Declaração do Rio de Janeiro
Pela retirada imediata das tropas
da MINUSTAH do território haitiano
Nós, mulheres e homens,
representantes de organizações sociais da nossa América e da rede Jubileu Sul/
Américas reunidos no Rio de Janeiro entre os dias 7 e 12 de outubro de 2013,
contexto em que se realizou nossa Assembléia continental, reafirmamos o nosso
mais firme rechaço e expressamos nossa indignação frente a ocupação militar
ilegal do território do Haiti por tropas sob mandato das Nações Unidas, a
maioria delas proveniente de nossos países.
Com quase 10 anos de ocupação, a
presença das tropas das Nações Unidas não contribuiu para ajudar o povo irmão
do Haiti a sair da crise. Ao contrário, contribuiu fortemente para a piora da
situação, agravando a dependência econômica, política e social e violando
sistematicamente os direitos básicos das cidadãs e cidadãos desse país.
A MINUSTAH chegou ao terroritório
do Haiti em 1 de junho de 2004, mobilizou efetivos militares e policiais de
mais de 35 países diferentes e utilizou recursos financeiros importantes com um
orçamento anual de 700 milhões de dólares. Todos os objetivos definidos pelo
Conselho de Segurança da ONU, em suas repetidas resoluções, fracassaram
rotundamente.
A MINUSTAH faz parte da nova
estratégia de dominação imperialista com a instrumentalização das tropas
latinoamericanas e com uma agenda dominada por forças conservadoras dos
exércitos do continente, considerações geopolíticas dos poderes imperialistas e
interesses das empresas transnacionais.
Reafirmamos nossa disposição em
defender o direito Autodeterminação do Povo Haitiano, em conformidade com as
Convenções Internacionais e o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos
de 1966.
Estamos indignados e condenamos a
posição do Conselho de Segurança das Nações Unidas que já faz 9 anos a cada mês
de outubro prorroga por 12 meses o mandato de uma força militar e policial que
trabalha abertamente em contradição com todos os princípios e valores
proclamados diariamente na retórica das Nações Unidas sobre direitos humanos.
Durante o ano de 2013 a MINUSTAH
seguiu acumulando crimes contra o Povo do Haiti com violações massivas e
repetidas contras mulheres, jovens, crianças; a exploração sexual sistemática
contra numerosos jovens; a ocupação de infraestruturas essenciais; intervenções
ilegais, roubo e repressão as manifestações populares (pacíficas). Durante este
ano seguem morrendo centenas de pessoas assassinadas pelo cólera introduzindo
no país pelas tropas da ONU.
O clima de segurança não está
melhorando e a MINUSTHA contribuiu para debilitar as instituições nacionais com
um sistema judicial que não goza de um nível aceitável de credibilidade e um
conselho eleitoral questionável e incapaz de realizar eleições em respeito ao
calendário constitucional.
Nós, representantes da Red
Jubileu Sul/ Américas, exigimos:
1. O fim imediato da presença das
tropas da MINUSTAH no território haitiano;
2. O pleno respeito a vontade
expressa pelo Senado da República do Haiti em sua resolução que reclama pela
retirada das tropas da MINUSTAH antes de
14 de Maio de 2014
3. Que a ONU reconheça sua
responsabilidade e indenize as famílias das quase 9000 pessoas assassinada pelo
cólera e as 700.000 pessoas infectadas, e que tome medidas de reparação
incluindo a implementação de um sistema facilitado de acesso universal a água
potável
4. Aos Parlamentários do continente
que a apoiem a resolução do Senado haitiano;
5. Aos governos latino-americanos
que retirem de imediato seus efetivos da MINUSTAH, reconhecendo a enorme
contribuição do Povo do Haiti aos processos de independência do século XIX e a
total inadequação da MINUSTAH com relação as necessidades urgentes do Povo
haitiano
As organizações que assinam essa
declaração unem-se as repetidas ondas de mobilização e denúncias que levaram
numerosos setores da nação haitiana a manifestar seu rechaço a presença
militar, incluindo a recente construção da Praça da Resistência na cidade de
Port Salut. Saudamos o excelente trabalho realizado pelos comitês solidários
com o Haiti nos diversos países de nossa região e no mundo, assim como os
numerosos pronunciamentos de organizações populares, redes e movimentos sociais
exigindo a retirada das Tropas da MINUSTAH.
Convocamos todas as organizações
sociais, redes e movimentos socais de nosso continente a solidarizarem-se nessa
luta em defesa da dignidade do povo irmão haitiano. É um dever urgente para
todos e todas comprometidas/os na luta por soberania, autodeterminação e
liberdade. A MINUSTAH constituí uma
ameaça a nossa liberdade. Hoje somos todas e todos haitianos!
Organizações Assinantes
Rio de Janeiro, Brasil, 12 de
outubro de 2013
Jubileo Sur / Américas
Rede Jubileu Sul Brasil
PACS, Políticas Alternativas para o Cone Sul Brasil
Diálogo 2000 – Jubileo Sur
Argentina
Viento Sur, Chile
Acción Ecológica, Ecuador
Movimiento Social Nicaragüense
Red Sinti Techan, El Salvador
Organización Fraternal Negra
Hondureña OFRANEH
Agenda Cantonal de Mujeres
Desamparadeñas ACAMUDE, Costa Rica
Asociación Coordinadora Nacional
de Pobladores de Áreas Marginadas de Guatemala
Plataforma de Acción por un
Desarrollo Alternativo PAPDA, Haití
Plataforma de Organizaciones
Haitianas de Derechos Humanos POHDH, Haití
Bataye Ouvrière, Haití
Centro Memorial Martín Luther King, Jr., Cuba
Servicio Paz y Justicia, Paraguay
Servicio Paz y Justicia en
América Latina
Fonte: site PCB
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