LBI QI- O último mês de julho registrou o
pior resultado da Balança Comercial Brasileira (BCB) desde o ano de 1959 quando
se formalizaram as estatísticas pelo Banco Central. O déficit aferido alcançou
a marca histórica de US$1,89 bilhão, superando os resultados negativos de julho
de 1974 e 1997 na ordem de US$ 550 milhões. O período acumulado de janeiro a
julho de 2013 apresenta outro recorde de déficit na balança comercial, somando
US$ 4,98 bilhões. No mesmo período de 2012 o superávit da BCB cravou a marca de
US$ 9,9 bilhões, finalizando o ano com um resultado positivo de US$ 19,43
bilhões. Para 2013 as projeções não são nada animadoras, podendo ocorrer um
déficit anual da BCB na ordem de US$ 2,5 bilhões, quebrando uma sequência
positiva atingida pelos governos da Frente Popular.
Sob a gestão do PT o Brasil
conseguiu em 2006 um saldo positivo histórico em sua balança comercial,
atingindo a consistente cifra de US$ 46,07 bilhões, em um quadro econômico do
Real fortalecido frente ao Dólar, este fato explica em grande parte o apoio da
burguesia nacional à reeleição de Lula apesar da profunda crise política
provocada pelo escândalo do chamado “Mensalão” neste mesmo ano. No governo
Dilma a BCB registrou respectivamente nos anos de 2011 e 2012 resultados
positivos de US$ 29,79 e 19,43, sendo este último o menor saldo comercial em
dez anos. Um “desastre” anunciado da BCB em 2013 terá um impacto político
enorme nas eleições presidenciais de 2014, ainda mais com a escalada de
hipervalorização do Dólar, facilitando em muito as exportações das commodities
agrominerais brasileiras.
Mas afinal, qual é mesmo o
verdadeiro motivo do declínio no saldo de nossa balança comercial, já que as
exportações se mantêm em um patamar razoável apesar da retração do mercado
mundial (em particular dos BRICs)? A resposta encontra-se na política
neoliberal da direção da PETROBRAS, responsável por um rombo imenso na BCB, em
função da importação integral de combustíveis e derivados para abastecer o
país, além da quase “falência” do atual modelo entreguista de exploração de
nosso petróleo e gás natural. A orientação absolutamente pró-imperialista da
PETROBRAS ameaça nossa parca “soberania” econômica e até militar (um país que
não produz combustíveis refinados é completamente impotente em todos os sentidos),
inclusive colocando em risco a continuidade do próprio projeto nacional de
“poder” do PT, hoje representado pelo “híbrido” governo Dilma.
Seria muito difícil após o crash
financeiro mundial de 2008 para o Brasil continuar mantendo tanto os patamares
de exportação assim como o saldo positivo da balança comercial nos mesmos
níveis que atingiu o governo Lula em 2005, 06 e 07, superiores a 40 bilhões de
Dólares. Mas outra questão absolutamente distinta é o país passar de um
megassuperávit para um déficit que atualmente margeia 5 bilhões de Dólares. A
equipe econômica palaciana tenta se justificar com um argumento contábil,
alegando que as importações de combustíveis de 2012 só agora foram computadas
pelo Banco Central, gerando o “rombo” na BCB deste primeiro semestre.
Mas a realidade é bem mais
complexa do que as “desculpas” da tecnocracia Dilmista. O governo vem tentando
compensar o desequilíbrio das contas externas provocado pela dependência
energética com a alta do Dólar (exportadores desejam o Real subvalorizado), o
que tenciona a escalada inflacionária. Por outro lado, para manter a inflação
no teto estabelecido pelo BC, o governo eleva a taxa de juros, aumentando a
dívida pública e cortando investimentos públicos estratégicos para o país, ou
seja, para “equalizar” a economia a “receita” adotada pelos neoliberais do
Planalto é a semirrecessão acompanhada da atrofia da produção industrial.
Mas o “nó górdio” das economias
semicoloniais da América Latina se concentra na questão da autonomia
energética, inclusive a dos países produtores de petróleo. O Brasil que tem sua
produção de combustível fóssil extraída em mais de 90% de plataformas marítimas
necessitaria de no mínimo 20 refinarias modernas para processar o petróleo de
alta densidade. Quanto ao gás natural, quase não há exploração, ficando para as
plataformas da PETROBRAS a “tarefa” de queimá-lo na atmosfera, enquanto
importamos o mesmo produto da Bolívia e até da Rússia. Voltando ao petróleo
nacional, nossas poucas e sucateadas refinarias em “pleno” funcionamento (cerca
de oito) não tem capacidade de processar o “pré-sal”, e tampouco industrializar
seus derivados químicos. O resultado é que o país é obrigado a importar dos
oligopólios transnacionais óleo diesel, querosene e gasolina para abastecer a
aquecida demanda do mercado interno.
Estudos técnicos revelam que precisaríamos
possuir no mínimo vinte novas refinarias em território nacional para conquistar
a autossuficiência de combustíveis, mas a PETROBRAS “sensível” a esta grave
questão, praticamente cancelou a construção de cinco refinarias (duas no
interior do Rio, PE em parceria com a PDVSA, CE e MA) previstas para entrarem
em operação no final de 2013. Como consequência desta política que privilegia
os negócios com o “Tio Sam”, a PETROBRAS chegou a comprar uma refinaria “ferro
velho” nos EUA gerando um enorme prejuízo para a estatal, o país chegou a um
nível de completo estrangulamento na produção de combustíveis, estabelecendo
uma total dependência dos trustes imperialistas. Hoje tanto a nossa imensa
frota de veículos (terrestre e aérea) quanto as usinas termoelétricas que
fornecem energia a indústrias e cidades, consomem cerca de 80% de seus insumos
importados!
O outro lado desta mesma política
neoliberal do governo Dilma é o da entrega dos blocos marítimos de petróleo
para as transnacionais anglo-ianques. O modelo adotado das “capitanias
hereditárias” (elaborado por FHC e seguido pelo PT somente com pequenos
ajustes) consiste na cessão nacional dos poços de petróleo de nossa costa em
troca de um valor pago ao governo, que sequer corresponde a 3% do conjunto da
exploração comercial (gás e petróleo) da área leiloada. A partir deste momento não
há controle nem aferição pelo governo da extração realizada pelos trustes
imperialistas. Para a PETROBRAS valem as mesmas “regras”, forçando que a
estatal busque a associação comercial com as transnacionais do setor para se
mostrar competitiva no mercado internacional. Desta forma, o “conto de fadas”
da descoberta do “pré-sal”, como a redenção do subdesenvolvimento do país se
assemelha mais a um pesadelo onde o escravo é obrigado a trabalhar
desumanamente para enriquecer seu traficante senhor.
A situação econômica do país
ainda é relativamente “confortável” em função do enorme “colchão de gordura”
formado nos últimos seis anos (parte do governo Lula), mas ao manter este rumo
agressivamente neoliberal, o governo Dilma está “convocando” as hienas Tucanas ou
Marineiras a assumirem o leme da nau para atracar o país no “porto” da Casa
Branca, afinal de contas se é para voltar ao “modelo” instaurado por FHC é
melhor que o PT seja demitido da gerência! A direção da PETROBRAS, totalmente
comprometida com os “investidores” do mercado de internacional de capitais,
atua como “quinta coluna” no interior da Frente Popular, podendo ameaçar
fatalmente o suposto projeto “neodesenvolvimentista” que tanto se orgulha a
cúpula do PT.
A economia capitalista tupiniquim atinge hoje
marcas domésticas que ainda configuram um certo “boom” de expansão, como o
nível de emprego e a poupança interna, mas que não se manterão estáveis por
muito tempo se o governo Dilma enveredar pela “cartilha” sugerida pela
reacionária anturragem palaciana (a mesma que promoveu a caça aos petistas
históricos como Dirceu e Genuíno), muito simpática aos ideais de um
“neoliberalismo radical” alinhado a Washington.
Fonte LBI QI
Um comentário:
Profundamente inserido, tanto econômica quanto culturalmente, no sistema capitalista e dadas as condições geopolíticas atuais creio que o projeto de governo do PT teve de se adequar á realidade. Antes da crise global do capitalismo o governo Lula teve condições de promover avanços sócio-econômicos importantes. Com o advento da crise as coisas ficaram muito difíceis para os países emergentes e a equipe econômica foi obrigada a fazer concessões ao capital. Eu também me senti profundamente decepcionado com o governo Dilma, que escorado por altos índices de aprovação nas pesquisas ficou, como se diz popularmente, de "salto-alto" e menosprezou o poder de reação da burguesia nacional e já refém do capital e da voz rouca das ruas se vê sem tempo para guinadas bruscas de rumo, uma vez que se aproximam as eleições.Fez o que o desespero pede: entreguar os anéis para não perder os dedos.
Entretanto devemos considerar as alternativas: uma eventual vitória da direita poderia anular rapidamente as conquistas dos últimos anos e reintroduzir a política neoliberal e entreguista dos tucanos, que mergulharia tardiamente o Brasil na crise global. Teríamos possivelmente um novo ciclo de privatizações selvagens e de acordos com o FMI, desemprego, pacotes econômicos, etc.
Uma improvável vitoria da extrema esquerda poderia levar igualmente o país a uma crise do tipo da ocorrida no Chile com Allende.
Considerando o cenário atual acredito que não é o momento de jogar lenha na fogueira, fornecendo combustível á extrema-direita que sonha em reinstalar uma ditadura de ultra-direita no país. Não podemos negar, pelo que se percebe nas redes sociais, que a extrema-direita está ganhando adeptos e passou a ser uma ameaça real ao país,
Uma vitória desse pessoal nas urnas, não podemos desconsiderar isso, seria uma tragédia para toda a América Latina e poderia, dado o peso do Brasil no resto do continente, levar a um novo ciclo de ditaduras nas Américas do Sul e Central.
Portanto, como disse Brizola uma vez, a respeito de Lula, mesmo a contragosto temos de engolir o sapo e tentar, internamente, influenciar os rumos históricos da esquerda no PT. O momento é delicado e exige prudência.
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