por Paul Buchheit
Sistemas privados estão focados
em gerar lucros para as poucas pessoas bem posicionadas. Sistemas públicos,
quando abastecidos suficientemente por impostos, funcionam para todo mundo de
uma forma igualitária.
Em seguida, as seis razões
específicas que mostram porquê privatizações simplesmente não funcionam.
1. A motivação por lucro move a
maioria do dinheiro para o topo
O administrador do sistema de
saúde federal ganhou como salário 170 mil dólares em 2010. O presidente do MD
Anderson Cancer Center, no Texas, recebeu dez vezes mais em 2012. Stephen J.
Hemsley, o CEO da United Health Group (Grupo Único de Saúde), ganhou 300 vezes
mais em um ano, 48 milhões de dólares, a maior parte por causa das ações da
empresa.
Em parte por causa dessas
desigualdades, nosso sistema de saúde é o mais caro do mundo desenvolvido. O
preço de cirurgias comuns é de três a dez vezes mais caro nos Estados Unidos do
que na Grã Bretanha, Canadá, França ou Alemanha.
O sistema de saúde público, por
outro lado, que não tem a motivação por lucros e a competitividade de cobrança,
é administrado de forma eficiente, para todos os americanos elegíveis. De
acordo com o Conselho do Seguro de Saúde Acessível e outras fontes, os custos
administrativos médicos são muito maiores nas empresas privadas do que no
sistema de saúde público.
Mas os privatistas continuam
invadindo o setor público. Nosso governo reembolsa os CEOs de empresas privadas
em uma taxa aproximadamente duas vezes maior do que o que pagamos para o
presidente. No geral, pagamos aos chefes de corporações mais de 7 bilhões de
dólares por ano.
Muitos americanos não percebem
que a privatização da segurança e saúde social transferiria muito do nosso
dinheiro para mais outro grupo de CEOs.
2. Privatizações atendem pessoas
com dinheiro, o setor público atende todo mundo
Um bom exemplo é o U.S.Postal
Service (USPS, Serviço Postal dos EUA em tradução livre), que é legalmente
obrigada a atender toda casa do país. O Fedex e o United Parcel Service (UPS,
Serviço Único de Encomendas em tradução livre) não conseguem atender lugares
deficitários. Além de que a USPS é muito mais barata para pacotes pequenos. Uma
comparação online revelou o seguinte por uma entrega de dois dias de pacotes
com tamanhos similares para outro estado:
- USPS – 2 dias US$ 5,68 (46
centavos sem a restrição de dois dias)
- FedEx – 2 dias US$ 19,28
- UPS – 2 dias US$ 24,09
USPS é tão barata, de fato, que a
Fedex atualmente usa os Correios dos Estados Unidos para aproximadamente 30% de
suas encomendas por terra.
Outro exemplo é a educação. Um
relatório recente do ProPublica descobriu que nos últimos vinte anos colégios
estaduais de quatro anos têm atendido uma parte cada vez menor de estudantes de
baixa renda. No nível K-12, estratégias empresariais de redução de custo são
uma das consequências da privatização da educação dos nossos filhos. Escolas
privilegiadas são menos propensas a aceitar alunos com deficiência. Professores
dessas escolas têm menos anos de experiência e uma taxa de rotatividade mais
elevada. Os outros funcionários possuem planos insuficientes de aposentadoria e
seguro de saúde, e são muito mal pagos.
Finalmente, no que diz a respeito
ao sistema de saúde, 43% dos americanos doentes deixou de ir ao médico ou
comprar medicamentos em 2011 por causa dos preços excessivos. Estima-se que mais
de 40 mil americanos morrem todos os anos porque não podem pagar seguro de
saúde.
3. Privatizações tornam
necessidades básicas humanas em produtos
Grandes empresas gostariam de
privatizar nossa água. Um economista do Citigroup se orgulhou: "Água, como
uma série de ativos, será, em minha opinião, a mercadoria física mais
importante, superando o petróleo, o cobre, as commodities agrícolas e os metais
preciosos."
Eles querem nossa terra.
Tentativas de privatização foram feitas na administração de Reagan nos anos
1980 e pelo Congresso, controlado pelos republicanos, nos anos 1990. Em 2006, o
presidente Bush propôs leiloar 300 mil hectares de floresta nacional em 41
estados. O caminho da prosperidade de Paul Ryan foi baseado em parte na
proposta do republicano Jason Chaffetz': "Eliminação do excesso de terras
federais, Lei de 2011", que iria leiloar milhões de hectares de terra no
oeste da América.
Eles querem nossas cidades. Um
especialista em privatizações disse ao Detroit Free Pressque o dinheiro de verdade
está em ações urbanas, como uma "fonte de receita". Então, o recurso
mais valioso de Detroit era a Water & Sewerage Department (DWSD,
Departamento de Água e Esgoto), que garante 350 milhões de dólares aos bancos,
mantendo a demanda. Bloomberg estima um preço de quase meio bilhão de dólares,
em uma cidade na qual os donos de casa mal conseguem pagar pelos serviços de
água.
E eles querem nossos corpos. Um
quinto dos genomas humanos é propriedade privada através de patentes. Amostras
de influenza e hepatite foram reivindicadas por laboratórios de universidades e
corporações, e por causa disso os pesquisadores não podem usar formas
patenteadas de vida para ajudar nas pesquisas sobre o câncer.
4. Sistema público fomenta uma
classe média forte
Parte da mitologia do mercado
livre é que os funcionários públicos e os trabalhadores sindicalizados são
aproveitadores, desfrutando de benefícios que são negados aos trabalhadores do
setor privado. Mas os fatos mostram que funcionários do governo e trabalhadores
sindicalizados não são pagos em excesso. De acordo com o Census Bureau,
funcionários estaduais e municipais compõem 14,5% da classe trabalhadora dos
Estados Unidos e recebem 14,3% da remuneração total. Membros de sindicatos
representam aproximadamente 12% da classe trabalhadora, mas seus salários
correspondem a apenas 10% da renda bruta, conforme relatado pelo IRS.
O trabalhador do setor privado
recebe aproximadamente o mesmo salário que o funcionário estadual ou municipal.
Mas o salário médio para trabalhadores dos Estados Unidos, dos quais 83% estão
no setor privado, foi 18 mil dólares menor em 2009, com 26.261 dólares. A
desigualdade é muito mais difundida no setor privado.
5. O setor privado tem incentivos
para falhar ou absolutamente incentivo nenhum
A predisposição para falhar mais
óbvia é na indústria de prisões privadas. Alguém pode pensar que essa indústria
possui o objetivo digno de reabilitar e esvaziar gradualmente as cadeias. Mas o
negócio é muito bom. Com cada presidiário gerando até 40 mil dólares por ano em
receitas, o número de presos em instalações privadas aumentou mais de 1.600% de
1990 a 2009, de 7 mil para mais de 125 mil. A Corrections Corporation of
America (Corporação de Correções da América) se ofereceu recentemente para
administrar o sistema de prisões em todos os estados, garantindo manter 90% das
cadeias cheias.
Privatistas nem têm incentivos
para manter a infraestrutura. David Cay Johnston descreve o estado de
deterioração das bases estruturais da América, com redes negligenciadas pelos
monopolistas industriais, que cortam gastos em vez de prestar manutenções.
Enquanto isso, eles atingem margens de lucros de mais de 50%, oito vezes a
média das corporações.
Quanto à segurança pública, os
sinais de alerta para privatizações não regulamentadas estão se tornando mais
claros e mais fatais. A fábrica de fertilizantes Texas, onde 14 pessoas foram
mortas em uma explosão e incêndio, foi inspecionada pela Occupational Safety
and Health Administration (OSHA, Administração de Segurança e Saúde de
Profissionais) há mais de 25 anos. O Serviço Florestal dos Estados Unidos,
marcado pelo incêndio em Prescott, no Arizona, que matou 19 pessoas, foi
forçado a cortar 500 bombeiros por causa dos confiscos. O desastre nos trilhos
de Lac-Megantic, no Quebec, foi consequência da desregulamentação das ferrovias
canadenses. No outro extremo está o setor público, e o Federal Emergency
Management Agency (Fema, Agência Federal de Cuidados Emergenciais), que
resgatou centenas de pessoas após o furacão Sandy enquanto providenciava
alimentos e água a outros milhões.
A falta de incentive privado para
a melhoria das condições humanas é evidente em todo o mundo. O World Hunger
Education Service (Serviço Mundial de Educação sobre a Fome) afirma que
"os sistemas econômicos nocivos são a principal causa de pobreza e
fome." De acordo com Nicholas Stern, o chefe economista do Banco Mundial,
a mudança climática é "a maior falha de mercado que o mundo já viu."
6. Com sistemas públicos, não
temos que ouvir devaneios de "iniciativas individuais"
De volta aos tempos do Reagan,
uma declaração impressionante foi feita por Margaret Thatcher: "Não existe
isso de sociedade. Existe homens e mulheres individuais, e existem
famílias." Mais recentemente, Paul Ryan reclamou que o apoio governamental
"drena as iniciativas individuais e a responsabilidade pessoal."
É fácil para pessoas com bons
empregos falarem isso.
Iniciativa individual? O apoio
público da nossa rede de comunicações permite aos 10% de americanos ricos
manterem sua cota de 80% no mercado de ações. CEOs contam com estradas, portos
e aeroportos para enviar seus produtos, com FAA e TSA, com a Guarda Costeira e
com o Departamento de Transportações para protegê-los, uma rede nacional de
energia para potencializar suas indústrias, e torres e satélites de comunicação
para conduzir seus negócios online. Talvez o mais importante para os negócios,
mesmo quando se trata de lucros a curto prazo, seja a pesquisa a longo prazo
financiada com dinheiro do governo. A partir de 2009, universidades ainda
recebiam dez vezes mais financiamentos governamentais para ciência e engenharia
do que financiamentos industriais.
Público supera o privado em quase
todos os sentidos. Somente o hype da mídia de livre mercado mantém muitos
americanos acreditando que o sistema "o vencedor leva tudo" é melhor
do que trabalhar junto como uma comunidade.
Transcrição dewww.controversia.com.br/index.php?act=textos&id=16995
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/ .
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