Coreia do Norte - Diário
Liberdade - Após dias de ameaças reforçadas, Pyonyang declara estado de guerra.
Pano de fundo podem ser geopolíticos e interesses da indústria armamentística.
No seu comunicado, Pyonyang diz
que resolverá os assuntos pendentes entre as coreias "como em tempos de
guerra". Na verdade, as linhas vermelhas já tinham sido ultrapassadas em
meados desta semana, quando a tensão crescente na península coreana
"ultrapassou a linha de perigo e entrou na fase de uma guerra real",
em palavras do Comando Supremo do Exército do Povo Coreano. Um sinal de quanto
as ameaças poderiam ser de sérias é que nos últimos dias o Norte fechou os
canais de comunicação com Seul para gerir o acesso de trabalhadores do Sul a um
estratégico complexo industrial, símbolo de algumas das poucas relações ainda
existentes entre ambos países.
Nos últimos dias, os EUA e o seu
sócio sul-coreano continuaram as manobras militares nas redondezas da Coreia socialista,
no que Washington classificou de "demonstração de força", perto da
fronteira. Incluindo voos de bombardeiros nucleares, deslocação de barcos
militares para posições de ataque contra a Coreia, reforço das sanções e uma
campanha mediática internacional entre as manobras ianques, os Estados Unidos
consideraram entretanto manobras análogas na República Popular Democrática da
Coreia como "provocações".
Recentemente, o Delegado do
Comité para Relações Culturais com Países Estrangeiros, o Catalão e Norte-coreano
Alejandro Cao, dizia em entrevista à RT que "o verdadeiro perigo vem das
ameaças de agressão militar", dado que a economia do país é
"basicamente autárquica" e portanto as sanções internacionais
"não lhe afetam praticamente" e "já aprendemos a viver com
elas". Nessa mesma entrevista, Cao criticou que o atual presidente da
Coreia do Sul rompeu desde 2008 todas as pontes existentes entre país sob
regime capitalista e o seu vizinho do Norte. Também indicou a plena
disponibilidade de Pyonyang a defender a sua "soberania e cultura".
O frágil equilíbrio que nos
últimos anos tinha havido na região, apesar -por exemplo- dos 200 voos de
reconhecimento que a cada ano os EUA fazem sobre a Coreia do Norte, rompeu-se
nos últimos anos principalmente desde a chegada de George Bush à presidência
dos EUA e de Jung Hong-won como Primeiro Ministro da Coreia do Sul-,
acelerando-se a um ritmo a cada vez maior nos últimos meses, semanas e dias.
Qual o pano de fundo?
O aumento da tensão foi no meio
de um fabuloso aparelho de propaganda que faz difícil identificar, por
enquanto, o pano de fundo que levou precisamente neste momento a gerar o clima
bélico reinante.
Porém, a morte em 2011 da
carismática liderança Kim-Jong Il e a inexperiente gestão do seu filho e sucessor
no governo Kim-Jong Un, em conjunto com necessidades da indústria
armamentística americana, agora que
Washington diminui a sua presença no Afeganistão e no Iraque, poderão ter
encorajado os EUA a criar um clima bélico na zona.
Uns Estados Unidos da América em
confronto económico global com os BRIC -a China ajuda o Estado socialista
economicamente e tem sido tradicionalmente um aliado dele, embora na atualidade
o seu apoio seja menos do que morno- terão interesses claros numa mudança nas
relações de poder península coreana.
EUA têm 200 vezes mais armas
nucleares do que a Coreia do Norte
A declaração do estado de guerra,
embora partisse de Pyonyang, muito improvavelmente será a opção favorita das e
dos norte-coreanos, pois se obrigarão a enfrentar-se à maior potência militar
do planeta junto com outro dos dez maiores exércitos, o do Sul da península
coreana. Também não é verosímil, à partida, que os EUA estejam sob ameaça dos
mísseis de Pyonyang, por quanto o armamento daquela república não terá condição
de atingir território ianque.
O número de armas núcleares em
poder dos EUA, com cerca de 2.500 (reconhecidas) multiplica em mais 200 vezes
as que tem Pyonyang. A Coreia do Sul também tem um programa nuclear que
desenvolveu em segredo desde 1975 (ano em que, teoricamente, assinara o tratado
de não proliferação nuclear) até 2000, e que poderia continuar na atualidade.
Precedentes
Embora o atual clima de tensão
não tenha precedentes desde 1953, há que avaliar a situação presente tendo em
conta que desde que as duas Coreias entraram em guerra em 1950 relações
experimentaram diferentes níveis de confronto. Ainda, nenhum tratado de paz foi
assinado desde o final dessa guerra em 1953 (apenas um cessar-fogo), de forma
que, tecnicamente, Pyonyang e Seul estão em guerra desde então. Em 2010 houvo
mesmo um enfrentamento direto, quando após três disparos da Coreia do Sul
contra a do Norte, que foram respondidos com um bombardeio sobre uma ilha.
FONTE :site Diario Liberdade
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