Diante de tantas ilegalidades, imoralidades e crimes internacionais- basta olharmos para o recente caso da invasão- efetuada pela OTAN, a Líbia e o mais, muito provavelmente, condenável comportamento da mídia mundial na cumplicidade desses vexames, agora é o Estado de Israel no uso de uma de suas atribuições mais específicas- a execução do terrorismo e do genocídio sobre povos palestinos- que volta ao cenário mundial a partir de vetores do jornalismo comprometido com a informação da verdade.
A saga do Estado sionista parece não ter limites, e o que é pior, conta com a cumplicidade dos mesmos detentores de poder que, há séculos, vêm disseminando suas invectivas e ajudando a anestesiar as massas para adaptá-las aos seus propósitos mais torpes. Mas, como afirmou Copérnico: a terra gira ao redor de seu próprio eixo e lança-se ao espaço ao redor do sol numa espetacular dança que um dia será melhor clareada. Johannes Kepler o faria algum tempo depois.
Não passará muitos até que um dia eles serão, finalmente, desmascarados, quando ai então todos, saberão e tomarão ciência de sua verdadeira natureza.
A produção que segue abaixo, demonstra-nos, que há muito por fazer. Boa leitura. Vamos a ela?
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Baby Siqueira Abrão*
Israel admitiu ter usado fósforo branco em 2006, contra o Líbano, e em 2008-2009, em Gaza. O problema é ainda mais grave porque vários metais muito tóxicos foram acrescentados às bombas de fósforo branco. Além de ferir, mutilar e matar pessoas no momento em que são aspirados ou tocam a pele, esses metais produzem mutações genéticas.
Carta Maior - 27/08/2011
A nova investida do governo israelense na Faixa de Gaza levanta algumas questões muito importantes. A primeira é o ataque a alvos civis, segundo documentou o Centro de Direitos Humanos Al-Mezan, de Gaza. Mísseis foram atirados diretamente sobre transeuntes e motoristas, matando-os e matando quem estava por perto. “Trata-se de execução sumária”, protestou o Al-Mezan. Casas, armazéns, plantações, sedes de ONGs e até uma estação de saneamento foram parcial ou totalmente destruídas.
Dessa vez, o primeiro ministro de Israel, Benjamin Netanyhau, foi obrigado a reconhecer que suas forças armadas tinham passado do limite ao recomendar “ataques cirúrgicos” a alvos “militares”. Ele se referia a residências de líderes e campos de treinamento das brigadas palestinas que costumam lançar foguetes Qassam, de fabricação caseira, no sul de Israel. Se até Netanyhau, conhecido pelas posições extremistas e as soluções de força, fez esse tipo de indicação, imagine-se o caos em que se encontra a faixa costeira palestina.
A segunda questão diz respeito às substâncias químicas com que Israel fabrica bombas e mísseis atirados contra a população palestina.
Recentemente, líderes do comitê de luta popular de Al-Wallajah, vila de refugiados próxima a Belém, denunciaram o uso de um tipo de arma desconhecido, de cor preta e tamanho menor do que os cânisters comumente utilizados pelo exército sionista, que liberou um gás muito forte. Esses mesmos líderes viram os soldados israelenses pegarem os cilindros protegidos com luvas grossas e papelão. “É óbvio que eles não quiseram deixar nenhum cânister no terreno, para evitar que descobríssemos que substâncias havia ali dentro”, afirmou Mazin Qumsieh, ativista de direitos humanos e professor da Universidade de Belém.
No primeiro dia de 2011, elementos químicos desconhecidos misturados ao gás pimenta mataram Jawaher Abu Rahmah, 35, pacifista da vila de Bil’in, a 17 quilômetros de Ramallah, na Cisjordânia. Ela sofreu asfixia, ficou inconsciente e foi levada ao hospital, onde faleceu. Médicos que a atenderam desconfiaram de que, pelo conjunto de sintomas que Jawaher apresentou, e pela devastação orgânica causada pelo gás, possivelmente havia fósforo branco misturado a ele. O fósforo branco causa queimaduras profundas dentro e fora do corpo, e pode matar ao ser inalado. Seu poder tóxico e letal levou à proibição de seu uso pelas Convenções de Genebra.
Em 15 de maio deste ano, dia em que os palestinos rememoram a Nakba (catástrofe) – processo em que seu território foi tomado pelos sionistas de maneira violenta, por grupos paramilitares como Irgun e Stern –, os médicos do hospital de Ramallah alertaram para efeitos desconhecidos em ativistas atingidos por bombas de gás pimenta. Houve tontura, sangramento, confusão mental e paralisia temporária. Menos de uma semana depois eu mesma experimentei sintomas parecidos. Quando os soldados começaram a atirar bombas em nossa direção, na manifestação semanal de Bil’in, identifiquei um cheiro diferente, muito mais forte do que o gás costumeiro, e de imediato senti a cabeça pesar. Durante uma semana tive tonturas, cambaleei e fui tomada por um sono intenso, que me fazia dormir dias inteiros. Alertei outros manifestantes, e então soube que alguns – os mais expostos ao gás, como eu – haviam sofrido sintomas semelhantes aos meus.
Israel admitiu ter usado fósforo branco em 2006, contra o Líbano, e em 2008-2009, em Gaza. O problema é ainda mais grave porque vários metais muito tóxicos foram acrescentados às bombas de fósforo branco. Além de ferir, mutilar e matar pessoas no momento em que são aspirados ou tocam a pele, esses metais produzem mutações genéticas. Mais: ao contaminar o solo, o ar, a água e as construções, eles têm efeitos, a médio e longo prazos, ainda não estabelecidos. E sua mistura pode potencializar os danos.
Um dos metais utilizados é o urânio, radioativo, utilizado em usinas nucleares e na produção de bombas atômicas. Sua vida útil é de cerca de 4,5 bilhões de anos (urânio 238) e aproximadamente 700 milhões de anos (urânio 235).
Em Gaza, tecidos retirados de ferimentos das vítimas foram analisados e os resultados, divulgados em 11 de maio de 2010 pelo New Weapons Committee (NWRG), grupo de pesquisadores, acadêmicos e profissionais de mídia que estuda os efeitos das novas tecnologias de guerra. A mídia corporativa, como é de praxe, não noticiou. Com exceção de especialistas e pesquisadores, poucas pessoas souberam da existência dessa pesquisa e de seus resultados.
A nova investida de Israel em Gaza foi analisada por especialistas da NWRG com base em imagens de feridos transmitidas por uma estação de TV de Gaza em 19 de agosto de 2011. “Parece que estamos vendo as mesmas armas usadas em 2008”, concluíram os especialistas. Veja também:
http://youtu.be/F9Oeo54lmtc (mas atenção: contém imagens fortes).
Leia, a seguir, a tradução do release do MWRG, feita por mim quando de seu lançamento. É aterrador. O original em inglês pode ser encontrado em
http://www.newweapons.org/?q=node/113 e em http://www.newweapons.org/files/20100511pressrelease_eng.pdf . Os destaques são nossos.
“Metais tóxicos e cancerígenos, capazes de produzir mutações genéticas, foram encontrados nos tecidos dos feridos em Gaza durante as operações militares israelenses de 2006 e 2009. A pesquisa foi realizada em ferimentos provocados por armas que não deixam fragmentos nos corpos das vítimas, uma particularidade apontada pelos médicos em Gaza. Isso mostra que foram utilizadas armas experimentais, cujos efeitos ainda são desconhecidos.
Os pesquisadores compararam 32 elementos presentes nos tecidos utilizando o ICP/MS, um tipo de espectrometria de massa altamente sensível. O trabalho, realizado pelos laboratórios da Universidade Sapienza de Roma (Itália), da Universidade de Chalmers (Suécia) e da Universidade de Beirute (Líbano), foi coordenado pelo New Weapons Research Group (NWRG), comitê independente de cientistas e especialistas na Itália que estuda o uso de armas não convencionais e seus efeitos de médio prazo sobre a população de áreas atingidas por guerras. A presença de substâncias tóxicas e cancerígenas nos metais encontrados nos ferimentos é relevante e indica riscos diretos para os sobreviventes, além da possibilidade de contaminação ambiental.
Biópsias dos tecidos foram feitas pelos médicos do hospital Shifa, da cidade de Gaza, que selecionaram e classificaram os tipos de ferimentos. A pesquisa foi realizada em 16 amostras de tecidos, pertencentes a 13 vítimas. Quatro biópsias foram levadas a efeito em junho de 2006, durante a operação "Chuvas de verão", ao passo que as outras aconteceram na primeira semana de janeiro de 2009, durante a operação "Cast lead".
Todos os tecidos foram devidamente preservados e, em seguida, analisados pelas três universidades, separadamente.
Alguns dos elementos encontrados são cancerígenos (mercúrio, arsênio, cádmio, cromo, níquel e urânio); outros são potencialmente carcinogênicos (cobalto e vanádio); e há também substâncias que contaminam fetos (alumínio, cobre, bário, chumbo e manganês). Os primeiros podem produzir mutações genéticas, os segundos podem ter o mesmo efeito em animais (ainda não há comprovação em seres humanos), os terceiros têm efeitos tóxicos sobre pessoas e podem afetar também o embrião ou o feto em mulheres grávidas. Todos os metais, encontrados em quantidades elevadas, têm efeitos patogênicos em humanos, danificando os órgãos respiratórios, o rim, a pele, o desenvolvimento e as funções sexuais e neurológicas.
Paola Manduca, porta-voz do New Weapons Research Group, professora e pesquisadora de genética da Universidade de Gênova, comentou: ‘Ninguém ainda realizara análises bióticas em amostras de tecido de feridas. Concentramos nossos estudos nos ferimentos provocados por armas que, segundo os médicos de Gaza, não deixam fragmentos. Queríamos verificar a presença de metais na pele e na derme. Suspeitava-se que esses metais estivessem presentes nesse tipo de armas [que não deixam fragmentos], mas isso nunca tinha sido demonstrado. Para nossa surpresa, mesmo as queimaduras provocadas por fósforo branco contêm alta quantidade de metais. Além disso, a presença desses metais nas armas implica que eles se dispersaram no ambiente, em quantidades e com alcance desconhecidos, e foram inalados pelas vítimas e por aqueles que testemunharam os ataques. Portanto, constituem um risco para os sobreviventes e para as pessoas que não foram diretamente atingidas pelo bombardeio’.
A pesquisa segue dois estudos anteriores conduzidos pelo NWRG. O primeiro foi publicado em 17 de dezembro de 2009 e estabeleceu a presença de metais tóxicos em áreas ao redor das crateras provocadas pelo bombardeio israelense na Faixa de Gaza. O último foi publicado em 17 de março de 2010 e apontou a presença de metais tóxicos em amostras de cabelo de crianças palestinas de Gaza. Ambos apontam para a presença de contaminação ambiental, agravada pelas condições de vida naquele território, que propiciam o contato direto com o solo e, muitas vezes, a vida em abrigos expostos ao vento e à poeira, devido à impossibilidade de reconstruir as moradias, imposta pelo bloqueio israelense a Gaza, que impede a entrada de materiais de construção e das ferramentas necessárias para a reconstrução das casas.”
Trata-se de limpeza étnica, sem dúvida, a médio e a longo prazos. Daqui a bilhões de anos Gaza ainda sofrerá os efeitos dessas substâncias. Haverá alguém lá para testemunhar a tragédia?
*Jornalista, autora de diversos livros e pós-graduanda em Filosofia. Mora em Ramallah, Palestina, onde é correspondente do jornal Brasil de Fato.
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