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quarta-feira, 30 de maio de 2012

Fascistas*


 foto:crédito: ODiario.info


Se os fascistas e a extrema-direita ganham força eleitoral nos dias de hoje, é o capitalismo em crise e as suas medidas de bárbara agressão contra os trabalhadores e os povos quem lhes abre caminho. Mas os mais hábeis fascistas são os que não vestem como tal.

As votações obtidas recentemente por forças de extrema-direita e abertamente fascistas em França e na Grécia – que seguem uma significativa tendência instalada em boa parte da UE – justificam alerta e análise.

Desde logo, há duas coisas que será fundamental ter em conta neste quadro. Uma é que a cada um dos votos que essas forças vêm obtendo não corresponde necessariamente um fascista. A outra é que o facto de alguns fascistas fazerem um tão grande esforço para se parecerem com fascistas serve para ocultar outros que cuidadosamente se fazem passar por outra coisa.

Se os fascistas e a extrema-direita ganham força eleitoral nos dias de hoje, um dos motivos por que tal sucede já Dimitrov o assinalava em 1935: «o fascismo consegue atrair as massas porque faz apelo, de forma demagógica, às suas necessidades e aspirações mais sentidas». Não é verdade que Marine Le Pen fez campanha junto dos agricultores reclamando a reforma da PAC? Não é verdade que os fascistas gregos fizeram a sua campanha, violentamente racista, com o slogan «do povo e para o povo»? Não é verdade que a campanha (ela própria fascizante) que visa fazer equivaler comunismo e fascismo facilita o voto popular em fascistas?

É o capitalismo em crise e as suas medidas de bárbara agressão contra os trabalhadores e os povos quem lhes abre caminho. Lembremos ainda Dimitrov: «não pode subestimar-se a importância de que se revestem [para o avanço do fascismo] as medidas reacionárias da burguesia que se agravam hoje nos países de democracia burguesa e que esmagam as liberdades dos trabalhadores», palavras tão válidas em 2012 como o eram em 1935.


Os mais hábeis fascistas são os que não vestem como tal. Basta ver como estão bem representados(as) entre os habituais «comentadores» que enchem as televisões. E, se tivermos em conta a análise de Umberto Eco (sobre o «fascismo eterno»), veremos como um canal de televisão por cabo preenche o requisito – correspondente à irracionalidade do «culto da tradição» fascista – de associar «o Graal, a alquimia, Santo Agostinho e Stonehenge». Trata-se, claro, do canal «História», essa eclética mistura de anticomunismo, Salazar e extra-terrestres.
Filipe Diniz

*Este artigo foi publicado no “Avante!” nº 2007, 17.05.2012

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