- Âgelo Alves
O Senado norte-americano discutiu
um relatório de 6000 páginas - das quais apenas 524 foram desclassificadas -
sobre um assunto que mereceria a maior atenção de todo o Mundo. O pouco que se
conhece do relatório confirma aquilo que já se sabia: a CIA, sob as ordens do
presidente Bush, desenvolveu um chamado «programa de detenção e interrogatório»
que incluía «técnicas reforçadas de interrogatório», ou seja as mais abjectas
torturas praticadas em Guantánamo e em vários outros campos de detenção
espalhados pelo mundo. No sumário do relatório é possível identificar práticas
como tortura do sono durante semanas a fio, alimentação e hidratação forçada
por via retal, simulação de afogamento, isolamento, iminência de assassinato,
humilhações de variada espécie, estátua, entre outras. Técnicas de tortura,
algumas das quais muitos comunistas e outros democratas portugueses conhecem
bem e que, no tempo da ditadura fascista, eram já inspiradas nas «ordens» do
«Big Brother».
Este relatório apenas vem
confirmar aquilo que já se sabia: o carácter criminoso de um regime político de
uma grande potência capitalista, que se coloca acima da lei e de quaisquer
obrigações do direito internacional. Vem também reforçar a exigência de se apurar
toda a verdade quer no que toca à tortura, quer relativamente aos raptos, aos
chamados «voos da CIA» e à verdadeira dimensão dos campos de detenção,
nomeadamente na Europa, todos eles elementos de uma estratégia brutal.
Mas vem sobretudo colocar a questão
da responsabilização e da culpa. Tudo foi feito para adiar e esconder a
apresentação do conteúdo deste relatório. Após a divulgação do seu sumário
executivo o esforço foi direcionado para alimentar um criminoso e falso dilema
que se poderia resumir numa frase: «vale a pena torturar?».
A História dos EUA está feita de
crimes similares em que a culpa, directa e política, morre solteira. Estamos a
falar de brutais crimes, de terrorismo de Estado, de crimes contra a Humanidade
que numa outra qualquer situação já teriam sido motivo de várias resoluções do
Conselho de Segurança da ONU e muito possivelmente de uma agressão militar em
nome da «liberdade» e contra a «ditadura». Da nossa parte tão somente exigimos
que os responsáveis – executivos e políticos – sejam punidos, que as vítimas
sejam compensadas e que por todo o Mundo se retire a lição: um dos factores de
maior perigo na situação internacional são os EUA, o seu governo, as suas
forças armadas e as suas agências de terrorismo organizado.
Fonte:Avante. foto: internet
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