por Carlos Aznáre
Resumen Latinoamericano/ 14 de
novembro de 2015 – Outra vez Paris se converteu em um campo de batalha. Dezenas
de mortos, centenas de feridos e os discursos de resposta do governo francês
frente ao ataque jihadista são os mesmos escutados nos Estados Unidos e na
Espanha quando ações similares geraram idênticos massacres. Frente ao horror se
quer responder com mais horror. Fala-se nas manchetes dos principais meios com
total clareza que, “agora sim começou a guerra”, ou se alimenta a ideia (em
forma direta ou dissimulada) de que o mundo árabe e muçulmano atenta contra a
sacrossanta democracia francesa, mesmo sabendo que quase a totalidade dessa
coletividade repudia o ISIS e seus protetores.
Tem muita razão o presidente
sírio Bashar Al Assad quando, depois de declarar pesar pelas vítimas dos
atentados, lembra que “a França conheceu ontem o que vivemos na Síria há cinco
anos”. E diz precisamente que em inúmeras ocasiões tentou – como antes tinha
dito o líder líbio Kadaff – convencer os governantes franceses a não armarem,
equiparem logisticamente e financiarem com milhões de dólares os exércitos
mercenários que semeiam o terror, a morte e o desesperado desterro de centenas
de milhares de sírios e iraquianos. Em cada ocasião que esta mensagem ressoava
nos fóruns internacionais, a posição francesa sempre foi a mesma: ratificar sua
crença de que exportando a guerra, aliando-se à OTAN e subordinando-se ante o
mandato imperial monitorado por Washington, “o problema sírio”, ou seja, o tão
alentado enfraquecimento de Al Assad, ia ser resolvido.
Está claro que, como ocorreu com
os governantes direitistas espanhóis em 11 de março de 2004, o tiro saiu pela
culatra. Nessa ocasião, o jihadismo, ao qual a Espanha e sua aliança com a OTAN
quiseram combater mediante sua presença no Iraque e Afeganistão, decidiu
responder com o mesmo remédio, e como em Paris agora, os que pagam pelas ações
dos poderosos sempre são os cidadãos comuns, cuja única culpabilidade, se é que
podemos dizer assim, talvez seja votar e catapultar à presidência esses
assassinos seriais que depois os condenam à morte.
Agora, como ocorreu no mesmo
cenário com o massacre de Charlie Hebdo, volta a se sentir as tão repetidas
considerações hipócritas. Mais uma vez, os chefões europeus prometem mais
medidas repressivas, mais censura, mais fabricação de armamento para alimentar
intervenções bélicas. Juram que “hoje somos França”, em vez de prometer ante as
vítimas: “Nós sairemos da OTAN”.
Com essas e outras atitudes
similares, deixam exposto que junto com os assassinos de um jihadismo que não
representa de nenhuma maneira o islã, eles – os Hollande, Sarkozy, Rajoy,
Merkel e aqueles que patrocinam a partir do Pentágono, são os principais
responsáveis por estas ações bárbaras. Alimentam-nas perseguindo até a exaustão
os muçulmanos da periferia de Paris e das diversas cidades francesas, negando a
eles o uso de recintos para fazer suas orações ou gerando invasão das
mesquitas, onde era comum praticar pacificamente seu direito à reza. Ali, são
exemplo as leis que proíbem desde 2011 o uso do véu e também da saia islâmica e
da burca nos espaços públicos, não obrigando da mesma maneira cidadãos
franceses que comungam o judaísmo, segregando o mundo islâmico e exibindo-o
ante a sociedade francesa como “o inimigo”, da mesma maneira que Israel faz com
os palestinos há mais de seis décadas.
Não é segredo para ninguém e
menos para os desvalorizados Serviços da Inteligência francesa, que muitos dos
humilhados, desempregados e perseguidos por leis draconianas e racistas que
habitavam na “Banlieue” parisiense, foram cooptados primeiro pela Frente Al
Nusra e, depois, diretamente pelo ISIS para que participassem da experiência de
semear o terror na Síria e Iraque. O mais paradoxal é que saíram do território
francês em inúmeras ocasiões com a aprovação de um governo que os sentiu como
seus “soldados avançados”. Nesse momento, os massacres que esses mercenários
empreendiam em Mossul, Raqqa, Aleppo, Homs ou em Palmira, não preocupavam
Sarkozy nem Hollande. Eram “danos colaterais” distantes da comodidade parisiense
que até esse momento parecia blindada, inviolável. Também nada disseram de
importante sobre o sangrento atentado cometido esta semana no Líbano e
certamente muito festejado em Tel Aviv e na Casa Branca, já que nessa ocasião a
matança ocorria em um bairro controlado pelo Hezbolah. Neste caso, os mortos
eram tão árabes como os palestinos assassinados nestes dias na Cisjordânia ou
em Gaza, cujos nomes não contam para as grandes mídias, como tampouco a dor de
seus familiares ou as imagens dantescas de suas casas arrasadas.
Isso não tem outro nome: duas
medidas, práxis mentirosa, ódio ao diferente.
O que agora ocorreu em Paris tem
também outra explicação não menos importante. Nos últimos meses no cenário
sírio ocorreu um fato que mudou a relação de forças. A Rússia decidiu intervir,
a pedido de um governo e um povo assediados pelo terror, e o fez à sua maneira,
obtendo êxitos imediatos na luta contra o ISIS e demonstrando que todas as
ações anteriores, propagandeadas pela OTAN e os Estados Unidos, tinham sido uma
farsa gigantesca.
Golpeado em suas principais
bases, destruídos muitos de seus depósitos de armas e sentindo-se traídos por
aqueles que os acolheram na Arábia Saudita, Turquia e países ocidentais, muitos
dos mercenários optaram por retornar a seus locais de origem, entre eles os
europeus. Tanto é assim, que esse “retorno” foi antecipado por alguns analistas
franceses, que asseguravam que “agora o perigo pode estourar em nossos próprios
pés”.
Disso se trata precisamente esta
repudiável vingança jihadista, que mais além do falso pranto daqueles que os
governam, deveria ser um chamado urgente para que a sociedade francesa, como
outras do continente europeu, decida questioná-los e exigir que abandonem suas
ideias expansionistas, intervencionistas e autoritárias. Que cessem os
comportamentos xenófobos, como os que a poucas horas de ocorrer estes
atentados, já geraram o incêndio de um campo de imigrantes refugiados em
Calais. Que olhem aqueles que fogem das guerras provocadas pela OTAN, como
irmãos e não como inimigos. Que se voltem para os comportamentos humanitários e
não busquem desculpas, entendendo que somente existem homens e mulheres que
querem ser tratados como tais e não como cidadãos de segunda classe.
Talvez estas circunstâncias
marcadas pela dor possam servir de ponto de inflexão, a fim de buscar um ponto
de início diferente. Se isto não acontecer, como parece provável pelo visto,
ninguém, absolutamente ninguém terá direito de se perguntar, quando o horror se
repetir: “Por que nós…?”.
Fonte: http://www.resumenlatinoamericano.org/2015/11/14/especial-atentados-en-francia-el-horror-en-paris-es-diferente-al-de-siria-iraq-palestina-y-el-libano-por-carlos-aznarez-y-otras-informaciones-sobre-lo-ocurrido-en-paris/
Fonte e Tradução: Partido
Comunista Brasileiro (PCB)
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