Do DW
A centenária Monsanto foi
refundada em 1997 como empresa agrícola. A história dela remonta a 1901. Ao seu
passado pertence, entre outras coisas, a fabricação do agente laranja, o
famigerado herbicida utilizado pelos militares americanos durante a Guerra do
Vietnã.
Nos Estados Unidos, alimentos
produzidos a partir de “organismos geneticamente modificados” – GMO, na sigla
em inglês – não precisam trazer essa informação na embalagem.
A caminhada para a Casa Branca e
a subsequente manifestação nos arredores do Parque Lafayette são o ponto alto
da marcha Rigth2Know – “direito de saber”, em português. Um dos participantes é
o alemão Joseph Wilhelm, fundador da rede orgânica Rapunzel. Ele já organizou
duas marchas contra os transgênicos na Alemanha. “Fiz todo o caminho de Nova
York a Washington a pé”, diz, orgulhoso, ao tirar os sapatos.
Na verdade, Wilhelm gostaria que
a marcha tivesse um outro destino: a sede da Monsanto em Saint Louis, no estado
do Missouri. Para ele, a empresa é “o símbolo do desenvolvimento de sementes
geneticamente manipuladas”. Mas uma marcha até St. Louis chamaria pouca atenção
para a questão da rotulagem dos alimentos transgênicos.
A centenária Monsanto foi
refundada em 1997 como empresa agrícola. A história dela remonta a 1901. Ao seu
passado pertence, entre outras coisas, a fabricação do agente laranja, o famigerado
herbicida utilizado pelos militares americanos durante a Guerra do Vietnã. O
agente laranja é considerado responsável por graves problemas de saúde de
soldados americanos e vietnamitas.
Hoje a Monsanto se apresenta como
empresa que desenvolve e vende apenas sementes e produtos agrícolas. Entre eles
estão sementes de milho e de algodão resistentes a pragas, lançadas no mercado
nos anos 1990.
No caso dessas sementes, “a
própria planta produz o veneno”, diz Wilhelm. Quando a planta é utilizada para
alimentar animais, que, por sua vez, são usados como alimentos por seres
humanos, “ingere-se o veneno junto”, afirma. A carne de animais alimentados com
produtos transgênicos não é rotulada na maioria dos países.
Outro tipo de produto são
sementes, por exemplo de colza ou de soja, resistentes aos herbicidas da
Monsanto, como o amplamente difundido Roundup. Esse herbicida mata todas as
plantas do local onde é aplicado, exceto aquelas geneticamente modificadas pela
Monsanto para serem resistentes a ele.
A Monsanto afirma que as sementes
transgênicas não são prejudiciais à saúde. “Antes de serem colocadas no
mercado, plantas biologicamente modificadas precisam ser submetidas a mais
testes e exames do que outros produtos agrícolas” nos Estados Unidos, diz o
porta-voz da Monsanto Europa, Mark Buckingham.
Nem todos têm a mesma opinião.
“Quando vejo o sistema regulatório para plantas geneticamente modificadas,
acredito que seja insuficiente”, considera Bill Freese, do Centro para
Segurança Alimentar, uma organização sem fins lucrativos dos EUA que defende a
agricultura sustentável.
Quando se modifica geneticamente
uma planta, cria-se uma mutação, explica Freese. “A partir daí podem surgir
defeitos: menor valor nutricional, toxinas em quantidade maior do que as naturalmente
presentes, em quantidades pequenas e inofensivas, na planta ou até toxinas
completamente novas.”
Manifestação anti-Monsanto
Um grande problema dos
transgênicos, na sua opinião, são as alergias. Devido à falta de informação nos
rótulos dos alimentos, o consumidor não tem como saber posteriormente o que
pode ter causado uma reação alérgica.
O presidente do Instituto
Millennium de Washington, Hans Rudolf Herren, também alerta para problemas de
saúde provenientes de plantas geneticamente modificadas, especialmente porque,
ao contrário das promessas de empresas como a Monsanto, em longo prazo cada vez
mais veneno é necessário, afirma.
“Já não basta pulverizar uma vez,
pulveriza-se duas vezes e com um verdadeiro coquetel de herbicidas”, diz.
Segundo ele, isso ocorre porque as ervas daninhas se tornam resistentes ao
veneno. Herren as chama de “superervas daninhas”.
A favor das sementes
geneticamente modificadas usa-se muitas vezes o argumento da luta contra a
fome. “Modificações genéticas oferecem a agricultores e consumidores uma ampla
gama de possibilidades, impossíveis de serem alcançadas com outros meios”, diz
Buckingham. Ele cita como exemplo a Índia, afirmando que a colheita de arroz
aumentou de 300 quilos por hectare em 2002 para 524 quilos por hectare em 2009.
A ativista indiana Vandana Shiva,
vencedora do Prêmio Nobel Alternativo, também participou dos protestos em
Washington. Ela luta há anos contra a Monsanto e menciona o relatório O rei dos
GMOs está nu, publicado por sua organização Navdanya International em outubro
deste ano.
Segundo o documento, a Monsanto
prometeria aos agricultores na Índia colheitas muito mais altas do que as
citadas por Buckingham e não conseguiria manter essa promessa. Shiva diz que as
sementes geneticamente modificadas não aumentaram as colheitas e que a
afirmação de que menos químicos são necessários não é verdade.
As críticas concentram-se sobre a
Monsanto, porque, segundo Shiva, “95% das sementes de algodão são controladas
pela empresa, que possui contratos de licenciamento com 60 empresas de sementes
indianas”. A própria Monsanto não divulga dados sobre a sua participação em
mercados fora dos EUA.
Nos Estados Unidos, segundo a
Monsanto, a empresa fornece cerca de um terço das sementes de milho e nove de
cada dez campos de soja são cultivados com a tecnologia Roundup Ready, da
Monsanto e suas licenciadas.
Como a semente da Monsanto é
patenteada, os agricultores só podem utilizá-la para um plantio. Eles não podem
reivindicar o direito de guardar uma parte da colheita como semente para o
próximo ano, como se faz na agricultura tradicional. Por terem de comprar
sementes caras todos os anos, argumenta Shiva, muito agricultores indianos
estão altamente endividados. Ela diz que 250 mil fazendeiros se mataram na
Índia por causa de dívidas. “A maioria desses suicídios ocorreu em áreas de
cultivo de algodão”, diz.
Um estudo do Instituto
Internacional de Pesquisa em Política Alimentar (IFPRI, na sigla em inglês) não
conseguiu, porém, identificar uma relação direta entre o cultivo de algodão
geneticamente modificado e os suicídios dos agricultores. De acordo com o
estudo, houve de fato um aumento da colheita em várias partes da Índia por
causa do algodão transgênico. Perdas na colheita – que também foram registradas
– foram causadas por secas ou outras condições desfavoráveis.
“Informaremos às pessoas se seus
alimentos são geneticamente modificados, pois os norte-americanos devem saber o
que estão comprando”, prometera o então candidato à presidência dos EUA Barack
Obama em 2007. Entretanto, até agora nada aconteceu nesse sentido.
A responsável pela análise e
rotulagem de alimentos nos Estados Unidos é a Food and Drug Administration
(FDA), mais especificamente o presidente da área de segurança alimentar. Em
2010, Obama designou um novo nome para o cargo: Michael R. Taylor. Um de seus
empregos anteriores foi o de vice-presidente de políticas públicas da Monsanto
Fonte: site MST
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