José Goulão.
Quarenta anos depois de terem
sido escorraçadas do solo vietnamita, levando consigo um escabroso Nobel da Paz
atribuído a um fabricante de ditadores chamado Henry Kissinger, as tropas
imperiais continuam a matar. Os sinais da agressão terrorista dos Estados
Unidos da América contra o povo do Vietnam, cometida no âmbito da cruzada
permanente supostamente para expurgar o comunismo da face da Terra, ainda estão
vivos – não apenas na memória dos que a sofreram, mas na carne e no sangue de
milhares e milhares de pessoas que nascem hoje, muito depois do auge da
tragédia.
Tal como aconteceu em Hiroxima e
Nagasaki, a arrogância, a insensibilidade e a desumanidade dos exércitos
imperialistas deixaram mecanismos de morte com efeitos contínuos, de origem atómica
nos casos do Japão e de ação química no caso do Vietnam. Neste país, onde o
exército norte-americano abriu vias para as suas ofensivas à força de napalm,
cujas nuvens de chamas cremaram todas as formas de vida por décadas e décadas
em extensas áreas territoriais, milhares de crianças continuam a nascer com
malformações, problemas neurológicos e cancerígenos devido aos efeitos da
dioxina decorrentes de um outro exercício de extermínio: neste caso, o cometido
com recurso ao chamado agente laranja – aliás um herbicida que multinacionais
continuam a comercializar alegando, e mentindo, que está livre de agentes
nocivos para a vida humana.
De acordo com dados
norte-americanos, as tropas enviadas por Washington para o Vietnam lançaram 80
milhões de litros de agente laranja contaminados com 400 quilos de dioxina só
em cinco anos da invasão, que se prolongou por 14 anos. Usado para destruir
florestas e todo o tipo de vida que elas protegem, o agente laranja causou
danos irreparáveis que funcionam ainda hoje como uma catástrofe em todo o Vietnam
e, acima de tudo, liquidou, afetou e continua a atingir milhões de vidas
humanas através dos seus efeitos prolongados. Fontes de Washington pretendem
explicar, de modo recorrente, que o uso do agente laranja não se destinava a
atingir vidas humanas, mas sim a desfolhar florestas onde se acoitavam “os
terroristas”. A coisa só correu mal, dizem, porque devido às pressões da guerra
foi preciso recorrer a agente laranja de “purificação imperfeita”, pelo que a
contaminação com dioxina provocou – onde é que já ouvimos isto? – “danos
humanos colaterais”.
As vítimas vietnamitas do agente
laranja formaram uma associação através da qual pretendem que o mundo conheça
esta realidade tão escondida pelos canais da propaganda mundial, exigindo ainda
que os autores da chacina e seus herdeiros políticos e militares assumam a
responsabilidade por esses crimes de guerra e contra humanidade – com os quais
nenhum tribunal internacional, em Haia ou qualquer outro lugar, parece
disponível para se sobressaltar. Até agora, como é de esperar da mentalidade
que governa a América e o mundo, não há responsabilidades a assumir. Se o
napalm e o agente laranja continuam a matar quarenta anos depois, o azar é das
vítimas.
Ironia do destino: em tempos, uma
associação de veteranos de guerra dos Estados Unidos levantou uma ação legal em
defesa de soldados que participaram na invasão do Vietnam e foram também
contaminados pela dioxina. Um acordo que previa indemnizações de 93 milhões de
dólares foi invalidado em último recurso por uma sentença determinando que “não
existe qualquer base legal” que sustente as alegações das vítimas, tanto em
termos domésticos como nas leis internacionais.
As ações de extermínio cometidas
pelas tropas imperiais contra o povo do Vietnam, com a agravante de continuarem
através de efeitos retardados, estão ao nível dos maiores crimes contra a
humanidade que a História regista. Ao contrário dos conceitos defendidos pelo
Nobel da Paz e criminoso de guerra Henry Kissinger, separando ditadores bons
dos maus, também não existe terrorismo bom ou mau: há terrorismo. De que a
invasão norte-americana do Vietnam foi e continua a ser um exemplo.
Fonte: blog mundo cão
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