TERRA, VIDA E LIBERDADE
Saibam europeus, árabes e canadenses
E outros povos do além-mar
Que o arroz que te servem à mesa
Está nutrido com a desgraça dos guarani-kaiowá
Gados, porcos e cavalos da Índia, China, Coreia e Marrocos
A soja que colocam em teus límpidos cochos
Está mesclada de séculos de banimento e sangue
Do povo guarani-kaiowá e de outras nações irmãs
Ah!,urbanoide deste planeta idiotizado
Saberás tu quantos gurizinhos indiozinhos
Cometeram suicídio a cada acelerada de teu automóvel?
Tu sabes a diferença entre cana-de-açúcar e Terra sem Males?
Primeiro, vieram os espanhóis, os portugueses, os paulistas
Depois, a serra, o desmate, o café, o colonhão
Juntos vieram o gado, o trator, o migrante, a cidade
E as aldeias guarani secam no leito das estradas
De que valem as divisas recolhidas pelos navios-celeiros
E esse mar de grãos que navegam nas bolsas de valores
Se germinam as ervas daninhas a reproduzir sua amargura
Na Terra intoxicada, sem Vida e sem Liberdade
Tuas lágrimas, guarani, denunciam desespero, fraqueza e força
De uma nação sem fuzis, resistente e sem derrota
Arcos ao ombro e uma flecha no coração cravada
Pela agrosselvageria, agrobarbárie, agrobestialidade
Mirem para essas mulheres que não são de Atenas
Seus maridos, filhos violentados pela lesa-humanidade
Tudo isso e nada vão arrancar os guarani-kaiowá
Da volta à sua Terra, à sua Vida, à sua Liberdade
Suas crianças sonham com banho no rio, canoa, lambari
Sapo-cururu, jaguatirica, capivara, quati, arara, sabiá
Araticuns, angicos, jatobás, guavira, capitão-do-mato
A mandioca que brota na terra, o sol que aquece as manhãs
Ora — dirão —, são bugres, preguiçosos e improdutivos
E a cada insulto, os guarani-kaiowá renascem e vão à luta
Dançam, cantam e lamentam o genocídio exterminador
E reconquistarão sua Terra, sua Vida, sua Liberdade
Aldo Aldesco Escobar
À Sombra de um Delírio Verde
Na região Sul do Mato Grosso do Sul, fronteira com Paraguai, o povo indígena com a maior população no Brasil trava, quase silenciosamente, uma luta desigual pela reconquista de seu território.
Expulsos pelo contínuo processo de colonização, mais de 40 mil Guarani Kaiowá vivem hoje em menos de 1% de seu território original. Sobre suas terras encontram-se milhares de hectares de cana-de-açúcar plantados por multinacionais que, juntamente com governantes, apresentam o etanol para o mundo como o combustível “limpo” e ecologicamente correto.
Sem terra e sem floresta, os Guarani Kaiowá convivem há anos com uma epidemia de desnutrição que atinge suas crianças. Sem alternativas de subsistência, adultos e adolescentes são explorados nos canaviais em exaustivas jornadas de trabalho. Na linha de produção do combustível limpo são constantes as autuações feitas pelo Ministério Público do Trabalho que encontram nas usinas trabalho infantil e trabalho escravo.
Em meio ao delírio da febre do ouro verde (como é chamada a cana-de-açúcar), as lideranças indígenas que enfrentam o poder que se impõe muitas vezes encontram como destino a morte encomendada por fazendeiros.
À Sombra de um Delírio Verde
Tempo: 29 min
Países: Argentina, Bélgica e Brasil
Narração: Fabiana Cozza
Direção: An Baccaert, Cristiano Navarro, Nicola Mu
À Sombra de um Delírio Verde from Mídia Livre on Vimeo.
fotos da matéria: blog profcmazucheli.blogspot.
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