Pedro Campos
«Sem precedente no país o
incêndio de uma universidade: a Unefa. O incêndio da sua biblioteca traz uma
imagem dantesca, desoladora. Fizeram-no em nome da ‘Venezuela decente’, da
‘sociedade civil’, dos ‘estudantes pacíficos’. O terror pretende subsistir na
memória como uma tatuagem a fogo sobre a pele. Como disse o poeta alemão
Henrique Heine: Ali onde se começam a queimar os livros, termina-se a queimar
as pessoas.»
Earle Herrera, jornalista e
professor universitário venezuelano
1. No estado Táchira, que junto
com outros da fronteira está na mira para um movimento secessionista
abertamente apoiado por um partido da direita, os guarimberos com o apoio de
paramilitares colombianos alinhados com o narcotraficante Uribe, para além de
já terem atuado contra 15 universidades, arrasaram completamente com o polo da
Unefa – Universidade Nacional Experimental das Forças Armadas – a maior
universidade do país, com mais de 240 mil alunos, que foi fundada em 1973 pelo
democrata-cristão Rafael Caldera. Na Unefa a destruição foi total e ainda
ninguém na oposição assumiu responsabilidade alguma ou, o que é pior, ninguém
criticou este terrorismo a que nunca se atreveu Hitler. Faz lembrar aquilo de
«quando ouço a palavra cultura, puxo da minha Browning» ou não?
2. O ecocídio deveria ser
considerado um crime contra a humanidade. E este é outro dos crimes que carrega
às costas a extrema-direita venezuelana. Em pouco mais de um mês de guarimbas
(barricadas), destruíram mais de cinco mil árvores nos poucos municípios onde
se concentraram as suas manifestações cinicamente classificadas como
«pacíficas» pelos media venezuelanos e internacionais, que alinham com os
interesses de Washington. Cortam-nas com a ajuda de motosserras, uns
instrumentos muito queridos dos paramilitares de Álvaro Uribe que as utilizam
também para assassinar militantes da esquerda, líderes sindicais e simples
camponeses. Dentro de pouco sairão das prisões do país vizinhos 400
paramilitares. Sabendo que a sua reinserção na sociedade civil é muito difícil,
onde é que eles irão parar?
3. Nesta verdadeira orgia de
terror nem os centros de saúde se salvam. Na tentativa gorada de derrubar o
governo de Nicolás Maduro, os neonazistas acabaram com onze centros de saúde
dedicados à atenção dos sectores mais pobres da população. Do mesmo modo, não
hesitaram em queimar vários camiões com toneladas de alimentos – eles que dizem
protestar contra a escassez de alguns bens – que iam a caminho dos mercados
populares. Os centros do poder eleitoral também não foram poupados. A sede do
poder eleitoral do estado Zúlia foi destruída em 60%... mas isto pode
entender-se como uma vingança porque perderam 18 das últimas 19 eleições! O
mesmo sucede com as instalações eléctricas. Há poucos dias provocaram um
incêndio no Waraira Repano, o grande pulmão vegetal de Caracas, e como
resultado danificaram uma instalação que provocou um apagão em boa parte da capital.
4. Entretanto, os terroristas da
extrema-direita procuram apoio «profissional» internacional. Recentemente foram
detidos num hotel de Caracas 13 indivíduos estrangeiros, a maior parte
procedente de Trinidad e Tobago. Dois deles, Luqman Assim e Dominic Clive já
foram julgados na ilha por participação numa tentativa de assassinato do
primeiro-ministro de então, Persad-Bissessar, em 2011.
5. Entretanto, perante o silêncio
cobarde – cúmplice? – dos sectores alegadamente moderados da oposição, a sua
vanguarda mais inescrupulosa, agressiva e terrorista continua sem travões. E a
sua grande arma é a mentira. São tantas que é impossível referi-las todas. Dois
exemplos: Carlos Mata, ator muito conhecido, juntou-se à campanha de calúnias
com um twitter sobre a «repressão na Venezuela». A mentira foi imediatamente
desmentida porque se tratava de uma fotografia tirada no Chile de Piñera. O ator
admitiu, desculpou-se, mas a provocação já tinha dado a volta ao mundo. Ele não
está só. Outra representante do mundo «artístico», Amanda Gutiérrez, foi muito
mais longe. Publicou um twitter com uma imagem onde se podia ver um polícia a
obrigar um estudante a fazer-lhe uma felação. Havia outros agentes ali,
aparentemente na fila para o mesmo ato sexual. Pouco depois descobriu-se que
era um fotograma de um filme pornográfico. Ao ver-se descoberta, disse que
lamentava o erro. Um e outro twitter nada têm de ingénuos. São achas para
tentar fazer crer que os «pacíficos estudantes» são violados e torturados pelas
forças públicas.
foto: sede do psuv destruido pelos terroristas nazistas- foto blog
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