Diario Liberdade- Asia Times Online - [Pepe Escobar] 8 de agosto de 2014. A Organização do Tratado do Atlântico Norte está desesperada; comicha de desejo de guerra no campo de combate ucraniano, quer-que-quer custe o que custar.Diario Liberdade-
Comecemos pelo Supremo do Pentágono,
Chuck Hagel, secretário de Defesa dos EUA, que entrou em surto poético ao falar
da "ameaça" do Urso Russo: "Quando se veem aquelas tropas
chegando, a sofisticação daquelas tropas, o treino daquelas tropas, o
equipamento militar pesado acumulado ali, naquela fronteira... ah, claro que é
real, é ameaça, é possibilidade – com certeza. É."
Oana Lungescu, porta-voz da OTAN,
não conseguiu decidir se era "ameaça" ou "realidade",
"com certeza" ou sem, mas ela viu tudo: "Não vamos nos pôr a
adivinhar o que anda pela cabeça dos russos, mas se vê, sim, o que a Rússia
está fazendo em campo – e o que se vê é muito preocupante. A Rússia postou
cerca de 20 mil soldados prontos para combate na fronteira leste da
Ucrânia."
Em OTANês, língua de OTAN, marca
registrada de absoluta precisão e rigor, Lungescu então acrescentou que a
Rússia "bem provavelmente" estaria enviando tropas para o leste da
Ucrânia disfarçadas como "missão humanitária ou de paz". E estamos
conversados.
Hagel e Lungescu, sua assecla
romena telecontrolada, obviamente não leram o boletim de informação detalhada
distribuído pelo porta-voz das Forças Armadas Russas:[1] a "ameaça" e
a "acumulação de exércitos" acabarão nessa 6ª-feira, último dia de
exercícios militares que os russos anunciaram com antecedência.
Fog(h) da Guerra está muito
nervoso, preocupado, desagradavelmente excitado
Imediatamente na sequência, o
secretário-geral da OTAN Anders "Fog(h) da Guerra" Rasmussen chegava
a Kiev praticamente espumando guerra pela boca, pronto para lançar os
fundamentos da reunião de cúpula da OTAN que acontecerá em Gales, dia 4/9,
quando a Ucrânia, já entronizada como principal aliado não membro da OTAN, deve
ser lançada avante, à velocidade da luz, já armada (até os dentes) pela OTAN.
E, além do mais, a OTAN está pronta para ser seriamente "ampliada" na
Polônia, Romênia, nos Bálticos e até na Turquia.
Mas foi quando todas as variantes
derivadas do Khaganato dos Nulands ("Nuland" como em "Victoria
Nuland", secretária-assistente de Estado para Assuntos Europeus e
Eurasianos dos EUA) saltaram fora dos parafusos, completamente fora de
controle. Pode-se imaginar o vaidoso, presunçoso Fog(h) da Guerra tentando em
vão exibir alguma compostura.
Exigiu considerável esforço,
quando teve de assistir ao show que lhe apresentou o presidente da Ucrânia
Petro Poroshenko – oligarca de carteirinha, praticante obstinado das práticas
menos decentes – que furiosamente tentava expulsar da praça Maidan os
manifestantes originais, que estão de volta ao centro de Kiev;[2] é o mesmo
povo que no final do ano passado começou a protestar e que depois foi
sequestrado pelos patrões dos neoconservadores dos EUA e nazistas do Setor
Direita do Banderastão (tipo príncipe Bandar bin Sultan).
Os manifestantes originais da
praça Maidan em Kiev – uma espécie de "Occupy Kiev" – opunham-se à
monstruosa corrupção e queriam o fim da dança sem fim dos oligarcas ucranianos.
Só conseguiram ainda mais corrupção; a mesma dança dos oligarcas; um estado
falido, em guerra civil e que já assumiu que promove limpeza étnica de pelo
menos 8 milhões dos próprios cidadãos; e, além do mais, estado falido-falhado a
caminho de ser ainda mais empobrecido pelo "ajuste estrutural"
promovido pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Não surpreende que não arredem
pé da praça Maidan.
Quer dizer: Maidan – O Retorno –
já começou, antes até da chegada do General Inverno.
Poroshenko-rei-do-chocolate tem de conseguir esvaziar aquela praça o mais
depressa possível, porque a volta dos protestos de rua em Kiev absolutamente
não combina com a narrativa histérica da imprensa-empresa ocidental segundo a
qual "é tudo culpa de Putin". Na verdade, a corrupção é hoje ainda
pior que antes – porque incorporou muitos sobretons neonazistas.
Com Fog(h) da Guerra já espumando
porque "a Rússia não invade", o pomposamente denominado
"Secretário" de Segurança Nacional e do Conselho de Defesa da
Ucrânia, o neonazista Andrey Parubiy – que é candidato nato à acusação de ter
ordenado o tiro que derrubou mês passado um avião civil malaio [MH17] – resolveu
renunciar; é rato confirmado que abandona navio que afunda, movimento provocado
provavelmente por o rato não ter conseguido estender sua limpeza étnica para
toda o leste da Ucrânia e estar tendo de engolir um cessar-fogo. Poroshenko não
é idiota; depois de toneladas de números péssimos nas pesquisas de aprovação
popular, já viu que o "apoio amplo" com que contou está evaporando
minuto a minuto.
Completando toda essa agitação,
um míssil cruzador entra no Mar Negro novamente para "promover a
paz". O Kremlin e a inteligência russa facilmente veem aí o que há para
ver.
E há ainda a horrenda crise de
refugiados que cresce no leste da Ucrânia. 3ª-feira passada, Moscou, em reunião
do Conselho de Segurança da ONU, exigiu que se tomem medidas humanitárias de
emergência – sem resultado, como se pode prever. Washington bloqueou a ação,
porque Kiev a bloqueou ("Não há crise humanitária alguma"). O
embaixador russo Vitaly Churkin descreveu a situação em Donetsk e Luhansk como
"desastrosa"; e disse que Kiev está intensificando as operações
militares.
Segundo a própria ONU, pelo menos
285 mil pessoas já se tornaram refugiadas no leste da Ucrânia. Kiev insiste que
o número de refugiados internos é de "apenas" 117 mil; a ONU duvida.
Moscou continua a afirmar que assustadores 730 mil ucranianos fugiram para a
Rússia; o Alto Comissariado da ONU para Refugiados confirma. Alguns desses
refugiados, em fuga de Semenivka, em Sloviansk, informaram detalhes sobre o
N-17 que Kiev está usando: é versão ainda mais mortífera do fósforo branco.
Quando o embaixador Churkin
mencionou Donetsk e Luhansk, referiu-se aos bandidos de Kiev que se preparam
para atacar massivamente. Já estão bombardeando os arredores de Petrovski em
Donetsk. Quase metade dos moradores de Luhansk já fugiram, a maioria para a
Rússia. Os que ficaram são quase todos aposentados idosos e famílias com filhos
pequenos.
Falar de "crise
humanitária" é muito pouco: não há água, nem eletricidade, nem
comunicação, nem combustível, nem remédios em Luhansk. A artilharia pesada de
Kiev destruiu quatro hospitais e três clínicas. Para resumir: Luhansk é a Gaza
ucraniana.
Numa simetria sinistra, assim
como dá passe livre para Israel destruir Gaza, o governo Obama também está
dando passe livre para os açougueiros de Luhansk. É há até uma variante. Obama
estava sem saber se bombardeava os bandidos do Estado Islâmico do Califa no
Iraque, ou se, quem sabe, jogava pacotes de ajuda humanitária. Optou por
(talvez) bombardeio "limitado" com correspondentes, podem-se prever,
doses também limitadas de água e comida.[3]
Assim sendo, em palavras bem
claras: para o governo dos EUA "pode ser que haja uma catástrofe
humanitária" no Monte Sinjar no Iraque, envolvendo 40 mil pessoas. Como
também pelo menos 730 mil leste-ucranianos, aqueles iraquianos têm pleno
direito de serem bombardeados, detonados, atacados por aviões armados, e de
serem convertidos em mortos ou em refugiados.
A nova Somália
A linha vermelha de Moscou é bem
explícita: a OTAN não põe os pés na Ucrânia. A Criméia é parte da Rússia.
Nenhum soldado dos EUA põe os pés perto das fronteiras russas. Integral
proteção à identidade cultural russa no sul e leste da Ucrânia.
De qualquer modo a crise
humanitária – real (mas Washington nega) – é completamente outro assunto muito
grave. As forças de Kiev não estão equipadas para sustentar prolongado
confronto de guerra urbana. Mas, assumindo que aquelas forças – misto de
militares regulares; esquadrões-da-morte/terrorismo financiados pelos
oligarcas; guarda nacional "voluntária" ucraniana infestada de neonazistas;
mercenários de várias nacionalidades treinados pelos EUA – decidam atacar em
carnificina-de-massa para tomar Donetsk e Luhansk, pode-se argumentar que
Moscou terá de considerar o que os 'especialistas' da OTAN chamam de
"limitada intervenção por solo" na Ucrânia.
Os 'especialistas' da OTAN são
suficientemente tolos a ponto de crer que, se Putin pode disfarçar a
intervenção sob a máscara de uma missão humanitária ou para preservar a paz,
ele conseguiria também convencer, da mesma falcatrua, também a opinião pública
russa. A verdade é que Putin ainda não "invadiu" porque a opinião
pública russa não quer a invasão. A popularidade de Putin já alcançou
espantosíssimos 87%.[4] Só uma carnificina em massa (improvável) perpetrada em
Kiev poderia alterar esses números e separar a opinião pública e o governo
russos. Considerando que esse afastamento é precisamente o que a OTAN mais
deseja, Fog(h) da Guerra estará trabalhando horas-extras para forçar seus
vassalos a produzir a tal carnificina em massa.
De qualquer modo, considerando-se
desenvolvimentos recentes, o que os fatos em campo apontam é que a atual dança
dos oligarcas em Kiev já começou a desandar – como se vê nesse evento, em que
mulheres queimam os documentos de alistamento militar obrigatório bem diante
dos militares.[5] Moscou nem terá de se incomodar com avaliar a possibilidade
de "invadir". Enquanto isso, o genocídio em câmera lenta de
Poroshenko no leste da Ucrânia e os ataques contra Maidan "O Retorno"
em Kiev continuarão a usufruir direitos de passe livre. Aí está, diante de
todos, a Ucrânia como nova Somália; adequada Criatura gerada pelo Frankenstein
Império do Caos excepcionalista.
*****
[1]
http://www.airforce-technology.com/news/newsrussian-air-force-begins-military-exercises-near-ukrainian-border-4333822/
[2]
http://en.ria.ru/world/20140807/191804106/Maidan-Unrest-Back-to-Life-as-Activists-Clash-With-Police-on.html
[3] http://www.nytimes.com/2014/08/08/world/middleeast/obama-weighs-military-strikes-to-aid-trapped-iraqis-officials-say.html?_r=1
[4]
http://www.themoscowtimes.com/article/504691.html
[5] Mulheres queimam documentos
de recrutamento obrigatório em Kiev: http://beforeitsnews.com/financial-markets/2014/07/ukrainians-ordered-to-war-women-burn-the-military-writs-2747468.html
Original em:
http://www.atimes.com/atimes/Central_Asia/CEN-01-080814.html
fonte: Diario Liberdade - Tradução do coletivo Vila Vudu
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