Meios de comunicação promovem a censura, com noticiários seletivos
sobre manifestações, reforma política, sonegação da Globo ou democratização da
mídia. Temas que ou omitem, ou distorcem.
por Lalo Leal.
Final de tarde no Rio de Janeiro.
Dia da chegada do papa ao Brasil. No Largo do Machado, reduto histórico de
manifestações políticas, entre o Catete e as Laranjeiras, o clima assemelha-se
a um happening. Em cantos diferentes da praça reúnem-se jovens católicos de
várias partes do mundo, militantes do PSTU, ativistas dos movimentos LGBT
(algumas moças com seios à mostra), outros com bandeiras anarquistas e, claro,
os policiais em trajes de guerra. Mas cada um no seu canto, com suas armas,
cartazes e palavras de ordem. Sem confrontos.
Caminho sem preocupações entre os
grupos quando outro tipo de gente chama a minha atenção: homens fortes, com
idade entre 30 e 40 anos, camisetas justas, circulam pela praça. Um está de
luvas, outro se enrola na bandeira da CTB, uma das centrais sindicais
brasileiras. Muito estranho.
Os jovens católicos continuam a
cantar nas escadarias da igreja. O grupo com as bandeiras do movimento gay
aproxima-se e depois segue com os demais manifestantes rumo ao Palácio
Guanabara, onde Francisco é recebido. Perco-os de vista. Mais tarde soube dos
tumultos às portas do palácio. Uma bomba caseira foi atirada contra os
policiais. Claro que a culpa é logo atribuída pela mídia conservadora aos
manifestantes.
O desmentido chega num vídeo
postado na internet que revela a ação de agentes policiais à paisana provocando
tumultos. A maior surpresa vem a seguir. Lá estava em frente ao palácio, sendo
dobrada por um policial, a bandeira da CTB vista por mim horas antes no Largo
do Machado.
A ação dos policiais infiltrados,
os chamados P2, não aparece na TV. Esta, além disso, dá proteção total aos
fardados. A GloboNews afirmou que um repórter da agência de notícias France
Presse, visto com a cabeça sangrando em frente ao Guanabara, havia sido
atingido por um coquetel molotov. O jornalista fora vítima, porém, de uma
cacetada desferida por um policial. O canal reconheceu o erro muitas horas
depois, quando o estrago já estava feito. Pude ouvir pessoas nas ruas
atribuindo essa violência aos manifestantes, sem saber da verdade.
A reação do governo do Rio foi a pior
possível. Por decreto instituiu a Comissão Especial de Investigações de Atos de
Vandalismo em Manifestações Públicas, com poderes até para exigir das empresas
de telefonia e de servidores da internet a entrega de dados das comunicações
feitas por qualquer pessoa. Recuou diante das reações desfavoráveis. O advogado
Técio Lins e Silva chegou a comparar o decreto com as comissões de inquérito
criadas na ditadura. “Está entre o delírio e o abuso de poder. É caso de
impeachment, há uma violação clara de direitos constitucionais.”
A comissão foi mantida e admite
investigar a ação dos infiltrados. No entanto, dada sua composição, fica
difícil acreditar que a verdade venha à tona. Formam o grupo representantes do
Ministério Público do Rio, da Secretaria de Segurança Pública e das Polícias
Civil e Militar. Diante do histórico dessas polícias só resta chamar o ladrão,
como dizia a música do Chico Buarque na época da ditadura. Mídia e governo do
Rio parecem saudosos daqueles tempos. A censura opera agora através dos
próprios meios de comunicação, com a seletividade dos seus noticiários não só
sobre as manifestações de rua, mas também diante de temas como a reforma
política, a proposta do governo para ampliar o atendimento médico, a denúncia
de sonegação fiscal cometida pela Globo e o debate em torno da democratização
da mídia, por exemplo. Temas que, quando não omitem, distorcem.
A desinformação associa-se ao
autoritarismo do governo estadual, fazendo lembrar – com um arrepio na espinha
– do incêndio do Reichstag, o Parlamento alemão, ocorrido há exatos 80 anos.
Ação isolada de um indivíduo ou articulada por um grupo nazista serviu de
pretexto para milhares de prisões, garantindo apoio popular a um governo que
levou a humanidade a um dos seus períodos mais aterradores. Há seguidores por
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Foto: reprodução.
Fonte: Desacato e http://www.redebrasilatual.com.br/revistas/86/as-falanges-em-acao-9571.html
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