioria esmagadora, como um ditador tirano que destruía o país - sem dúvida
evidencia que se está intensificando claramente a um ritmo acelerado.
O New York Times tem uma história
vergonhosa quando se trata da Venezuela. O Conselho Editorial aplaudiu com
felicidade o violento golpe de Estado em abril de 2002 que derrubou o
presidente Chávez e resultou na morte de mais de 100 pessoas. Quando Chávez
voltou ao poder dois dias depois, graças aos seus milhões de seguidores e as
Forças Armadas leais, o 'Times' não se retratou por seu erro anterior, mas com
arrogância implorou a Chávez a "governar responsavelmente", alegando
que ele era o responsável pelo golpe. Mas o fato de que o 'Times' começou uma
persistente campanha direta contra o atual Governo da Venezuela, com artigos
falsificados e claramente agressivos - editoriais, blog, opinião e notícias -
indica que Washington colocou a Venezuela no caminho rápido da "mudança de
regime".
O momento da chegada de Leasmy
Salazar em Washington como um suposto colaborador da DEA, e sua exposição
pública, não é casual. Neste mês de fevereiro completa-se um ano desde que os
protestos antigovernamentais violentamente tentaram forçar a renúncia do
presidente Nicolás Maduro, e grupos da oposição estão atualmente tentando
ganhar impulso para voltar a desencadear as manifestações. Os líderes dos
protestos, Leopoldo López e María Corina Machado, foram elogiados pelo New York
Times como "lutadores pela liberdade", "verdadeiros
democratas", e o Times se referiu recentemente a Machado como "uma
inspiração". Inclusive o presidente Obama pediu a libertação de López (foi
detido e está sendo julgado por seu papel nos levantes violentos) durante um
discurso em setembro em um evento nas Nações Unidas. Essas vozes influentes deliberadamente
omitem a participação de López e Machado em atos violentos, antidemocráticos e
inclusive criminosos. Ambos participaram no golpe de 2002 contra Chávez. Ambos
receberam ilegalmente fundos estrangeiros para atividades políticas para
derrubar o seu Governo, e ambos lideraram os protestos mortais contra Maduro no
ano passado, pedindo publicamente sua queda por vias ilegais.
A utilização de uma figura como
Salazar, que era conhecido como alguém próximo a Chávez e um de seus guardas
leais, como uma força para desacreditar e atacar o Governo e seus líderes é uma
tática de inteligência 'Old School", e muito eficaz. Infiltrar, recrutar e
neutralizar o adversário desde dentro ou através de um dos seus - uma dolorosa,
chocante traição, que cria desconfiança e medo entre as filas. Ainda que não
tenha surgido evidência para respaldar as acusações escandalosas de Salazar
contra Diosdado Cabello, a notícia na mídia serve para fazer uma história
sensacional e cria outra mancha contra a Venezuela na opinião pública. Também
causa um grande rebuliço entre os militares venezuelanos e pode dar lugar a
novas traições de oficiais que poderiam apoiar um golpe de Estado contra o
Governo. As acusações infundadas de Salazar também apontam para neutralizar uma
das mais poderosas figuras políticas do chavismo, e tentam criar divisões
internas, intriga e desconfiança.
As táticas mais eficazes que o
FBI usou contra o Partido dos Panteras Negras e outros movimentos radicais que
lutavam por mudanças profundas nos Estados Unidos, foram a infiltração, a
coerção e a guerra psicológica. Infiltrar agentes nessas organizações, ou
recrutá-los desde dentro, logo quando foram capazes de obter acesso e confiança
dos mais altos níveis, ajudou a destruir esses movimentos desde dentro, destruindo-os
psicologicamente e neutralizando-os politicamente. Essas táticas e estratégias
encobertas foram exaustivamente documentadas e evidenciadas em documentos do
Governo estadunidense obtidos através da Lei de Acesso à Informação (FOIA) e
publicados no excelente livro de Ward Churchill e Jim Vander Wall "Agentes
de Repressão: as guerras secretas do FBI contra os Panteras Negras e o
Movimento Indígena Americano" (South End Press, 1990).
A Venezuela está sofrendo a queda
repentina e dramática dos preços do petróleo. Sua economia dependente do
petróleo foi afetada fortemente e o Governo esta tomando medidas para
reorganizar o orçamento e garantir o acesso a bens e serviços básicos, mas o
povo ainda está experimentando dificuldades. Diferentemente da representação
triste no New York Times, os venezuelanos não morrem de fome, não estão sem
moradia ou sofrendo desemprego em massa, como a Grécia e a Espanha
experimentaram sob as políticas de austeridade. Apesar de certas carências -
algumas causadas pelos controles de divisas e outras por retenção, sabotagem ou
contrabando - 95% dos venezuelanos fazem três refeições por dia, uma quantidade
que se duplicou desde a década de 90. A taxa de desemprego não chega a 6% e a
moradia está subsidiada pelo Estado.
No entanto, fazer a economia
venezuelana "gritar" é sem dúvida uma estratégia executada por
interesses estrangeiros e seus homólogos venezuelanos, e é muito eficaz.
Enquanto a escassez continua e o acesso aos dólares fica cada vez mais difícil,
o caos e o pânico aumentam. Este descontentamento social está capitalizado por
agências dos Estados Unidos e as forças antigovernamentais na Venezuela que
pressionam por uma mudança de regime. Uma estratégia muito similar foi
utilizada no Chile para derrubar o presidente socialista Salvador Allende.
Primeiro, destruíram a economia, produzindo descontentamento social, e depois
os militares foram ativados para derrubar Allende, apoiados por Washington em
cada etapa. Para que não esqueçamos o resultado: uma brutal ditadura encabeçada
pelo general Augusto Pinochet que torturou, assassinou, desapareceu e obrigou
ao exílio dezenas de milhares de pessoas. Não é exatamente um modelo para ser
reproduzido.
Este ano, o presidente Obama
aprovou um fundo especial do Departamento de Estado de 5 milhões de dólares
para apoiar grupos antigovernamentais na Venezuela. Além disso, a Fundação
Nacional para a Democracia (NED) financia grupos da oposição venezuelana com
mais de 1,2 milhões de dólares e apoia os esforços para minar o Governo de Maduro.
Não há dúvidas de que milhões de dólares a mais para a mudança de regime na
Venezuela estão sendo canalizados através de outros mecanismos que não estão
sujeitos ao escrutínio público.
O presidente Maduro denunciou
esses contínuos ataques contra seu Governo e pediu diretamente ao presidente
Obama que parasse com seus esforços para danificar a Venezuela. Recentemente,
os 33 países da América Latina e do Caribe, membros da Comunidade de Estados
Latino-americanos e Caribenhos (CELAC), expressaram publicamente seu apoio a
Maduro e condenaram a interferência norte-americana em curso na Venezuela. A
América Latina rechaça firmemente qualquer tentativa de corroer a democracia na
região e não permitirá outro golpe de Estado na região. É hora de Washington
escutar o hemisfério e deixar de empregar as mesmas táticas sujas contra seus
vizinhos.
Originalmente publicado no RT -
Tradução do Diário Liberdade.
http://www.diarioliberdade.org/opiniom/outras-vozes/54079-venezuela-golpe-em-tempo-real.html
fonte: site PCB
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