
O influente diário mexicano La
Jornada publica um texto do professor e jornalista francês Salim Lamrani, que
demonstra a falsa liderança da blogueira Yoani Sánchez na rede social twitter,
alcançado não por seguimento natural de audiência, mas pela intervenção de
tecnologias e grandes somas de dinheiro.
A quarta parte dos partidários de
Yoani no twitter são fantasmas sem seguidores ou “mudos” que jamais escreveram
um tuiter. Em junho de 2010, a blogueira chegou a ter, em um único dia, 700
novos adeptos, o que só é possível através de robôs de software – já que ela
diz que tem acesso à internet apenas via celular ou a por uma conexão semanal
em um hotel.
Quem está por trás de Yoani
Sánchez?
Salim Lamrani
Yoani Sánchez, famosa blogueira
cubana, é uma personagem peculiar no universo da dissidência cubana. Nenhum
opositor foi beneficiado a exposição midiática tão massiva, nem de um
reconhecimento internacional semelhante em tão pouco tempo. Após emigrar para a
Suíça em 2002, ela decidiu retornar a Cuba dois anos depois, em 2004. Em 2007,
integrou o universo de opositores a Cuba ao criar seu blog “Generación Y”, e se
torna uma crítica feroz ao governo de Havana.
Nunca um dissidente cubano –
muito menos no mundo – conseguiu tantos prêmios internacionais em tão pouco
tempo e com uma característica particular: deram a Yoani Sánchez dinheiro
suficiente para viver tranquilamente em Cuba até o resto de sua vida. Na realidade,
a blogueira tem retribuído à altura os 250 mil euros que recebeu, o que equivale a mais de 20 anos do
salário mínimo em um país como a França, a quinta potência mundial. O salário
mínimo em Cuba é de 420 pesos, o equivalente a 18 dólares ou 14 euros. Isto é,
Yoani Sánchez recebeu 1.488 anos de salários mínimos cubanos por sua atividade
opositora.
Yoani Sánchez tem estreita
relação com a diplomacia estadunidense em Cuba, como demonstra um documento
“secreto”, por seu conteúdo sensível, emitido pela Seção de Interesses
Norteamericanos (Sina). Michael Parmly,
ex-chefe da Sina em Havana, que se reunia regularmente com Yoani Sánchez em sua
residência diplomática pessoal como indicam os documentos confidenciais da
Sina, manifestou a sua preocupação em relação à publicação dos documentos
diplomáticos dos EUA pelo WikiLeaks: “Ficaria muito incomodado se as numerosas
conversações que tive com Yoani Sánchez fossem publicadas. Ela poderia pagar as
consequências por toda a sua vida”. A pergunta que vem imediatamente à mente é
a seguinte: por quais razões Yoani Sánchez estaria em perigo se a sua atuação,
como afirma, respeita o marco da legalidade?
Em 2009, a imprensa ocidental
divulgou massivamente a entrevista que o presidente Barack Obama havia
concedido à Yoani Sánchez, e que foi considerado um fato excepcional. Yoani
também afirmou que enviou um questionário similar ao presidente cubano Raúl
Castro e que o mesmo não se dignou a respondê-lo. No entanto, os documentos
confidenciais da Sina, publicados por WikiLeaks contradizem essas declarações.
Foi descoberto que foi um funcionário da representação diplomática
estadunidense, em Havana, quem, de fato, redigiu as respostas à dissidente e
não o presidente Obama.
Mais grave ainda, Wikileaks
revelou que Yoani, diferente de suas afirmações, jamais enviou um questionário
a Raúl Castro. O chefe da Sina, Jonathan D. Farrar, confirmou a informação
através de um e-mail enviado ao Departamento de Estado: “Ela não esperava uma
resposta dele, pois confessou que nunca enviou (as perguntas) ao presidente
cubano”.
Além do sítio Generación Y, Yoani
Sánchez tem uma conta no twitter com mais de 214 mil seguidores (registrados
até 12 de fevereiro de 2012). Somente 32 deles moram em Cuba. Por outro lado, a
dissidente cubana segue a mais de 80 mil pessoas. Em seu perfil, Yoani se
apresenta da seguinte maneira: “Blogger, moro em Havana e conto a minha
realidade através de 140 caracteres. Tuito, via sms sem acesso à web”. No
entanto, a versão de Yoani Sánchez merece pouco crédito. Na realidade é
absolutamente impossível seguir mais de 80 mil pessoas apenas por sms, a partir
de uma conexão semanal em um hotel. É indispensável um acesso diário para isso
na rede.
A popularidade na rede social
twitter depende do número de seguidores. Quanto mais numerosos, maior a
exposição da conta. Da mesma maneira, existe uma correlação entre o número de
pessoas seguidas e a visibilidade da própria conta. A técnica que consiste em
seguir diversas contas é utilizada para fins comerciais, assim como para a política
durante as campanhas eleitorais.
O sítio www.followerwonk.com
permite analisar o perfil dos seguidores de qualquer membro da comunidade do
twitter. O estudo do caso Yoani Sánchez é revelador em vários aspectos. Uma
análise dos dados da conta do twitter da blogueira cubana, realizada através de
seu sítio, revela que a partir de 2010 houve uma atividade impressionante de
sua conta. A partir de junho de 2010, ela se inscreveu em mais de 200 contas
por dia, em uma velocidade que poderia alcançar até 700 contas em 24 horas.
Isto é, passar 24 horas diretas fazendo isto – o que parece improvável. O
resultado é que é impossível ter acesso a tantas contas em tão pouco tempo.
Então, parece que isto só é possível através de um robô.
Da mesma maneira, descobrimos que
cerca de 50 mil seguidores de Yoani são, na realidade, contas fantasmas ou
inativas, que criam a ilusão de que a blogueira cubana goza de uma grande
popularidade nas redes sociais. Na realidade, dos 214.062 perfis da conta
@yoanisanchez, 27.012 são novos (e sem fotos) e 20.600 são de características
de contas fantasmas com atividades inexistentes na rede (de 0 a 3 mensagens
enviadas desde a criação da conta). Entre estes fantasmas que seguem Yoani no
twitter, 3.363 não têm nenhum seguidor e 2.897 seguem somente a blogueira,
assim como a uma ou duas contas. Algumas apresentam características bastante
estranhas: não têm nenhum seguidor, seguem apenas Yoani e emitiram mais de duas
mil mensagens.
Esta operação destinada a criar
uma popularidade fictícia, via twitter, é impossível de ser realizada sem
acesso à internet. Necessita de um apoio tecnológico e um orçamento
consequente. Segundo uma investigação realizada pelo diário La Jornada, com o
título “El ciberacarreo, la nueva estrategia de los políticos en Twitter”,
sobre operações que envolviam os presidenciáveis mexicanos, diversas empresas
dos Estados Unidos, Ásia e América Latina oferecem este serviço de popularidade
fictícia (“ciberacarreo” ou em português ciber transporte) por elevados preços.
“Por um exército de 25 mil seguidores inventados no twitter , escreveu o
jornal, pagam até dois mil dólares, e por 500 perfis manejados para 50 pessoas
é possível gastar entre 12 mil a 15 mil dólares”.
Yoani Sánchez emite, em média,
9,3 mensagens por dia. Em 2011, a blogueira publicou uma média de 400 mensagens
por mês, O preço de uma mensagem em Cuba é de um peso convertido (CUC), o que
representa um total de 400 CUC mensais. O salário mínimo em Cuba é de 420 pesos
cubanos, ao redor de 16 CUC. Yoani Sánchez gasta, por mês, o equivalente a dois
anos de salários mínimos em Cuba. Assim, a blogueira gasta em Cuba com o
twitter, um valor correspondente, caso fosse francesa, a 25 mil euros mensais
ou 300 mil euros por ano. Qual a procedência desses recursos para estas
atividades?
Outras perguntas surgem de
maneiras inevitáveis. Como Yoani Sánchez pode seguir a mais de 80 mil contas
sem acesso permanente a internet? Como conseguiu se inscrever em 200 contas
diferentes por dia, desde de junho de 2010, com índices que superam até 700
contas/dia? Quantas pessoas seguem realmente as atividades da opositora cubana
na rede social? Quem financia a criação das contas fictícias? Qual o objetivo?
Quais os interesses escusos detrás na figura de Yoani Sánchez?
* Salim Lamrani é graduado na
Universidade de Sorbone, professor encarregado dos cursos da Universidade
Paris-Descartes e da Universidade Paris-Est Marne-la-Vallée e jornalista
francês, especialista nas relacões entre Cuba e Estados Unidos. Autor de Fidel
Castro, Cuba y Estados Unidos (2007) e Doble Moral. Cuba, la Unión Europea y
los derechos humanos (2008), entre outros livros.
Iroel Sánchez em La Pupila Insomne. Tradução de Sandra Luiz Alves
Fonte>site ujs.org
Nenhum comentário:
Postar um comentário