Diario. info- Perante o colossal escândalo
resultante das revelações de Edward Snowden, Obama promove “reformas” de
fachada no sistema de espionagem global que o seu país instalou. Os elogios que
Assange faz a essas medidas são manifestamente exagerados. Mas tem interesse
juntar mais algumas peças ao currículo deste presidente, que consegue
ultrapassar em cinismo e hipocrisia os seus mais torpes antecessores.
O fundador de WikiLeaks Julian
Assange tornou público um comunicado em que, elogiando embora as reformas na
supervisão anunciadas sexta-feira pelo Presidente dos EUA Barack Obama como uma
“vitória moral” para Edward Snowden, critica duramente a administração
norte-americana pela forma hipócrita como aborda o assunto.
Diz Assange na sua comunicação de
sábado : “Snowden tem afirmado que a sua
maior preocupação consistia em que as suas revelações não tivessem mudanças
como consequência. Pois bem, reformas começam a tomar forma e por esse facto o
Presidente e os povos dos Estados Unidos e do mundo inteiro devem gratidão a
Edward Snowden.”
Obama propôs na sexta-feira a
primeira de uma série de medidas destinadas a restaurar a confiança pública, no
seguimento das revelações feitas em Junho pelo funcionário da NSA Edward
Snowden acerca do sistema alargado de recolha de dados instalado pelo governo
federal de intrusão na vida de milhões de cidadãos norte-americanos, incluindo
a intercepção das suas comunicações telefónicas e electrónicas.
Os passos propostos têm a ver com
a Secção 215 do US Patriot Act e a Secção 702 da Acta de Emendas FISA, ao
abrigo da qual a vigilância da NSA é considerada legal. Será realizado um
esforço para assegurar maior supervisão e transparência focado particularmente
no Foreign Intelligence Surveillance Court (Tribunal de Supervisão da
Inteligência Externa) – a entidade que autoriza a vigilância através de canais
altamente secretos.
Para além disso, Obama propôs a designação de
um promotor oficioso capaz de questionar o tribunal em quaisquer circunstâncias
em que se verifique preocupação pública face a violações de privacidade ou de
alegadas transgressões de princípios constitucionais. Num âmbito mais alargado,
o Presidente exprimiu também o seu apoio a um acréscimo na difusão pública de
informação anteriormente classificada como reservada. Em consequência dessa
posição, o Departamento de Justiça elaborou uma nova emenda relativa à recolha
de dados pessoais por parte do governo no âmbito da Secção 215 do Patriot Act.
Apesar destas novas medidas positivas, Obama
deixou claro que mantém a sua discordância em relação às acções de Edward
Snowden: “Não, não penso que o sr. Snowden seja um patriota…o facto permanece
que o sr. Snowden foi acusado de três crimes.”
Assange, por seu lado,
descarregou tudo o que tinha a dizer acerca das observações de Obama’s no seu
comunicado:
“…em vez de agradecer a Edward
Snowden, o Presidente fez uma caricata tentativa para o criticar, ao mesmo
tempo que reivindicava já ter em consideração esta iniciativa “antes de Edward
Snowden.” O facto é simplesmente que sem as revelações de Snowden ninguém teria
tido conhecimento destes programas de vigilância e nenhumas reformas poderiam
ter tido lugar”.
Assange recordou também Bradley
Manning e Daniel Ellsberg (que revelaram os Pentagon Papers – Documentos do
Pentágono -, um estudo altamente secreto acerca dos processos de decisão
norte-americanos na guerra do Vietnam), sublinhando que é a “pessoas de boa
consciência” como estas que o mundo deve a revelação dos maiores crimes
perpetrados contra a humanidade. As suas observações finais acerca dos EUA não
deixam nenhum tema por abordar.
“Ironicamente, o Departamento de Justiça trai
dois princípios-chave que o Presidente Obama brandiu quando concorreu à
eleições – transparência e protecção para quem fizesse revelações
(whistle-blowers). No decurso da campanha de 2008, o Presidente apoiou os que
fizessem revelações, considerando a sua acção “actos de coragem e patriotismo que
podem por vezes salvar vidas e que frequentemente poupam dólares aos
contribuintes, que deveriam ser encorajados e não impedidos”. Entretanto, a sua
administração já perseguiu e acusou duas vezes mais “whistle-blowers” do que
todas as administrações que o antecederam, em conjunto.
Mais ainda: a hipocrisia do
governo dos EUA acerca do direito de Snowden a procurar asilo tem sido
estarrecedora. Os EUA oferecem a toda a hora asilo a dissidentes,
“whistle-blowers” e refugiados políticos sem qualquer consideração pela
discordância dos governos respectivos. Aceitou, por exemplo, 3.103 asilados só
de dois países – 1.222 da Rússia e 1.762 da Venezuela”.
Fonte Diario. info
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