Paul Craig Robert-
Há liberdade quando o governo é controlado
pela lei; e a lei, pelos cidadãos. Assim os pais fundadores dos EUA dispuseram,
na Constituição dos EUA. E é a Constituição que define os EUA. Todos os membros
do governo e das Forças Armadas juram obedecer à Constituição – ninguém jura
que obedecerá ao governo, ao presidente ou a algum partido ou ideologia – e
defender a Constituição contra os inimigos internos e externos.
Hoje, o que é preciso é
defendermos a Constituição, contra os inimigos da Constituição que vivem dentro
do “nosso próprio” governo. Os inimigos externos dos EUA são minúsculos. Já os
inimigos internos, esses, são legiões. São inimigos dos EUA – com exceção dos
‘vazadores’ de notícias verdadeiras – todos os membros, agentes e funcionários
do governo dos EUA, Executivo, Legislativo (as exceções não chegam a uma dúzia)
e Judiciário (poucas exceções).
Os três ‘poderes’ do governo dos EUA uniram-se
para destruir as liberdades civis nesse país, em nome de uma mentira, uma
invenção: a “guerra ao terror”. Ainda que os EUA tivessem sido invadidos e
fossem controlados por terroristas, que terroristas conseguiriam causar mais
mal aos EUA que o mal que nos faz “nosso próprio” governo, que destruiu a
Constituição dos EUA?
Quem não acredite que a Constituição dos EUA
foi destruída igualmente por Republicanos e Democratas, que leia o livro que
escrevi em coautoria com Lawrence M. Stratton, The Tyranny Of Good Intentions
[A Tirania das Boas Intenções], e os cinco artigos cujos endereços aí vão, em
nota[1].
Bradley Manning, do Exército dos EUA, cumpriu
o juramento que fez ao alistar-se, de respeitar o Código Militar dos EUA, os
padrões de Nuremberg definidos pelo governo dos EUA, tudo o que dispôs o
Comandante das Forças Conjuntas do Estado-maior durante o governo George W.
Bush e, também, que respeitaria a própria consciência. Manning está sendo
acusado de ter entregue a WikiLeaks o vídeo em que se veem militares dos EUA
assassinando dois jornalistas e uma dúzia de inocentes que andam por uma rua. O
vídeo pode (e deve) ser visto
em http://www.truthdig.com/avbooth/item/video_shows_murder_of_journalists_and_iraqi_civilians_20100405/.
Depois do assassinato dessas pessoas por
soldados norte-americanos que jogavam videogame com seres humanos vivos, um pai
e duas crianças pararam a van em que viajavam para ajudar os sobreviventes que
agonizavam na rua. Os soldados norte-americanos, movidos por sede de sangue,
por incompetência ou pela própria imensa maldade, assassinaram também o pai, e
meteram duas balas de grosso calibre no corpo das duas criancinhas.
Os assassinos culparam o pai por trazer
crianças para a zona de combate criada pela incompetência, pela perversão ou pela
maldade essencial dos soldados dos EUA, os quais certamente ganham pontos por
assassinar gente. Disseram que câmeras de televisão foram tomadas por armas, o
que justificaria o assassinato de 15 pessoas.
Em seguida, algumas pessoas desarmadas, como
se vê claramente no vídeo, entram em um prédio.
Os soldados dos EUA decidiram que aquelas
pessoas desarmadas portavam armas e mandaram três mísseis Hellfire contra o
prédio. Os soldados dos EUA então concluem o relatório, informando que todos os
“alvos” foram mortos.
Qualquer cidadão norte-americano decente que
assista a esse vídeo, terá ímpetos de divulgá-lo. Se Manning entregou o vídeo a
Wikeleaks, Manning é o melhor norte-americano vivo, o mais moralmente digno e
decente. E o que a consciência moral está custando a Manning?

E o governo dos EUA escapou dessa, sem
qualquer condenação. Os norte-americanos não dão a mínima. Não é com eles. São
estúpidos demais para entender que, uma vez atropelada a lei, o próximo
atropelado pode ser qualquer um deles.
Em sua sanha para punir Manning, militares e civis norte-americanos não conseguem entender que a lição que resta, aprendida pelos soldados, é que crimes contra a humanidade não serão punidos; mas quem revele os crimes, sim, esses, serão castigados.
Dia 29 de novembro, Bradley Manning depôs num
tribunal federal sobre o confinamento ilegal e a tortura que lhe foram impostos
pelo governo dos EUA. O depoimento de Manning não foi assunto na
imprensa-empresa dos EUA. O New York Times, nas palavras de Chris Floyd,
“contentou-se com um resumo de telegrama copiado da AP, enterrado no fundo da
página 3.”
O Guardian britânico cobriu em detalhes o
depoimento de Manning, em duas matérias de 68 parágrafos. A opinião pública
britânica está informada sobre os crimes contra a humanidade cometidos pelo
governo dos EUA e sobre as violações da lei internacional e da lei
norte-americana; os norte-americanos não sabem de nada.

Investigação formal conduzida pela ONU, para conhecer detalhes do tratamento ilegal, brutal e desumano a que foi submetido Bradley Manning descobriu o que já se sabe: que o governo dos EUA deu tratamento “cruel de desumano” a um de seus melhores soldados. O porta-voz do Departamento de Estado, coronel P.J. Crowley, demitiu-se publicamente, como protesto contra o tratamento que o governo dos EUA deu a Manning.
A imprensa-empresa, a mídia presstituta,
manteve-se calada.
Glenn Greenwald, advogado constitucionalista,
concluiu que “os jornalistas do establishment norte-americano facilitaram, ao
governo, cada passo dessa trajetória”. A mídia presstituta autoapresenta-se
como agente vigilante, mas nada irrita mais esses ‘jornalistas’ que alguém que
realmente desafie os atos do poder.”
Greenwald elogia Bradley Manning, que “prestou
ao mundo tantos serviços vitalmente importantes. Mas, quando a corte marcial
que o julgar chegar afinal à sentença, que provavelmente será sentença de
muitos anos de cadeia, afinal se entenderá que o maior serviço que Manning
prestou ao seu país e ao mundo foi escancarar essa janela pela qual é possível
ver, diretamente, a alma política dos EUA.”
E o que se vê por essa janela, da alma
política dos EUA, é o mal, total mal. O governo dos EUA é o Povo Eleito de
Satã. Só isso, absolutamente mais nada, se pode dizer de quem nos governa,
tortura e oprime.
Fonte: site http://www.tlaxcala-int.
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