por Paulo Metri
Lembrei-me desta história quando
constatei que os jornalistas Paulo Moreira Leite, Paulo Henrique Amorim e
Fernando Brito escreveram ou transcreveram artigos defendendo o leilão do campo
de Libra. O mais interessante é que, contando de forma resumida, eles defendem
a tese que, se você é nacionalista, deve defender o leilão de Libra no modelo
proposto.
Conseguiram um grande feito, pois
têm a mesma opinião que a fina flor do mais conservador jornalismo econômico,
sendo nacionalistas. Assim, concordam com a posição de uma extensa lista de
articulistas dos grandes jornais, rádios, revistas e televisões.
Já escrevi muito sobre as razões
de o campo de Libra não dever ser leiloado. Além disso, os materiais existentes
nos sites da Aepet, do Sindipetro-RJ, da Agência Petroleira de Notícias e do
Clube de Engenharia, por exemplo, já explicam estas razões. Passo a explicar o
que pode ser feito com este campo, que não seria leiloado. Pode ser entregue à
Petrobras, sem leilão, desde que esta empresa assine um contrato de partilha
com a União, em que se compromete a remeter 80% do lucro líquido (excedente em
óleo) para o Fundo Social, seguindo o artigo 12 da lei 12.351. Nenhuma empresa
estrangeira aceitaria fazer uma remessa desta proporção para o Fundo Social.
Sobre o leilão de Libra, a
presidente da Petrobras afirmou que a empresa não teve seus arquivos invadidos,
de forma que este leilão não está comprometido. Não sou especialista em
proteção de computadores, mas não acredito na afirmação desta presidente. E,
para suportar minha discordância, cito a presidente da República, que disse que
a invasão da Petrobras tinha, exclusivamente, objetivo econômico. Ora, não
seria Libra o maior objetivo econômico, no momento atual, dentro da Petrobras?
A diretora-geral da ANP deu uma
declaração sobre este leilão de análogo teor. Queria saber a razão de tanto
desespero para leiloar Libra. Seria o problema do superávit primário? Hoje,
pode ocorrer qualquer denúncia sobre Libra, que ela será julgada irrelevante ou
uma iniciativa da oposição para atrasar o governo Dilma. Dei azar porque vejo
erros crassos neste leilão, já descritos por várias pessoas, inclusive por mim,
em artigos anteriores.
O TCU devia estar achando algo
errado também, antes de ser retirado do palco em um ato digno de um regime de
exceção. Alguém do governo já parou para pensar na indignidade que fizeram com
os técnicos do TCU?
Pela medida ilegal de lançar o
edital, antes de eles emitirem o parecer, pode-se deduzir que os técnicos são
“quintas colunas”, querendo boicotar o governo Dilma, ou são ociosos, uma vez
que estavam na praia e, por isso, não tiveram tempo, ou são incompetentes, pois
olhavam os papéis e não entendiam nada.
Contudo, o ministro Lobão deixou
tranquila a sociedade. Como bom técnico, resumiu dizendo algo como: “não tem
nada errado; o TCU não tinha grandes dúvidas; já está tudo aprovado”. Porém,
consta que este Tribunal não emitiu o parecer final. Também, não precisava
mais, uma vez que o ministro já o tinha emitido. Aliás, o ministro Lobão já
havia dito, como especialista em segurança das informações: “não há perigo de
informações do leilão terem vazado”. Ainda sobre o leilão, ele disse que o
cronograma permanecia “como programado.”
A presidente tem afirmado, usando
minhas palavras, que os leilões planejados para os próximos meses trarão um
ambiente econômico positivo, que será responsável pela continuação do
desenvolvimento. Pode até ser verdade, mas peço à presidente para pensar que
isto pode se dar a um alto custo democrático e social. Democrático, porque
forças sociais representativas, inclusive muitas aliadas de primeira hora da
presidente, não estão sendo ouvidas. O alto custo social é mais difícil de ser
explicado em um artigo, mas tem a ver com o modelo que, implicitamente, está
sendo aceito, o qual, no médio prazo, representará altos custos sociais.
Precisavam ser criadas agências classificadoras dos riscos sociais, para a
nossa presidente poder se basear nos seus indicativos na hora das decisões.
Libra está se tornando uma verdadeira catástrofe política, para algumas forças.
O PSDB, o DEM e o PPS, por ideologia, são favoráveis ao leilão.
Aliás, reconheço que, sob este
aspecto, são dignos de louvor, pois mantiveram sua posição histórica. O PT, por
incrível que pareça, está mudo, excetuando algumas lideranças. O PMDB, que é
uma confederação de vários PMDB regionais, tem algumas posições e várias não
posições. Outros partidos coadjuvantes do PT, como o próprio nome diz, são só
coadjuvantes. Então, viva o PSOL, o PSTU, o PCB e vários outros de esquerda. No
entanto, arrisco a dizer que, à medida que a sociedade se conscientizar do
descalabro que é o leilão de Libra, e ela vai se conscientizar, quem titubeou
no início ficará mal perante o eleitorado.
Paulo Metri é conselheiro do Clube de Engenharia
Blog do autor: http://paulometri.blogspot.com.br/
Blog do autor: http://paulometri.blogspot.com.br/
Fonte: correio da cidadania
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