Foto Silvia Izquierdo/AP por Esther Vivas.
O verde vende. Desde a revolução
verde, passando pela tecnologia verde, o crescimento verde até chegar aos
“brotos verdes”, que teriam que nos tirar da crise. A última novidade: a
economia verde. Uma economia que, contrariamente ao que seu nome indica, não
tem nada de “verde”, além dos dólares que esperam ganhar com a mesma aqueles que a promovem.
É que a nova ofensiva do
capitalismo global por privatizar e mercantilizar massivamente os bens comuns
tem na economia verde o seu máximo
expoente. Justamente em um contexto de crise econômica como a atual, uma das
estratégias do capital para recuperar a taxa de lucro consiste em privatizar os
ecossistemas e converter “o vivo” em mercadoria.
A
economia verde vai ser, precisamente, o tema central da agenda da próxima
Cúpula das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável Río+20, a
celebrar-se de 20 a 22 de junho no Rio de Janeiro, vinte anos depois da Cúpula
da Terra da ONU que em 1992 teve lugar na mesma cidade. E duas décadas depois, onde nos encontramos? Onde
ficaram os conceitos como “desenvolvimento sustentável” –criados na citada
cúpula? Ou ratificação da Convenção
sobre Mudança Climática, que sentou as bases do Protocolo de Kyoto? Ou o Convênio sobre a Diversidade Biológica que se
lançou naquela ocasião? Em papel amassado nem mais nem menos. Hoje estamos
muito pior que antes.
Nestes anos não só não se
conseguiu freara mudança climática, a perda da biodiversidade, parar o
desmatamento de florestas… mas sim que, ao contrário, estes processos não
fizeram mais que agudizar-se e intensificar-se. Assistimos, pois, uma crise
ecológica sem precedentes, que ameaça o futuro da espécie e da vida no planeta,
e que tem um papel central na crise de civilização que enfrentamos.
Uma crise meio-ambiental que evidencia a incapacidade
do sistema capitalista para sairmos do “beco sem saída” em que sua lógica de crescimento sem limites, do
beneficio a curto prazo, do consumismo compulsivo… nos têm conduzido. E esta
incapacidade para dar uma “saída” real, nós temos visto claramente após as fracassadas cúpulas do clima de Copenhague
(2009), Cancún (2010), Durban (2011) ou na cúpula sobre biodiversidade em
Nagoya (Japão em 2010), etc., onde
acabou se impondo interesses políticos e econômicos particulares em detrimento
das necessidades coletivas da maioria
das pessoas e ao futuro do planeta.
Nestas cúpulas se apresentam
falsas soluções à mudança climática, soluções tecnológicas, desde nucleares,
passando pelos agro combustíveis até a
captura e armazenamento de CO2 sob a terra, entre outras. Medidas que tentam
esconder as causas estruturais que nos conduzem a crise ecológica atual, que
buscam fazer negócio com a mesma e que não farão nada além de aprofundá-la.
Os vínculos estreitos entre
aqueles que ostentam o poder político e o
econômico explicam esta falta de vontade para dar uma resposta efetiva.
As políticas não são neutras. Uma solução real implicaria uma mudança radical
no atual modelo de produção, distribuição e consumo, enfrentar-se a lógica
produtivista do capital. Tocar o núcleo duro do sistema capitalista. E aqueles
que ostentam o poder político e econômico não estão dispostos a isso, a acabar
com sua “galinha de ovos de ouro”.
Agora vinte anos mais tarde nos querem “vender a
moto” da economia verde como saída da crise econômica e ecológica. Outra grande
mentira. A economia verde somente busca fazer negócio com a natureza e a vida.
Se trata da neo-colonização dos recursos naturais, aqueles que ainda não estão
privatizados, e busca transformá-los em mercadoria de compra e venda.
Seus promotores são,
precisamente, aqueles que nos conduziram a situação de crise em que nos
encontramos: grandes empresas transnacionais, com o apoio ativo de governos e instituições
internacionais. Aquelas companhias que monopolizam o mercado da energia (Exxon,
BP, Chevron, Shell, Total), da agroindústria (Unilever, Cargill, DuPont,
Monsanto, Procter&Gamble), das farmacêuticas (Roche, Merck), da química
(Dow, DuPont, BASF) são as principais impulsionadoras da economia verde.
Assistimos a um novo ataque aos
bens comum onde quem sai perdendo somos os
99% e nosso planeta. E
especialmente comunidades indígenas e camponesas do Sul global, cuidadoras dos
ecossistemas, que serão expropriadas e expulsas de seus territórios em beneficio
das empresas transnacionais que buscam fazer negócio com os mesmos.
Com a cúpula da Río+20 se busca
criar, o que poderíamos chamar, “uma nova governança meio-ambiental internacional” que consolide a
mercantilização da natureza e que permita um maior controle oligopólio dos
recursos naturais. Em definitivo, despejar o caminho as empresas transnacionais
para apropriar-se dos recursos naturais, legitimando umas práticas de roubo
e usurpação. A resposta está em nossas
mãos: dizer “não” e desmascarar um capitalismo e uma economia que se pinta de verde.
Fonte site :http://blogs.publico.es/dominiopublico/5308/cuando-la-economia-y-el-capitalismo-se-tinen-de-verde/
por Esther Vivas
Tradução: Paulo Marques
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