Brasil de Fato- A visita da
Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro ao 1º Batalhão de Polícia do
Exército, na Tijuca, na zona norte da cidade, começou com tumulto. O motivo foi
a chegada do deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), que não faz parte da
comissão e não estava na lista dos integrantes da visita.
A confusão começou quando
Bolsonaro forçou a passagem, no portão do quartel, e chegou a dar um soco na
barriga do senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), que tentava impedir a entrada
do deputado federal. Representantes de movimentos como o Tortura Nunca Mais e o
Levante Popular da Juventude exigiram, aos gritos, a saída de Bolsonaro, que
conseguiu entrar.
A comitiva, no entanto,
recusou-se a fazer a visita na presença de Bolsonaro, que acabou não
participando, mas ficou no quartel até o fim. “Vim porque sou parlamentar e
tenho o direito de participar se quiser. Vim acompanhar”, alegou o deputado.
“Tortura é uma arma de guerra. Pratica-se no mundo inteiro. Deve ter havido um
tratamento mais enérgico aqui sim e mereciam se houve, porque queriam impor
aqui o socialismo”, argumentou Bolsonaro.
O senador Randolfe disse que não
vai prestar queixa contra Bolsonaro. “Ele quer protagonismo e não vamos dar
esse protagonismo a ele. Ele nos agrediu na entrada covardemente, mas não
cumpriu o seu objetivo que era impedir essa visita”, disse.
Além de Randolfe Rodrigues,
acompanharam a visita da comissão o senador João Capiberibe (PSB-AP), que foi
torturado nas dependências do batalhão durante a ditadura, e as deputadas
federais Jandira Feghali (PCdoB-RJ) e Luiza Erundina (PSB-SP).
Centro de memória
Dezenas de pessoas esperaram em
frente ao batalhão o resultado da visita da comissão. No prédio, onde nesta
segunda-feira (23) está o Batalhão de Polícia do Exército, abrigava o
Destacamento de Operações de Informações-Centro de Defesa Interna (DOI-Codi) e
foi local de tortura e prisões arbitrárias durante a ditadura militar (1964 a
1985).
A comissão e os parlamentares
presentes na visita vão solicitar ao Ministério da Defesa e ao Exército que o
prédio seja transformado em centro de memória.
Segundo o presidente da comissão
Estadual da Verdade, Wadih Damous, todas as dependências foram mostradas à
comissão. “Considero o dia de hoje um dia histórico. Pela primeira vez na
democracia, uma comitiva de entidades da sociedade civil e parlamentares de
comissões da verdade puderam entrar nas dependências desse local tão macabro”.
Damous informou que vai
encaminhar um ofício ao ministro da Defesa, Celso Amorim, e ao Comandante do
Exército, Enzo Peri, pedindo esclarecimento de episódios que ocorreram no
DOI-Codi relacionados a desaparecimento de pessoas e à uma carta bomba enviada
para a Ordem dos Advogados do Brasil há 33 anos. Há informações de que os
jornalistas Mário Alves e Rubens Paiva foram torturados no local.
Membro da comissão, o jornalista
e professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC), Álvaro Caldas, que
esteve preso no local duas vezes (1970 e 1973),serviu de guia da comissão e
apontou as dependências onde foram executadas torturas.
“Mais de 800 pessoas passaram por
aqui. Urbanisticamente, mudou a configuração, mas reconheci o Pelotão de
Investigações Criminais, PIC, e a cela da tortura, a chamada cela roxa”, disse.
De acordo com o senador João
Capiberibe (PSOL-AP), a visita serviu para aproximar a comissão do Exército. “O
fato de nos negarem [Exército] informação histórica mostra que há um tabu e que
cabe a nós rompermos esse tabu dentro do Exército. Vamos procurar o comandante
para termos uma discussão com o Exército e não apenas com a sociedade
brasileira que nós vivemos uma página cruel de repressão e violência”, disse o
senador.
A deputada estadual, Luiza Erundina
(PSB), que havia sido proibida de entrar na segunda visita, o que acarretou o
adiamento da comissão, disse que até hoje não sabe o motivo da recusa de sua
entrada no quartel.
Foto: Tânia Rêgo/ABr
Fonte: Brasil de Fato
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