Desacato- Conhecido ao longo da história
como suboficial “Abílio Alcântara”, de codinome “Pascoal”, um dos algozes de
Stuart Angel Jones foi revelado após um cruzamento de dados envolvendo
depoimentos e documentos do Serviço Nacional de Informação (SNI). Segundo reportagem
do jornal O Globo, o então suboficial do Centro de Informações de Segurança da
Aeronáutica (Cisa) se chama Abílio, mas possui outro sobrenome. A verdadeira
identidade seria do sargento da Aeronáutica Abílio Correa de Souza, apontado
como um dos principais personagens tanto da captura, como tortura e morte do
filho da estilista Zuzu Angel em 1971.
O ex-preso político Alex Polari
de Alverga denuncia há 42 anos que presenciou o momento em que o amigo foi
preso por agentes da Aeronáutica, na manhã de 14 de junho de 1971, no Grajaú,
zona norte do Rio. De acordo com a publicação, Abílio estava entre os agentes
que atuaram na prisão de Stuart. Souza chegou a fazer cursos de inteligência no
Panamá em 1968 e, de acordo com relato dos presos, ele seria uma espécie de
braço-direito do coronel Ferdinando Muniz de Farias, o doutor Luís, apontado
como o homem de confiança do brigadeiro Carlos Affonso Dellamora, comandante do
Cisa.
Uma nova testemunha do caso
contou que o sargento Souza foi o último agente a falar com Stuart, já em sua
agonia. Ex-presa política, Maria Cristina de Oliveira Ferreira diz que não viu a
cena, mas ouviu os gemidos de Angel, que era dirigente do grupo guerrilheiro
Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8).
“O Pascoal falou pra ele: ‘deixa de frescura, Paulo (codinome de Stuart
no MR-8). Você não vai morrer ainda não. Toma aqui um melhoral’”, disse a
testemunha, que revelou ainda que Stuart ficou em silêncio e, em seguida, ela
ouviu um barulho semelhante à retirada de um corpo.
Outros presos políticos confirmam
o poder exercido por Souza na carceragem. Além de Souza, os cabos reformados
Luciano José Marinho de Melo e Cláudio de Almeida Aguiar também são citados
como integrantes das equipes do Cisa em 1971. Ao jornal, Luciano disse que foi
apenas motorista do gabinete do ministro da Aeronáutica até 1984. Já Aguiar,
citado como torturador, não foi localizado.
Relatos de presos e documentos do
projeto Brasil Nunca Mais e do Arquivo Nacional ainda apontam que policiais da
Delegacia de Ordem Politica e Social do Rio participaram da captura de
integrantes do MR-8. Segundo documentos obtidos pelo jornal, o desaparecimento
de Stuart foi amplamente documentado pelos militares. Um documento datado de 14
de setembro de 1971 teria, como assunto, “Stuart Angel Jones – Falecido”.
Classificado como confidencial, traz a seguinte declaração: “Apenso, encaminho
documentação para fins de prontuário referente ao epigrafado, bem como de
outros elementos subversivos arrolados nos processos de apuração de delitos
cometidos por alguns deles”, informa o texto, que apresenta apenas três
páginas.
Já outro documento da Agência São
Paulo do SNI, o nome de Stuart aparece junto a outros 89 nomes de guerrilheiros
mortos seguidos por datas das mortes. De acordo com o documento, o filho da
estilista teria morrido no dia 16 de maio de 1971, ou seja, dois dias após sua
prisão. O paradeiro do corpo, no entanto, nunca foi informado.
Fonte: Desacato e Terra
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