Avante- A Venezuela pretende que
aos países não-alinhados condenem a ingerência norte-americana nos assuntos
internos do país, já repudiada unanimemente pela UNASUL e rechaçada pela
maioria dos venezuelanos.
No texto que as autoridades
bolivarianas previam levar à Cimeira dos Não-Alinhados, agendada para ontem e
hoje, 28 e 29, em Argel, e à qual deveriam comparecer representantes
governamentais de cerca de 80 países, a Venezuela acusa os EUA de desenvolverem
«aberta e publicamente uma campanha sistemática de ingerência nos assuntos
internos da Venezuela, contrariando os princípios que servem de fundamento ao
ordenamento jurídico internacional, assim como os valores para a manutenção da
paz e a segurança internacionais».
O conteúdo do documento, citado
pela Lusa, é semelhante ao votado unanimemente pela União das Nações da América
do Sul. Na resolução aprovada na reunião da UNASUL, sábado, 24, em Galápagos,
no Equador, condena-se «a iniciativa legislativa que visa impor sanções
unilaterais a funcionários do Estado venezuelanos, as quais vulnerabilizam o
princípio de não-intervenção nos assuntos internos de outros estados e são um
obstáculo para que o povo venezuelano possa superar as suas dificuldades com
independência, em paz e democracia».
Os países sul-americanos membros
da organização reiteraram, ainda, de acordo com informações divulgadas pela
agência de notícias portuguesa, «a preocupação pelas atuações que possam
interferir negativamente no desenvolvimento do processo de diálogo entre o
governo venezuelano e sectores da oposição», e reafirmam «a sua convicção de
que o diálogo – promovido justamente pela UNASUL – é prioritário».
Coação inaceitável
A Venezuela considera
«inaceitável e irracional» que o Departamento de Estado norte-americano «faça
um apelo para que as autoridades de segurança pública e o sistema judicial
venezuelanos não apliquem as medidas penais respectivas e deixem de cumprir as
suas funções e atribuições». Em causa está a aprovação pelo Comité das Relações
Externas e pelo Senado dos EUA de um projeto para a alegada defesa dos direitos
humanos e da sociedade civil na Venezuela. «Instrumento do iminente carácter
intervencionista» da Casa Branca no território e que Caracas diz suportar-se em
«situações pontuais de violência (…) divulgadas por corporações mediáticas dos
EUA que se esquivaram aos princípios éticos necessários para o exercício
profissional do jornalismo».
Para além das sanções a aplicar,
o governo bolivariano denuncia, igualmente, que a proposta, que será votada
também na Câmara dos Representantes do Congresso, «reflete o apoio direto e o
financiamento às pretensões da oposição política», tornando evidente que os EUA
«continuarão a financiar a oposição venezuelana, em particular os grupos que
exercem violência armada, atribuindo-lhes 15 milhões de dólares».
«A intenção do Governo
norte-americano de aplicar sanções contra o Estado venezuelano (...) não é
outra coisa que um mecanismo de coação contra o nosso país que viola a Carta
das Nações Unidas», insiste a Venezuela, que salienta, por fim, «a pretensão
hegemónica e imperialista» e a suposta «autoridade» norte-americana «para
sancionar unilateralmente qualquer Estado quando os seus interesses assim o
justifiquem».
Golpe à espreita
O executivo liderado por Nicolás
Maduro reclama o direito do povo venezuelano a viver em paz e a escolher
soberanamente o seu caminho num país independente. Os desenvolvimentos recentes
impulsionados a partir de Washington, tais como o referido pacote legislativo,
o abandono do diálogo por parte da Mesa de Unidade Nacional, ou o
prosseguimento dos ataques contra equipamentos e instituições públicas por
parte de bandos de mercenários, são obstáculos a que isso aconteça.
O presidente venezuelano alerta
mesmo que os grupos de extrema-direita que têm semeado a violência no país se
preparam para um golpe de Estado. «Os golpistas já disseram que Junho é o mês
do colapso», advertiu o chefe de Estado venezuelano num encontro com
representantes de mais de duas centenas de comunas, realizado dia 18.
Já no domingo, 25, milhões de
venezuelanos saíram às ruas em todo o país para uma grande jornada pela paz e o
progresso. A adesão massiva a concentrações e marchas, concertos e espectáculos
de artes cénicas, exposições, debates e outras iniciativas envolvendo a população,
mostrou que o povo rejeita qualquer intentona com o objetivo de derrubar o
governo democraticamente eleito.
A corroborar o repúdio da maioria
dos venezuelanos pelo golpe que o governo venezuelano diz estar à espreita, uma
sondagem efectuada pela Hinterlaces indica que 67 por cento dos inquiridos
discorda da aplicação de sanções a funcionários venezuelanos por parte dos EUA.
Na mesma pesquisa, 73 por cento dos participantes afirma que os protestos
violentos só pioram a situação no país.
Dados contrariam
imperialismo
Contrariamente ao que argumentam
os EUA, os dados apurados pelo Ministério Público da Venezuela indicam que nem
os protagonistas dos protestos são maioritariamente «estudantes», nem as suas
acções são «pacíficas». Segundo a procuradora Luisa Ortega Díaz:
Das 174 pessoas que continuam
detidas, apenas 12 são estudantes.
Em 190 provas de uso de
estupefacientes feitas aos detidos nas barricadas (guarimbas), 49 deram
positivas.
Entre os presos estão 58
estrangeiros, 21 dos quais paramilitares colombianos, outros com ordens de
captura internacional emitidas pela Interpol, e outros ainda terroristas
oriundos do Médio Oriente, alguns dos quais capturados na posse de armamento e
substâncias explosivas.
Entre as acções de «protesto pacífico»
constam ataques e a destruição de mais de uma centena de unidades de transporte
colectivo, várias centrais eléctricas, universidades, escolas e bibliotecas;
mercados, estabelecimentos comerciais e veículos de transporte de alimentos;
centros de saúde e comunitários ou instituições da administração central e
local.
Fonte: Avante
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