A Venezuela tem no Brasil um de
seus principais parceiros nos campos econômico e social. No país venezuelano, o
Brasil contribui com projetos como o de construção de moradias e de uma
siderúrgica.
No ano de 2003, as trocas
comerciais entre Brasil e Venezuela movimentaram 880 milhões de dólares. Já em
2011, atingiram a marca de 5,9 bilhões de dólares, segundo dados do Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). No último período, o Brasil obteve um
superávit positivo, já que vendeu aos venezuelanos 4,7 bilhões de dólares e
importou 1,2 bilhão de dólares. O salto foi impulsionado pela construção de uma
relação bilateral entre os dois países, iniciada desde os primeiros momentos do
governo de Hugo Chávez.
O embaixador da República
Bolivariana da Venezuela no Brasil, Maximilien Arvelaiz, destaca que a parceria
não se limitou ao campo da economia e está centrada em um ambicioso projeto de
integração regional.
“É impossível imaginar qualquer
processo de mudança e de integração regional sem o Brasil como parceiro. E, por
isso, a primeira visita do Chávez como presidente eleito foi para o Brasil, no
final de 1998, quando ele saiu de Caracas para se reunir, em Brasília, com o
então presidente Fernando Henrique Cardoso.”
Na interpretação de Maximilien,
mais do que aproximar as duas nações, a cooperação mútua se transformou em uma
referência para os demais países da América Latina. Ele acredita que a
“tendência progressista” e a amizade entre Hugo Chávez e o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva colaboraram para que o processo fosse mais amistoso.
“A partir de 2003, com a eleição
do presidente Lula, deu-se um salto qualitativo extraordinário. E, a partir
daí, se estabeleceram várias áreas de cooperação, de parceria entre o Brasil e
a Venezuela, onde o elemento político foi um componente fundamental, uma
alavanca, de tal modo que a relação Caracas-Brasília é um eixo dinamizador
fundamental de todo esse processo de integração e de união que estamos vivendo
na América Latina desde o princípio dos anos 2000.”
Alto potencial e baixo IDH
A Venezuela acaba de ser
certificada como detentora da maior reserva de petróleo do mundo, com
aproximadamente 297 bilhões de barris. Possui 1,5 mil quilômetros de fronteira
com o Brasil, sendo a saída prioritária para o Caribe, a partir da região
amazônica brasileira. Essas características são consideradas estratégicas e
reúnem um potencial jamais explorado, como explica o chefe da Missão do
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) na Venezuela, Pedro Silva
Barros.
“Uma integração de infraestrutura
e produtiva entre a Amazônia – que é a maior reserva de biodiversidade do mundo
– com a faixa petrolífera do Orinoco vincularia o processo de desenvolvimento
das duas áreas e potencializaria o desenvolvimento dos dois países. São duas
áreas ricas, porém, com um índice de desenvolvimento menor que a média dos
respectivos países.”
A Venezuela é o segundo maior
parceiro comercial do Brasil, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. Barros
avisa que a relação de compra e venda entre Brasil e Venezuela, apesar de
robusta, não está assegurada e depende da aproximação entre os setores
produtivos.
“O principal desafio é
transformar o aumento do comércio em integração produtiva. Outro desafio é
vincular o processo de desenvolvimento econômico, social e político do Brasil
ao dos seus vizinhos, fortalecendo instituições multilaterais como o Mercosul e
a Unasul. Mas, também, promovendo projetos conjuntos, em particular nas áreas
de fronteira.”
A partir desse direcionamento
político, instituições oficiais se instalaram no país vizinho. Entre elas, o
Ipea, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Caixa
Econômica Federal. A parceria também abriu espaço para as empresas privadas,
sobretudo as empreiteiras, que hoje são responsáveis por grandes obras de
infraestrutura – tocadas com financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES).
Os empreendimentos mais
importantes são as pontes sobre o Rio Orinoco - o segundo maior da América do
Sul, em volume d’água; expansão do metrô de Caracas; construção de uma
siderúrgica; estaleiro para a fabricação de embarcações petroleiras; e
participação no principal programa do governo destinado a construção de
moradias populares.
Mundo multipolar
O Brasil não é a única prioridade
da política externa de Hugo Chávez. A cada dia se estreitam mais as relações
com os países que apresentam maior índice de desenvolvimento de suas economias,
os chamados Brics.
Em 1998, os Brics responderam por
5% das importações venezuelanas, enquanto os Estados Unidos forneceram 43% dos
produtos que a Venezuela comprou naquele ano. Já em 2010, os Brics dominavam
21,5% desse mercado, diante de uma redução da participação estadunidense, que
chegou a 31%. Barros argumenta que essa reconfiguração nas relações econômicas
é intencional e está atrelada a um direcionamento político.
“O Brasil, a China e a Rússia
aumentaram muito a presença na Venezuela em detrimento de uma hegemonia nas
relações que existiam antes com os Estados Unidos. Isso aconteceu em várias
outras partes do mundo. O Brasil, a Índia, a China e a Rússia aumentaram o seu
papel, mas no caso da Venezuela há um componente que não é apenas o aumento do
peso que os países dos Brics tiveram, mas combina com um componente político
também.”
A tese de Pedro Barros é
confirmada por Maximilien Arvelaiz, que compreende o modelo de cooperação
venezuelano como um esforço geopolítico para a construção de um “mundo
multipolar”.
“Muitas soluções nós podemos
conseguir mirando em países irmãos da África, da Ásia, como China e Vietnã, e a
Rússia – para falar de Europa. Enfim, países que têm tradição industrial e
econômica que são muito importantes para nós. Assim, podemos chegar a um mundo
multipolar, com várias regiões que buscam o equilíbrio. Um mundo de paz e com
mais justiça social.”
Fonte: site radioagenciaNP - por Jorge Américo,
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