HeitorScalambrini Costa e Silvio Diniz *
O Brasil continua atrasado em
relação a outros países no que se refere à implementação de políticas públicas na área da
conservação e eficiência energética. Verificam-se perdas importantes na
transmissão elétrica, relatadas por comissão especial do Tribunal de Contas da
União (TCU), da ordem de 17%(enquanto na Europa e USA este valor é em torno de
5%); com o uso ineficiente dos chuveiros elétricos (atendem mais de 80% dos
domicílios) que representam 7%de todo consumo nacional de eletricidade e mais
de 18% do pico de demanda, e que poderiam ser trocados pelo aquecimento solar;
e com motores e eletrodomésticos com baixas eficiências. Assim existe um grande
potencial de economia de energia que se poderia alcançar com soluções já
existentes.
O Plano Nacional de Eficiência
Energética (PNEF) lançado pelo Ministério de Minas e Energia em outubro de 2011
(portaria 594/MME), apesar do bom diagnostico realizado da situação atual, tem
metas e propostas pífias (redução de 10% no consumo total) do que se espera
para um pais da importância do Brasil, dentro do contexto das mudanças
climáticas, em que a cadeia produtiva da energia é a vilã e a que mais emite
gases de efeito estufa.
Ainda prevalecem idéias e conceitos retrógrados do século
passado, no que se refere à oferta de energia. Para os gestores públicos (e os
empreiteiros, é claro) a única forma de ofertar mais energia para o país é
construindo mega-hidrelétricas na região
Amazônica, termelétricas a combustíveis fósseis e usinas nucleares. Não se leva
em conta que usando melhor e introduzindo novas tecnologias, também se pode
“gerar” energia elétrica e disponibilizar no sistema elétrico nacional.
Um dos casos mais evidentes e
emblemáticos da pouca visão, dos gestores reside na questão da iluminação
pública. É estimado que em torno de 15% da energia elétrica produzida é consumida
nesta modalidade. O PNEF prevê um potencial de redução na iluminação pública de
9% da demanda e na economia de energia ,substituindo as lâmpadas menos
eficientes por lâmpadas de vapor de sódio (LVS).
No Brasil, dos 15 milhões de
pontos de iluminação existentes, em torno de 60% são LVS. No entanto, esta
tecnologia está ultrapassada, quando comparada com os LEDS (diodos emissores de luz), que apresentam alto
rendimento, mais do que o dobro da vida útil da LVS (em média 50.000 horas,
porém fabricantes falam em100.00 horas) e um baixo consumo de energia elétrica,
com uma redução de até50% menor às de vapor de sódio, proporcionando assim uma
redução significativa do consumo, em particular no pico da demanda do setor elétrico.
Apesar de ainda ter um preço
inicial de aquisição superior as LVS, é necessário considerar que os LEDs possuem um baixo custo de manutenção, visto
que seriam substituídos a cada 12 anos (considerando o uso em média de 11 a 12
horas ao dia, com tempo de vida de 50.000 horas), e baixo consumo de energia, o
que levaria ao longo de sua vida útil, a um custo menor que das LVS . Outros
benefícios podem ainda ser destacados, como a não emissão de radiação
ultravioleta, evitando a atração de insetos à luminária e sua degradação,
contribuindo para redução dos custos da manutenção; maior resistência a
impactos e vibrações e contribuição para a redução da poluição luminosa com
iluminação direcionada.
Na iluminação das vias públicas,
os LEDs apresentam mais uma vantagem, a reprodução das cores com mais
eficiência e qualidade, o que favorece a
visualização das informações apresentadas nas via públicas, tais como: sinalização
de trânsito, de advertência, de localização, etc.
Devido à baixa tensão dos LEDs
que trabalham com tensões e correntes contínuas,
é possível a conexão às baterias eletroquímicas, dispensando o auxílio da rede elétrica.
Com isso, possibilita aos atuais projetos para iluminação em vias públicas a
integração de uma fonte eólica e/ou fotovoltaica aos postes de luz. Tornando
possível prover iluminação aos municípios e rodovias que ainda não possuem
linhas de transmissão, e mesmo aquelas que já possuem.
O estímulo à pesquisa e inovação
desta fonte luminosa levou o laboratório SENDES/UFPE a desenvolver uma
luminária denominada LUMISOL (www.lumisolcaa.blogspot.com.br
)que reúne além da tecnologia LED, uma alimentação com eletricidade solar fotovoltaica.
Este se configura como um dos muitos exemplos neste Brasil afora, de desenvolvimento
de produto nacional com valor agregado, que apesar da miopia dos gestores
encastelados que pouco dialogam com a
academia e com os centros de pesquisa; no país, o desenvolvimento tecnológico e
a inovação existem e permitem soluções viáveis, simples e com alto grau de
maturidade.
*HeitorScalambrini Costa e Silvio Diniz
Soluções em Energia e Design (SENDES) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Soluções em Energia e Design (SENDES) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
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