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sexta-feira, 9 de março de 2012

Indicação de membros da Comissão da Verdade pode sair na próxima semana, diz Vannuchi

Por: Suzana Vier, Rede Brasil Atual.

O ex-ministro Paulo Vannuchi: Comissão da Verdade terá papel importante para coibir novos regimes autoritários (Foto: Elza Fiúza/ABr/arquivo) 


São Paulo – O ex-ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos Paulo Vannuchi afirmou ontem (8), durante sessão da Comissão de Anistia na capital paulista, que há “rumores” de que a presidenta Dilma Rousseff indicará na próxima semana os sete membros que vão compor a Comissão da Verdade. Ele analisou que o governo federal precisa enfrentar as resistências à comissão com serenidade e que o país precisa fazer “a terapia necessária” para evitar que a ditadura e toda a violência daquele período ocorram novamente. “Não há nenhum sentimento revanchista, de vingança. Há um sentimento de busca de verdade, de memória”, expressou.

De acordo com Vannuchi, “houve um aquecimento do ambiente com a manifestação (de clubes militares e seus pares na reserva)”, no mês de fevereiro, contrários à comissão, e uma reação adequada da presidenta Dilma e do ministro da Defesa Celso Amorim. Contudo, após alguns meses da sanção da comissão, que ocorreu em novembro do ano passado, ela “não pode ficar assim solta”. “Quando aparecem os nomes as coisas se corporificam”, apontou. “Os rumores são esses. Vamos aguardar para ver se surgem.”

Em manifesto divulgado em 16 de fevereiro, clubes de militares fizeram críticas à presidenta, dizendo que ela se afastava de seu papel de estadista ao não “expressar desacordo” sobre declarações recentes de auxiliares e do PT contra a ditadura. Após mal-estar e intervenção do Planalto, de Amorim e dos comandantes das Forças, os clubes retiraram o texto da internet. No dia 28 de fevereiro, militares da reserva reforçaram os ataques, em nota assinada por 98 militares intitulada “Eles que Venham. Por Aqui Não Passarão”.


O ex-ministro e militante de direitos humanos lamentou a desqualificação da violência empregada durante a ditadura no país. “Não pode o general que falou com (a jornalista) Miriam Leitão provocativamente dizer: ‘A Dilma foi torturada, isso é o que ela diz. Será verdade?’. As pessoas podem continuar sendo simpáticas a opiniões de direita, a democracia permite isso, todos têm direito de pensar o que quiserem, podem não votar na Dilma, não podem mais ficar com essa desqualificação de dizer ‘não, Vladimir Herzog morreu sob tortura é apenas uma das hipóteses’. Não. O Brasil tem de afirmar claramente. Já há sentenças judiciais sobre isso, indenizações foram pagas.”
Impunidade

Vannuchi sugere que o mais importante no trabalho da Comissão da Verdade é “quebrar a impunidade”. Ele defende que, embora a comissão não tenha poder para punir, é preciso comprovar a certeza da impunidade acabou. “Esse pessoal só se manifestou porque eles perdem o sono, telefonam entre si para saber se vão ser punidos como na Argentina e no Chile”, analisou.

Mesmo que a comissão seja “meramente simbólica”, haverá uma punição, na opinião do ex-ministro, que pode ser uma ação declaratória com os nomes dos que forem apontados como torturadores, coniventes com assassinatos, com estupros de presos políticos. “Será a primeira vez no Brasil que se faz uma punição dessa natureza. Não há nenhuma punição pelo massacre durante a escravidão, pelo genocídio indígena, pela ditadura do Estado Novo.”
Terapia nacional

Para o ex-ministro, o debate sobre a Comissão da Verdade não representa o desejo da esquerda, mas da democracia e da República. Ele também aponta que o esquecimento pode levar a novas tragédias. “Estamos discutindo que vai nascer um Brasil melhor se ele fizer a terapia necessária agora e conhecer seus problemas e criar cuidados, leis e regras para não acontecer de novo. Aconteceria a continuidade de um Brasil violento e pior se por acaso prevalecesse o ponto de vista de quem quer por uma pedra sobre esse passado, não conversar mais sobre isso. E esse ponto de vista vai ser derrotado.”

Vannuchi participou da 55ª Caravana da Anistia, que homenageou Encarnácion Lopez Peres e Denise Crispim, mãe e filha torturadas, presas e exiladas durante a ditadura, e Eduarda Leite, filha de Denise que nunca conheceu o pai, Eduardo Leite (Bacuri), morto após 109 dias de tortura.

Fonte:  site  Rede Brasil Atual

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