Avante- Sequelas do terror nuclear continuam vivas
Os protestos contra a lei que visa permitir a
participação das tropas japonesas em conflitos externos sobem de tom no Japão.
Este domingo, 9, o presidente da Câmara de Nagasaki, Tomihisa Taue, juntou-se
aos manifestantes.
O primeiro-ministro japonês Shinzo Abe apresentou no
parlamento uma proposta de lei que, a ser aprovada, implica uma mudança
substancial na Constituição pacifista do país. Trata-se, no essencial, de
eliminar o princípio que proíbe, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, a
participação militar nipónica em conflitos armados. A medida está a ser
fortemente contestada a nível interno, e as cerimónias que assinaram o 70.º
aniversário do lançamento da bomba atómica sobre Nagasaki decorreram em
paralelo com manifestações de militantes pacifistas e sobreviventes do ataque
norte-americano, a exemplo do que já havia sucedido a semana passada em Tóquio.
Enquanto Abe participava numa cerimónia no memorial às
vítimas, o autarca de Nagasaki exprimia a preocupação comum ao povo japonês: o
receio de que a promessa feita há 70 anos – de que o Japão nunca mais iria
pegar em armas ou declarar guerra – e o princípio de paz inscrito na
Constituição «possam estar agora a ser minados».
Na sua mensagem dedicada ao aniversário da tragédia e
publicado no jornal The Mainichi, Tomihisa Taue
desafiou os líderes mundiais a ir ver com os próprios olhos o
impacto das bombas nucleares lançadas pelos EUA em 1945.
«Dirijo-me ao presidente (Barack) Obama, aos líderes dos
estados, incluindo os que têm armas nucleares, e a toda a população do mundo,
por favor venham a Nagasaki e Hiroxima para ver realmente o que aconteceu após
estes bombardeamentos nucleares há 70 anos».
A controversa legislação do governo de Shinzo Abe foi
aprovada na câmara baixa do Parlamento japonês em Maio último, mas o projeto
ainda tem passar pela câmara alta do país para se tornar lei. Consciente da
forte contestação interna à sua política armamentista e belicista, o
primeiro-ministro declarou este domingo que vai apresentar na próxima sessão da
Assembleia Geral da ONU um projecto de resolução sobre a liquidação total das
armas nucleares. Sucede no entanto que, mesmo sendo aprovada, a resolução não
terá carácter vinculativo, já que essa prerrogativa é reservada às resoluções
do Conselho da Segurança.
Um negócio milionário
Agência de Cooperação em Segurança e Defesa dos Estados
Unidos anunciou entretanto, na sexta-feira, 7, que o Departamento de Estado
norte-americano aprovou a venda ao Japão de material bélico no valor de 1,5 mil
milhões de dólares. O negócio inclui «Sistemas de Combate AEGIS DDG-7 e DDG-8,
Sistema Subaquático de Armas, Capacidade de Engajamento Cooperativo e
equipamentos associados, peças e apoio logístico», revelou a Agência. A
aquisição de duas embarcações AEGIS DDG – refere a mesma fonte, citada pelo
sputniknews – permitirá ao Japão cumprir a sua meta de possuir oito navios com
capacidade de defesa de mísseis balísticos e melhorar a interoperacionalidade
com a Marinha dos Estados Unidos.
Shinzo Abe já prometeu que o Japão não participará em guerras
«por procuração» de Washington, mas a promessa não convence os seus opositores,
tanto mais que o primeiro-ministro continua a advogar que o Japão deve
desempenhar um papel mais activo no estabelecimento de uma aliança de segurança
com os EUA na Ásia, a fim de combater uma alegada ameaça representada pela
China.
FONTE: Avante
Nenhum comentário:
Postar um comentário