O jornalista e escritor Emiliano
José teve a coragem de denunciar através da imprensa – artigo n’A Tarde de
11/02, o pastor Átila Brandão como torturador à época da Ditadura Militar,
tendo como testemunhas Dona Maria Helena Afonso de Carvalho e seu filho, o
historiador e professor Renato Afonso de Carvalho. Ela era uma espécie de
genitora de muitos presos políticos que afetuosamente a conheciam como Dona
Yaiá.
Evangélicos progressistas solidarizaram-se com Emiliano reafirmando o
carreirismo e reacionarismo deste pastor que desde os tempos em que estudava na
faculdade de direito na UFBA, contemporâneo de Renato Afonso, perseguia
estudantes a serviço dos órgãos de informação. Incomodado com sua exposição
pública, Átila Brandão encaminhou queixa-crime por calúnia visando processar e
intimidar Emiliano. Com forte dose de apelo moralista - própria de religiosos
fundamentalistas -, Átila Brandão é pessoa conhecida no mundo evangélico, além
de ostentar funções de representação diplomática, como se tal título fosse passaporte
à impunidade.
Neste ínterim, Emiliano voltou à
carga e, criterioso com suas fontes, fez longa entrevista com Renato Afonso que
resultou no artigo Corpo amputado querendo se recompor, já postado no site da
Revista Carta Capital, onde não só confirma o fato da tortura no Quartel de
Dendezeiros, como narra outros episódios de perseguição e sofrimento
vivenciados em masmorras no Rio de Janeiro, nos anos 70, auge da ditadura
militar. Por pouco Renato Afonso não teve o destino de tantos combatentes que
sofreram sevícias até a morte, algumas indizíveis como as relatadas pelo cruel
delegado Cláudio Guerra, através do livro Memórias de Uma Guerra Suja e em
recente edição da mesma Carta Capital.
Jornalista, escritor e suplente
de deputado federal pelo PT, Emiliano José, amargou 4 anos de prisão e sofreu
na própria pele a violência das torturas tantas vezes relatadas por ele mesmo
sobre outras pessoas em dezenas de artigos e livros que prolificamente vêm
produzindo. O marco desta missão que se impôs foi 'Lamarca, o capitão da
guerrilha', junto com o ex-preso e jornalista Oldack Miranda, lançado ainda em
1989, numa época de muitas incertezas sobre o futuro de nossa titubeante
democracia.
O compromisso e a coragem de
Emiliano com a Memória e a Verdade marca sua trajetória de vida desde os tempos
de sua militância estudantil, quando foi líder nacional pela UBES - União
Brasileira de Estudantes Secundaristas, passando pela cidadania ativa que
exerceu ainda na cadeia e, em seguida como dedicado professor e parlamentar
atuante. Este episódio, como tantos outros relatados por Emiliano ganha
especial ressonância ao inserir-se entre as iniciativas que a Comissão Nacional
da Verdade e o Comitê Baiano Pela Verdade estão tomando para identificar
pessoas e instituições que se prestaram a ilegalidades e violações, feriram a
dignidade humana, ceifaram vidas ou deixaram marcas no corpo e na alma de
milhares de brasileiros e baianos inconformados com o fim da democracia e das
liberdades. Dar publicidade e expor o
pastor e ex-militar Átila Brandão à vergonha de seus familiares, amigos e
funcionários por um passado tão repelente é o mínimo que podemos fazer
testemunhando em solidariedade ao cidadão Emiliano José.
Salvador, 07 de maio de 2013
- José Carlos Zanetti – economista,
assessor de projetos da CESE e membro do Comitê Baiano Pela Verdade
- Eliana Rolemberg – socióloga,
Diretora Executiva da CESE
- Diva Santana – vice-presidene
do Grupo Tortura Nunca Mais e membro da Comissão da Familiares de Mortos e
Desaparecidos Políticos
- Joviniano Carvalho Neto –
sociólogo, professor de Ciência Política e presidente do Grupo Tortura Nunca
Mais
- Penildon Silva Filho –
Professor da UFBA
- Andrea Tourinho –Defensora
Pública do Estado da Bahia e Professora Universitária-
- Sérgio Luís Bertoni - Mestre em
Filosofia, presidente da Fundação Blogoosfero
Fonte: Fundação Blogoosfero
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