A renda do petróleo
venezuelano passa a ser aplicada em projetos sociais e no fortalecimento de
outros setores econômicos. Com essa política, o governo Chávez avança nas
nacionalizações.
A
Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) ressaltou que a
Venezuela é o país com menos desigualdade na região, com um coeficiente Gini de
0,394. A escala – que mede a distribuição de renda – tem variações de zero a
um. Quanto mais próximo de zero, menor a desigualdade.
Outro indicador social que se
destaca é a redução da pobreza e da indigência, que despencaram pela metade
desde 1998, segundo dados oficiais do governo. O professor da Universidade
Federal da Integração Latino-Americana (UNILA) e ex-assessor do Ministério das
Indústrias Básicas da Venezuela, Luciano Wexell Severo, destaca que o país só
pode obter esses índices porque elegeu as demandas sociais como prioritárias.
“O gasto público da Venezuela em
temas sociais, como educação e saúde, é absurdamente superior, em torno de 60%
maior do que a média dos anos 1990. Esses são dados do Instituto Nacional de
Estatísticas. O governo sempre trata de comparar com a década de 90, que seria
o período de mínimo investimento público em saúde e educação. É o que eles
chamam de um período neoliberal, de Estado mínimo, em que a iniciativa privada
estava assumindo a maior parte dessas funções.”
As chamadas “Missões Sociais”
foram reconhecidas por organismos da Organização das Nações Unidas (ONU) e pela
CEPAL como políticas públicas exemplares de combate ao analfabetismo e promoção
da saúde. Elas são financiadas por um fundo criado para impedir o acúmulo de
reservas internacionais.
Nacionalizações, crise e prosperidade
O professor explica que as
nacionalizações ocorridas em diversos setores tinham metas bem definidas:
aplicar a riqueza gerada pelo petróleo em outros ramos da economia e resolver
problemas conjunturais e históricos.
“Todo o potencial que se liberou
a partir de 2003, com o Estado assumindo o controle da estatal PDVSA,
possibilitou colocar em prática a política que eles chamam de ‘semear o
petróleo’, que seria aplicar os recursos oriundos das exportações de petróleo
em outros setores da economia.”
A partir de então, a economia
venezuelana cresceu de forma permanente por um período de cinco anos, tendo
atingido a marca de 8,4%, em 2007, o maior índice de crescimento entre os
países da América Latina naquele período. O atual Produto Interno Bruto (PIB)
corresponde a 389 bilhões de dólares, o que faz do país a 23ª economia do
planeta, no ranking do Banco Mundial (BIRD).
O desemprego atinge menos de 10%
da população economicamente ativa. Severo lembra esse período de prosperidade
foi antecedido por uma grande crise, resultante da tentativa de golpe contra
Chávez e da greve dos gerentes da PDVSA, em 2002.
“O PIB da Venezuela, no momento
do paro (greve) petroleiro, caiu 27% no último trimestre de 2002. Nem o PIB do
Haiti deve ter caído tanto depois da guerra civil e do terremoto juntos. A
crise foi tão séria que, talvez, nem os caras que mediam o desemprego foram
trabalhar. Há um buraco no gráfico. Em fevereiro de 2003, por exemplo, não há
estatística de desemprego, mas o dado do mês anterior aponta em torno de 21%.”
Industrialização
Desde o início do século 20, a
Venezuela se tornou dependente da exploração do petróleo. De acordo com Severo,
a atividade possibilitou a entrada de uma grande quantidade de capital no país
que, no entanto, não foi revertida em projetos de industrialização.
“A Venezuela, historicamente -
desde a descoberta do petróleo há cerca de 100 anos - se converteu em uma
economia importadora, improdutiva e que vive da renda do petróleo. Como tem
muito dinheiro entrando no país, o dólar se faz muito barato, de tal forma que
comprar coisas de fora sempre foi muito mais interessante do que produzi-las
internamente. Isso fez com que a indústria e a agricultura venezuelanas fossem
e sejam muito débeis, representando muito pouco, se comparado a outros países.”
O coordenador do curso de
Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC), Giorgio Romano,
declara que, apesar das diferenças políticas e ideológicas, os Estados Unidos
continuam sendo o principal comprador de petróleo venezuelano. Ele também
defende a tese de que o principal desafio é ampliar o setor produtivo.
“O problema não é nem achar
outros compradores, mas desenvolver outros setores. Isso é um desafio histórico
da Venezuela, e nisso o Chávez não conseguiu avançar. Ele conseguiu avançar na
dívida social ao decidir quem fica com a riqueza do petróleo. Nisso ele mudou a
história da Venezuela.”
Câmbio e sistema financeiro
Para Luciano Severo, os esforços
do governo são visíveis e demandam certo tempo para atingir os resultados
esperados. Para proteger a indústria nacional nascente, Chávez desestimulou as
exportações de produtos primários (commodities), criando novas tarifas. Severo
lembra que, no passado, as nações mais desenvolvidas fizeram o mesmo. No
entanto, o modelo venezuelano impôs uma maior participação estatal nas
atividades econômicas.
“A PDVSA substitui compras de
outros países, sobretudo dos Estados Unidos, passando a comprar mais do mercado
interno. E isso potencializa muito o mercado venezuelano. Pelo menos 51% do
capital das empresas é venezuelano, mas existe a participação de empresas
privadas e estatais de outros países. Estamos falando essencialmente de China,
Rússia, Índia, Irã, Cuba, Brasil e Argentina. É uma política que eles chamam de
buscar um mundo multipolar, que é diversificar os sócios.”
Outra medida econômica do governo
Chávez foi o controle do câmbio, que consistiu em impedir a desvalorização do
dólar. Essa intervenção tornou as importações mais caras e estimulou o consumo
interno.
Além disso, em 2008, foi criado o
Ministério de Bancos Públicos. A nova instituição nacionalizou bancos que já
pertenceram ao Estado, mediante o pagamento de indenizações. Assim, foi
possível administrar com maior equilíbrio os investimentos estatais. Um dos
setores beneficiados foi a agricultura, através de um decreto que obriga as
instituições financeiras a destinar pelo menos 10% do crédito disponível para
projetos de desenvolvimento agrícola.
Fonte: site
Radioagencia NP por Jorge Américo
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