Segundo denúncia, grupo de indígenas foi expulso da sala de aula pelo diretor do colégio, pressionado por professores e estudantes não-indígenas
Ruy Sposati,
de Dourados (MS)
Cerca de 28 estudantes indígenas Kaiowá e
Guarani da aldeia Campestre foram retirados de uma sala de aula de uma escola
estadual em Antônio João (MS), sob a alegação de que eram “sujos” e “fedidos”.
A denúncia foi realizada pelo conselho do Aty Guasu, grande assembleia Guarani
e Kaiowá do Mato Grosso do Sul, no último dia 12, no Ministério Público Federal
do estado, em Dourados.
Atualmente, a comunidade de
Campestre tem acesso, no próprio tekoha (aldeia), ao ensino básico e
fundamental. Para cursar o ensino médio, os estudantes precisam sair da aldeia
e estudar em colégios no perímetro urbano do município.
Segundo a denúncia, no dia 27 de
fevereiro, o grupo de indígenas foi expulso da sala de aula da turma do
primeiro ano do ensino médio matutino da Escola Estadual Pantaleão Coelho
Xavier pelo diretor do colégio, pressionado por professores e estudantes
não-indígenas.
“Disseram pros nossos estudantes
que eles não deveriam estudar ali”, conta a liderança da aldeia, Joel Aquino.
“Disseram aos nossos jovens que se eles continuassem estudando o ano todo, iam
encher a sala e escola de terra, porque temos ‘pés sujos’. E ‘chulé’, que as
indígenas femininas tem aquele cheiro de mulher”, conta. O diretor colocou o
grupo do lado de fora da sala de aula, enquanto o professor continuou dando
aula para os não-indígenas. “Às vezes o professor ia lá fora passar alguma
atividade para os indígenas”, diz Joel.
Quando voltaram à aldeia, os
estudantes relataram à comunidade o que havia acontecido. Joel conta que ele
próprio e uma outra liderança da aldeia, em momentos diferentes, foram
pessoalmente falar com o diretor da escola, que confirmou ter expulsado os
jovens da aula por considerar que eles não eram higiênicos o suficiente.
“Depois disso, nossos estudantes
não querem mais frequentar a escola por motivo de vergonha, tamanha a situação
humilhante que passaram”. Segundo Joel, apenas três deles resolveram continuar
frequentando as aulas na escola estadual. “O resto está perdendo aula,
decidiram que não vão [para a escola]. Os três que estão indo disseram que o
diretor decidiu que eles podem voltar pra sala de aula, porque são poucos. Mas
que se voltar a ir todo mundo, eles não vão poder ficar na sala”, conclui.
Além do MPF, os relatos também
foram encaminhados à Fundação Nacional do Índio (Funai) e a representantes da
Secretaria de Direitos Humanos.
Foto: Ruy Sposati/Cimi
Fonte: site brasildefato.com
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