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segunda-feira, 22 de agosto de 2011

É a OTAN que faz todo o trabalho militar, não os rebeldes.




por Thierry Meyssan - entrevistado por Silvia Cattori.
Silvia Cattori: Aqui tem-se o sentimento de que Trípoli está em vias de colapso. Qual é a vossa opinião?

Thierry Meyssan: Estamos encerrados no Hotel Rixos. Não se pode dizer se tudo vai afundar ou não. Mas a situação é muito tensa. Ontem à noite, no momento da oração, várias mesquitas foram trancadas. De repente, alto-falantes lançaram o apelo à insurreição. Neste momento grupos armados começaram a percorrer a cidade e a atirar para todo lado. Soubemos que a OTAN trouxe um barco até as proximidades de Trípoli, do qual foram desembarcadas armas e forças especiais. Desde então as coisas vão cada vez pior.

Silvia Cattori: Trata-se de "forças especiais" estrangeiras?

Thierry Meyssan: Pode-se supor, mas não estou em condições de verificar. Mesmo que estas "forças especiais" sejam formadas por líbios todo o seu enquadramento é estrangeiro.

Silvia Cattori: Qual é a nacionalidade destas "forças especiais"?

Thierry Meyssan: São franceses e britânicos! Desde o princípio, são eles que fazem tudo.

Silvia Cattori: Como é que tudo ruiu subitamente?

Thierry Meyssan: Em 21 de Agosto, no fim do dia, um comboio de viaturas com oficiais foi atacado subitamente. Para se porem ao abrigo dos bombardeamentos os membros deste cortejo refugiaram-se no hotel Rixos, onde reside a imprensa internacional e onde por acaso me encontro eu.

A partir deste momento o hotel Rixos está cercado. Toda a gente veste colete anti-balas e capacetes. Ouve-se atirar em todos os sentido em torno do hotel.

As forças entradas em Trípoli desde ontem não tomaram nenhum edifício em particular; elas atacaram alvos em certos lugares ao deslocarem-se. Neste momento não há nenhum edifício ocupado. A OTAN bombardeia de maneira aleatória para aterrorizar sempre mais. É difícil dizer se o perigo é tão importante quanto parece. As ruas da cidade estão vazias. Toda a gente permanece encerrada na sua casa.

Estamos prisioneiros no hotel. Dito isto, há eletricidade e água, não nos estamos a queixar. Os líbios sim. Agora há tiros em redor, uma batalha intensa; já há numerosos mortos e feridos em algumas horas. Mas nós somos preservados. Estamos todos reagrupados na mesquita do hotel. Você ouve tiros neste momento.

Silvia Cattori: Quantos assaltantes cercam vosso hotel neste momento?

Thierry Meyssan: Sou incapaz de dizer. É um perímetro bastante grande porque há um parque em torno do hotel. Penso que se não houvesse senão os assaltantes não seria tão simples tomar Trípoli. Mas se há outras tropas da OTAN com eles sim, isso muda tudo, o perigo torna-se grande.

Silvia Cattori: Nas imagens difundidas pelas televisões daqui vê-se que ao longo destes seis meses são excitados que atiram para o ar e que não parecem profissionais...

Thierry Meyssan: Viu-se com efeito bandos que se agitam e que não são formados militarmente. É pura encenação, não é realidade. A realidade é que todos os combates são travados pela OTAN; e quando seu objetivo é atingido as tropas da OTAN retiram-se. Então chegam pequenos grupos – vê-se de cada vez uma vintena de pessoas – mas na realidade nunca são vistos em ação. A ação são as forças da OTAN.

Foi assim que se passou sempre nas cidades que foram tomadas, perdias, retomadas, reperdidas, etc... E cada ocasião são as forças da OTAN que chegam em helicópteros Apaches e metralham todo o mundo. Ninguém pode resistir, no terreno, face a helicópteros Apaches que bombardeiam; é impossível. Portanto não são os rebeldes que fazem o trabalho militar, isso é anedota! É a OTAN que faz tudo. Depois de eles se retirarem, então vêm "os rebeldes" fazer a figuração. É isso que você vê difundido nas cadeias de TV.

Silvia Cattori: Sabe-se quantos "rebeldes" em armas entraram em Tripoli esta noite? E se células dormentes já estavam lá?

Thierry Meyssan: Sim, com certeza, há células dormentes em Trípoli; é uma cidade com um milhão e meio de habitantes. Que haja células combatentes no interior e perfeitamente provável. Quanto aos assaltantes, mais uma vez, não sei qual é a proporção do enquadramento pelas forças da OTAN. A verdadeira questão é saber quantas forças especiais já foram colocadas.

Há agora forças militares do coronel Kadafi na cidade. Elas chegaram bastante tardiamente do exterior. Os assaltantes cercam o hotel. Penso que é impossível esta noite tentarem um assalto contra o hotel.

Silvia Cattori: Houve pânico entre as pessoas que residem no hotel?

Thierry Meyssan: Sim, jornalistas residentes aqui no hotel Rixos entraram completamente em pânico. É um pânico geral.

Silvia Cattori: E você como se sente?

Thierry Meyssan: Eu tento permanecer zen nestas situações!

Silvia Cattori: Quantos jornalistas estrangeiros estão entrincheirados no hotel?

Thierry Meyssan: Eu diria entre 40 e 50.

Silvia Cattori: As pessoas ignoram que onde há jornalistas que cobrem a guerra há sempre um bom número deles que faz informação, que são agentes duplos, espiões...

Thierry Meyssan: Há espiões por toda a parte; mas penso que eles não sabem tudo.

Silvia Cattori: Diz-se aqui que o plano para evacuar os estrangeiros está pronto. Eles vão poder sair...

Thierry Meyssan: A Organização de Emigração Internacional tem um barco que está prestes a atracar no porto de Trípoli para evacuar os estrangeiros, nomeadamente a imprensa, prioritárias neste caso.

Silvia Cattori: E você o que pensa fazer?

Thierry Meyssan: Por enquanto o barco está ao largo; ele não entrou no porto. É a OTAN que o impede de atracar. Quando a OTAN o autorizar será feita a evacuação.

Silvia Cattori: Esta evolução vos surpreende?

Thierry Meyssan: As coisas aceleraram-se quando chegou o barco da OTAN. São combatentes pertencentes às forças especiais da OTAN que estão aqui no terreno e é evidente que tudo pode cair rapidamente...

Silvia Cattori: Os citadinos estão todos munidos de fuzis se diz?

Thierry Meyssan: O governo distribuiu quase dois milhões de kalachnikovs no país para assegurar a defesa frente a uma invasão estrangeira. Em Trípoli, todos os cidadãos adultos receberam uma arma e munições. Houve um treino nestes últimos meses.

Silvia Cattori: Os líbios que quisessem não estão em condições de sair para manifestarem-se contra as forças da OTAN?

Thierry Meyssan: As pessoas estão paralisadas pelo medo; atira-se de toda a parte; e além disso bombardeia-se.

Silvia Cattori: Vossa posição não é fácil. Entre os jornalistas você deve ter inimigos que querem a vossa pelo por ter contraditado suas versões dos fatos!

Thierry Meyssan: Sim. Já fui ameaçado por jornalistas estadunidenses que disserem que querem matar-me. Mas a seguir apresentaram as suas desculpas... Não tenho dúvida nenhuma sobre suas intenções.

Silvia Cattori: Eles proferiram esta ameaça diante de testemunha?

Thierry Meyssan: Sim, na presença de (...)
Entrevista realizada a partir de Trípoli em 21/Agosto/2011/23h00.

Ver também: TRIPOLI - Témoignage : les journalistes "non alignés" sont menacés de mort (Russia Today)

O original encontra-se em http://www.silviacattori.net/article1829.html

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