A deliberada negação de informações sobre o que vem
a ser Libra, seu "leilão" e dinâmicas, que culminaram por colocá-lo sob o controle de empresas
estrangeiras, decididamente representa uma marca indestrutível do caráter nefasto presente nos
Meios de Comunicação existentes
no Brasil. Tanto veículos grandes quanto pequenos, todos eles, prestaram-se a esse desserviço. Independente das matizes ideológicas que os
constituem, como frisa bem a matéria que
segue, a contribuição desses veículos
anulou e minimizou o impacto de
tão inaudito acontecimento. Ei-la. logo abaixo.
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Paulo Metri- Um amigo me perguntou, assim que
soube do resultado do leilão de Libra, se ele tinha sido um sucesso ou um
fracasso. O interessante é que, em muitos momentos na vida, respostas curtas
não satisfazem. Comecei a explicar a ele que, se compararmos com a alternativa
de entregar Libra através da lei das concessões (no 9.478), o que ocorreu foi
um sucesso. Se compararmos com a alternativa de entregar o campo à Petrobras,
sem leilão prévio, para ela sozinha assinar um contrato de partilha com a União
em melhores bases para a sociedade, o ocorrido foi um fracasso.
Neste momento, vem a célebre
argumentação da falta de recursos da Petrobras. É verdade que o superbônus
definido pelo governo atingiu seu duplo papel de conseguir arrecadar recursos
para o superávit primário e de desalojar esta empresa da pretensão de ficar
sozinha com o campo. A curtíssimo prazo, segundo autoridades, a empresa tem
falta de recursos, sim. Mas, se ela passasse a ter, no seu portfólio, um campo
com mais de 10 bilhões de barris, considerando que sempre foi competente para
produzir petróleo, não teria a mínima dificuldade para obter financiamentos.
Com o superbônus, o governo trocou o benefício de satisfazer o superávit
primário, de curtíssimo prazo, por perdas que irão durar 35 anos.
Considerando os impactos para a
sociedade brasileira, a alternativa com a Petrobras, que está dentro da lei,
pois atende ao artigo 12 da lei no 12.351, é a melhor, à medida que ficamos com
100% do petróleo, assim como 100% do lucro. Não sei se consegui, mas tentei
explicar ao amigo que o leilão ocorrido consistiu em um “meio fracasso” e um
“meio sucesso”. Meus amigos de esquerda dirão que foi um fracasso total. Quero
lembrar a eles que a manchete principal de um dos jornalões, no dia do leilão,
era que a lei dos contratos de partilha precisava ser reformulada, pois criava
grandes dificuldades. Obviamente, queriam o retorno das concessões para o
pré-sal.
Infelizmente, existe no nosso
país uma dicotomia também na mídia. Acho que a sigla PIG foi criada pelo
jornalista Paulo Henrique Amorim, representando o Partido da Imprensa Golpista,
que congrega a imprensa do capital. Aquela que busca iludir nossa sociedade
para colher o máximo de aceitação dela, contrariando até os seus próprios
interesses. Concordo integralmente com o criador da sigla PIG. Entretanto,
existe também, para mim, o PIP, o Partido da Imprensa Petista, que é sempre
favorável a qualquer decisão do governo Dilma. O PIP está mais em sites e, na
maioria das vezes, concordo com as posições que ele toma. Mas, na questão de
Libra, o PIP e a presidente se comportaram pessimamente. Não ouviram, não
dialogaram, quiseram “criar verdades”, igual aos manipuladores do PIG.
Não concluam que, por não apoiar
a posição neoliberal tucana, nem concordar com a posição privatista petista, eu
seria adepto da dupla Marina e Campos, até porque, possivelmente, eles devem
concordar com a posição tucana. Aliás, é sofrido ser de esquerda em um país
como o nosso, onde há total controle das massas através da disseminação abusiva
de posições de interesse do capital ou do governo, pelos meios de comunicação,
sobre quase todos os temas. Esta mídia irreal, incompleta e falsa não analisa
os fatos, omite opiniões, desvirtua acontecimentos e conclui, na maioria das
vezes, errado, não ajudando em nada a sociedade. Não há um debate público na mídia
sobre pontos relevantes.
O tema do destino dos royalties
tomou todo o tempo do noticiário e debates porque era indiferente para o
capital e, além disso, ajudava a esconder temas cuja conscientização era
inconveniente, como os modelos para exploração de riquezas minerais no Brasil.
Nada foi debatido sobre o monopólio, quando ele foi extinto, em 1995. Ouvia-se,
à exaustão, que no monopólio, por não haver competição, o monopolista irá
ofertar o produto com baixa qualidade e por preço alto. Isto é a mais pura
verdade, se for um monopólio privado.
Entretanto, a mídia silenciava
por completo sobre o monopólio estatal poder ser a melhor opção para a
sociedade, desde que controlado para evitar o corporativismo.
Retornando a Libra, os royalties
a serem destinados para a educação e a saúde, tão proclamados por um dos
porta-vozes do governo, que invadiram nossas televisões nestes dias, seriam
idênticos, se 100% deste campo tivesse sido entregue à Petrobras, como já
descrito. Então, não era um argumento que diferenciasse alternativas.
O PIG e o PIP não falaram sobre a
existência da alternativa de o campo de Libra, friso bem “campo”, posto não ser
um reles bloco exploratório, dever ser entregue à Petrobras para 100% dos
rendimentos, assim como 100% do petróleo produzido pertencerem ao governo
brasileiro. O PIG e o PIP boicotaram esta alternativa. 99,9% dos brasileiros
não souberam da sua existência. O PIG por querer satisfazer ao máximo os
interesses das empresas estrangeiras, que só aceitam as concessões, e o PIP por
querer satisfazer a presidente Dilma, que está preocupada com o superávit
primário. A Petrobras poderia prometer entregar 80% ou mais do excedente em
óleo para o Fundo Social, enquanto o consórcio ganhador se comprometeu só com
41,65%. Aliás, 41,65%, que poderão não ocorrer. Poderá ser remetido bem menos
que este valor. Mas isto terá que ficar para outro artigo.
A presidente Dilma fala que o
leilão não correspondeu a uma privatização. A Shell e a Total não são empresas
privadas estrangeiras? A CNPC e a CNOOC não são empresas estrangeiras? Elas não
passarão a ter a posse de uma parcela do petróleo e do lucro gerados? Não
poderão fazer com suas parcelas de petróleo o que bem quiserem? Não poderão
remeter suas parcelas de lucro para o exterior? Então, desculpe-me presidente,
mas isto é privatização e a negação do fato é tergiversação.
A presidente falou também que
ficará no Brasil 85% dos rendimentos de Libra. Trata-se de uma afirmação
corajosa, por vários motivos. Por exemplo, para obtenção destes 85%,
utiliza-se, dentre outros fatores, a arrecadação de 25% do lucro para o imposto
de renda. Este imposto é cobrado da empresa, e não do campo petrolífero.
Existem várias formas de se reduzir o imposto a ser pago pela empresa, bastando
ver, por exemplo, o quanto a Petrobras declara de lucro e o quanto ela paga
deste imposto. Além do exemplo do imposto de renda, poderiam ser feitos outros
questionamentos a este número de 85%, mas um artigo só não suporta tantas
considerações.
A presidente não falou nada sobre
a perda da possibilidade de ação geopolítica porque o Brasil está entregando em
torno de 46% do petróleo produzido em Libra para as empresas estrangeiras. A
sociedade não sabe nada disso. Pelo seu valor político e econômico, Libra
mereceria um plebiscito com debates prévios diários nas televisões, durante uns
30 dias, para conscientizar a população.
Nestes dias, o povo só recebeu os
assédios de informações truncadas do PIG e do PIP. Em compensação, ficaremos
durante 35 anos com a Shell, a Total e as chinesas também plantadas em Libra.
Paulo Metri é conselheiro do Clube de Engenharia e colunista do Correio
da Cidadania.
Blog do autor: http://www.paulometri.blogspot.com.br/
fonte: Correio da cidadania.
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