Manning revelou coisas tão
erradas que seu juramento de patriotismo e seu respeito ético ao código militar
de conduta tiveram de ser postos de lado, diante de sua “moralidade fundamental”.
Essas palavras de John Watson,
professor de ética no jornalismo da American University, justificam a atitude
de Bradley Manning.
Mas não o absolveram de 19
acusações de crimes militares, que o condenaram a 35 anos de prisão.
Na verdade, Manning foi condenado
por denunciar crimes cometidos pelas forças armadas norte-americanas.
Para o governo dos EUA, que o
processou, em certos casos é mais grave a denúncia de crimes do que os próprios
crimes.
Bush e sua coterie enganaram o
povo norte-americano para poderem atacar o Iraque, sem motivo algum, causando a
morte e o sofrimento de milhões de pessoas, inclusive a morte de 4 mil de seus
soldados.
Jamais foram processados por
terem provocado uma guerra, o que o Tribunal de Nuremberg, criado para julgar
os crimes nazistas, considerou “o supremo crime internacional”.
Bush, também, ordenou
secretamente a vigilância das comunicações das pessoas, sem mandado judicial,
violando a Constituição.
Seu programa de “rendições” promoveu
secretamente o sequestro de suspeitos no exterior e sua tortura em casas
ocultas da CIA. Crime, segundo a constituição e as leis internacionais.
Obama recusou-se terminantemente
a processar qualquer dos envolvidos nessas ações criminosas.
No seu governo, casos de tortura
foram reportados no Afeganistão, em Guantánamo e na África. Novamente ninguém
foi submetido a processo.
A prisão de Guantánamo, condenada
em todo o mundo, que Bush fundou, foi mantida por Obama. Hoje, entre os 166
detentos, há 86 já isentados de qualquer acusação. Mesmo inocentes, ficaram
presos por muitos anos. E lá continuam.
Uma interpretação distorcida da
lei coloca os detentos de Guantánamo num limbo legal, sem proteção, nem das
leis norte-americanas, nem da Convenção de Genebra.
O assassinato de suspeitos por
drones no Paquistão, embora também atingisse centenas, senão milhares de civis
inocentes (obra de Bush), foi multiplicado por Obama.
Ele incluiu ainda o Afeganistão e
o Iêmen nos países objetos da ação mortal dos drones. Condenar à morte sem
julgamento é proibido pela Constituição dos EUA.
Por iniciativa do Congresso e
aprovação de Obama, instituiu-se uma lei que permite ao presidente mandar
prender suspeitos e mantê-los encarcerados indefinidamente, sem julgamento.
Novo desrespeito à Constituição de Jefferson, Washington, Tom Payne e outros
pais da pátria.
No escândalo de Abu Ghraib, que
chocou o mundo, o coronel Thomas Papas, supervisor do brutal tratamento de
centenas de detentos, foi processado, sim. No entanto, pegou apenas uma multa
de 8 mil dólares...
Enquanto isso, Bradley Manning,
que foi submetido a uma prisão abusiva, passando inclusive muitos meses em
prisão solitária, recebeu uma pena duríssima.
Crimes muito mais graves do que
as infrações de Manning contra códigos militares não são sequer levados a
julgamento pelo governo estadunidense. E perdoa seus agentes quando também agem
assim.
Tal governo se dá o direito de
desrespeitar as leis internacionais e norte-americanas, sempre que lhe
interessa.
Mas denunciar as coisas que quer
esconder por receio da opinião pública, isso é imperdoável. Que as penas da lei
caiam sobre o atrevido!
Luiz Eça é jornalista.
fonte: Correio da cidadania
fonte: Correio da cidadania
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