América Latina - Juan Manuel Karg,
tradução do Diário Liberdade- Recentemente se deu a conhecer um novo estudo de
uma ONG estadunidense, Freedom House, na qual se analisa por países a liberdade
de imprensa a nível mundial, dando ênfase especial na situação dos países da
América Latina.
Alguns meios de comunicação
privados do nosso continente velozmente publicaram conclusões da Freedom House,
a qual catalogaram como "organização independente". Agora, que níveis
de independência há detrás dessa ONG? Qual é sua principal fonte de
financiamento? A que países seu relatório questiona?
Em sua edição impressa do último
dia 2 de maio, o diário argentino Clarín informava sobre o estudo da Freedom
House, dando conta de que o relatório dessa ONG adverte sobre o "clima
altamente polarizado" no país governado por Cristina Fernández Kirchner,
enquanto sentencia que na Argentina há "liberdade de imprensa
parcial". Para o Clarín, a Freedom House é uma "organização
independente", tal como informa na mesma data, para logo depois esclarecer
que a informação apresentada teve a "particularidade de ser difundida na
sede do Departamento de Estado e com um funcionário de Barack Obama entre os
expositores".
Agora, é uma
"particularidade", tal como afirma o Clarín, que esse relatório tenha
sido apresentado conjuntamente com o governo estadunidense? Não. Basta entrar
no site da Freedom House (www.freedomhouse.com) e ir na seção
"Programas". Ali se afirma, textualmente, que "o financiamento
principal para os programas da Freedom House se apresenta em formas de doações
da USAID e do Departamento de Estado dos EUA". Ou seja: 80% dos fundos que
a Freedom House utiliza para suas atividades vem de Washington, o que, sem
dúvida, explica o local de apresentação do relatório.
Visto e considerando isso,
podemos adiantar uma conclusão a primeira vista: os países que principalmente
têm sido questionados pela Freedom House no nosso continente têm sido aqueles
onde se têm implementado legislações progressistas quanto à redistribuição
midiática. Vários exemplos mostram isso: nos primeiros lugares aparecem a
Venezuela – onde se implementou a Ley Resorte – e o Equador – onde, em 2013, se
aprovou a Ley Orgánica de Comunicación.
Depois, se menciona a Argentina – com a
aprovação da Ley de Servicios de Comunicación Audiovisual – e o Brasil, país
onde, atualmente, se está debatendo fortemente a necessidade de sancionar uma
lei de mídia. Falamos de todos os países com governo pós-neoliberais, que têm
implementado na última década políticas de questionamento do status quo
midiático, tentando problematizar o papel de grandes monopólios informativos.
Meios como Clarín e La Nación na Argentina, Globo e Folha no Brasil,
Globovisión e El Universal na Venezuela, La Hora e El Universo no Equador têm
sido exemplos dessa política onde "liberdade de empresa" e
"liberdade de imprensa" tem tido uma alarmante assimilação.
Por trás do relatório da Freedom
House, então, encontramos uma intenção política indissimulável: repreender, com
um suposto rigor técnico, as legislações que têm avançado em desmonopolizar o
âmbito das comunicações. Também, claro, repreender esses governos, que mesmo
assim têm avançado, em maior ou menor medida, em elementos transformadores em
aspectos econômicos e sociais em benefício das grandes maiorias,
diferenciando-se das políticas do "consenso de Washington". Como
temos visto, por trás do véu de uma suposta "independência" da
Freedom House se esconde nada menos que a Casa Branca e seus interesses –
midiáticos, comerciais e políticos – para a América Latina, seu outrora
"fundo de quintal".
Juan Manuel Karg, é licenciado em Ciência Política pela Universidad de
Buenos Aires e investigador do Centro Cultural de la Cooperación de Buenos
Aires.
Fonte: Diario Liberdade e Russia
Today
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