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quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Falluja /Iraque : POR QUE É UMA CIDADE PROIBIDA?



por Rodolfo Walsh

A SITUAÇÃO LÁ É PIOR DO QUE EM HIROSHIMA E NAGASAKI
    

O  que  os  Estados Unidos  não querem  que  a gente saiba?          Por que não permitem  que  se   realize   nenhuma  medição dos níveis de radiação e por que,  inclusive,  proibiram  à Agência Internacional de Energia Atômica de entrar em Falluja? O que se passou exatamente lá?  Que tipo de bombas os Estados  Unidos  utilizaram  nesta cidade do Iraque?       Foi só urânio empobrecido, ou teve algo mais?

O que os EEUU e seus fantoches iraquianos não querem que a gente saiba?

 


Acabo de ver, na o-Jazeera Arabic, no programa de Ahmad Mansour a entrevista com o Professor Chris Dusby.

 O Professor Busby é cientista e Diretor de Green Audit, bem como secretário científico do ComitÊ Europeu sobre Riscos Radioativos.
Para conhecer mais dados sobre o Professor Chris Busby e seus trabalhos, digitem em Google “Chris Busby Uranium“.O Professor Busby publicou muitos artigos sobre a radiacão, o urânio e a contaminação em países tais como Líbano, Kosovo, Gaza e, por suposto, Iraq.
Seus últimos trabalhos, são os temas que se ocupou o programa emitido na Al Jazeera, e serão os que eu abordarei nestas linhas:

Faluya é uma cidade proibida. Foi submetida a intenso bombardeios em 2004 com bombas de urânio empobrecido e fósforo branco, e desde então declararam-na zona perigosa, o que significa que nem as autoridades fantoches de Iraque nem as forças invasoras/ocupantes de EEUU permitem que ninguém possa realizar nenhum estudo real do que ali sucede.

Faluya está basicamente sob assédio. É óbvio que os estadunidenses e os iraquianos sabem algo e que tratam do ocultar ao conhecimento público. E aí é o­nde o Professor C. Busby entra em cena.

Mas ele foi/é inflexível na busca da verdade do que ocorreu em Faluya em 2004. Por ser um dos melhores cientistas em seu campo, conseguiu uma pesquisa e passou a dirigir uma investigação em Faluya, cujos resultados preliminares publicar-se-ão em duas semanas, confio…

O Professor Busby encontrou muitos obstáculos para poder levar a cabo este projeto. Nem ele nem nenhum membro de sua equipa se lhes permitiu aceder a Faluya para realizar as entrevistas. Mas ele disse que quando a porta principal se fecha, um tem que tentar que outras portas se abram. E isto foi o que fez. Conseguiu reunir uma equipa de iraquianas de Faluya para que dirigissem as entrevistas por ele.

O projeto de investigação baseou-se em 721 famílias de Faluya com 4.500 participantes, que viviam tanto em zonas nível de radiação alto como baixo. Os resultados compararam-se com um grupo de controle: uma mostra composta pelo mesmo número de famílias que vivem numa zona não radiativa em outro país árabe. Para o estudo, elegeu outros três países para levar a cabo tal comparação: Kuwait, Egito e Jordânia.

Antes de entrar nos resultados preliminares, devo assinalar o seguinte:
As autoridades iraquianas ameaçaram a todos os participantes desta investigação com prisões e detenções se cooperassem em participar das entrevistar. Isto é, ameaçou àqueles que respondessem aos terroristas com leis anti-terroristas.

As forças estadunidenses proibiram ao Dr. Busby que recolhesse qualquer dado, sustentando que Faluya é uma zona insurgente.

Os doutores de Faluya recusaram sair ao vivo no programa de Ahmad Mansour porque tinham recebido ameaças de morte e temiam por suas vidas.

Isto é, o estudo levou-se a cabo em condições muito difíceis e com ameaças de morte. Não obstante, seguiu-se adiante.

Como não se tem descargado o programa em Youtube, não posso transcrever a entrevista palavra por palavra. Tomei breves notas a mão e memorizei o resto. Mas farei o melhor para apresentar todos os fatos que se relataram hoje.

O que os EEUU e seus fantoches iraquianos não querem que a gente saiba?
E por que não permitem que se realize nenhuma medição dos níveis de radiação em Faluya e por que, inclusive, proibiram à Agência Internacional de Energia Atômica que entre em Faluya?

O que se passou exatamente em Faluya?

Que tipo de bombas utilizaram?

Foi só urânio empobrecido ou teve algo mais?

 Um aspecto que é muito característico de Faluya é que os índices de câncer têm aumentando de forma espetacular num espaço muito curto de tempo desde 2004. Exemplos oferecidos pelo Dr. Busby:

· O índice de leucemia infantil é 40 vezes mais alto desde 2004, que em anos anteriores. E comparado com Jordânia, por exemplo, é 38 vezes mais alto.
· A taxa de câncer de mama é 10 vezes superior à de 2004.
· A taxa de câncer linfático é também 10 vezes maior desde 2004.

Outra peculiaridade de Faluya é o imenso aumento nas taxas de mortalidade infantil. Comparadas com outros dois países árabes como Kuwait e Egito, que não têm contaminação radiativa, estas são as cifras:

 A taxa de mortalidade infantil em Faluya é de 80 meninos em cada mil nascidos, em comparação com Kuwait, onde se dá a cifra de 9 em cada mil e no Egito é de 19 em cada mil (por tanto, a taxa de mortalidade infantil iraquiana é quatro vezes mais alta que a do Egito e nove vezes mais alta que do Kuwait).

A terceira peculiaridade de Faluya é a cifra de deformidades genéticas que tem aumentado desde 2004. Esta é uma questão que já me referi no passado. Mas hoje aprendi algo mais. A radiação com qualquer dos agentes utilizados pelas “forças de libertação” não só causa deformidades genéticas em massa senão também e isto é muito importante:

· Causa mudanças estruturais a nível celular.
· O que por sua vez provoca, devido à composição genética dos bebes masculinos (carência do cromossomo X), que os meninos corram maior risco de morte, enquanto é mais provável que as meninas sobrevivam ainda que com deformidades graves.

E há outro exemplo oferecido pelo Dr. Busby:
Antes de 2003, as taxas de nascimento em Faluya eram as seguintes: 1.050 meninos em frente a 1.000 meninas. Em 2005, só nasceram 350 meninos em frente a 1.000 meninas, o que significa que os bebes meninos não estão a sobreviver.

Quanto às meninas e aí é onde a tragédia aumenta… a radiação causa mudanças a nível de DNA, o que significa que essas mesmas meninas, se conseguirem sobreviver e se reproduzem-se mais tarde, darão a luz meninas geneticamente deformadas e meninos mortos.
Os dados expostos apoiam-se em outros estudos realizados com meninos e netos dos sobreviventes de Hiroshima (no ano de 2007), que mostram que inclusive a terceira geração apresenta malformações genéticas, incluídas diversas doenças (câncer, cardíacas, etc…) numa proporção 50 vezes superior.
Por outra parte, em Chernobyl, os estudos realizados com os animais nessa área mostraram que os efeitos da radiação modificaram geneticamente 22 gerações.

Em resumem, a radiação transmite-se de gene a gene e tem uma efeito acumulativo com o tempo (não vou entrar aqui em como essas células se acumulam e guardam memória e afetam ao sistema imunológico).

(Poderão ler mais detalhes sobre o tema uma vez que se publique o documento do professor Busby.)

Algumas das deformidades que apresentam os bebes são tão grotescas que tanto Al -Jazeera como a BBC, que produziram um documentário sobre o mesmo tema, se negaram a mostrar as fotos a seus telespectadores. Os exemplos de deformidades dos que Ahmad Mansour tem fotografias são:

Bebês nascidos sem olhos.
Bebês nascidos com dois e três cabeças.
Bebês nascidos sem orifícios.
Bebês nascidos com tumores malignos no cérebro e nos olhos.
Bebês nascidos sem determinados órgãos vitais.
Bebês aos que lhes faltam extremidades ou têm mais das normais.
Bebês nascidos sem genitais.
Bebês nascidos com malformações cardíacas.
E mais casos ainda…

Sobre esse mesmo assunto, com motivo do estudo, pediu-se-lhes aos doutores de Faluya que indicassem as taxas de defeitos de nascimento no espaço de um mês e que o comparassem com o mês anterior e este é o resultado:

No espaço de só um mês, os nascimentos com defeitos aumentaram de um por dia (no mês anterior) para três por dia (no mês objeto do estudo, que foi o de fevereiro de 2010).
O urânio transmite-se a corrente sanguínea através da ingestão e a inalação. Se estudou e se controlou, também, o nível em massa de urânio encontrado nas pessoas de Faluya, devido ao aumento vertiginoso de gânglios linfáticos e pulmonares e câncer de mama em adultos.
Com estes achados preliminares, o Professor Busby e sua equipa chegaram à conclusão de que, em comparação com Hiroshima e Nagasaki, a situação de Faluya era pior.
E aqui cito textualmente ao Dr. Busby: “A situação em Faluya é terrível e horrenda, é mais perigosa e pior que a de Hiroshima …”
Por outra parte, e muito relacionado com o anterior, mencionei que estes são resultados preliminares, por que?

Porque o Professor Busby foi perseguido e os fundos da pesquisa foram cortados, fundos necessários para a investigação, deram-lhe com muitas portas no nariz, ameaçaram-lhe (o mesmo se passou com outros cientistas que tentaram levar a cabo estudos similares na década dos noventa em Iraque) e a comunidade científica lhe abandonou, todo isso devido à natureza de seu trabalho em Iraque.
Os envolvimentos políticos são enormes e perigosos para EEUU e seus aliados. Significa que as provas científicas de crimes de guerra estão aí, ao nosso alcance…

A vida do Professor Busby converteu-se em algo cheio de dificuldades.
Enviou à revista Lancet o documento de investigação que tantas penas lhe custou dirigir e elaborar para que o revisassem a nível de Comitê científico, mas Lancet devolveu-lhe dizendo que não tinham tempo do revisar.

Os laboratórios que cooperaram no passado para examinar as mostras, as recusaram quando souberam que vinham de Iraque. Só dois laboratórios estiveram dispostos a examinar as mostras do AGENTE/MATERIAL EXATO UTILIZADO EM FALUYA, e foi só em função de um preço exorbitante, preço justificado pela causa da natureza sensível do estudo. Também devido à carência de fundos, o Professor Busby tem 20 mostras de Faluya para examinar, que guarda zelosamente, esperando receber os fundos necessários para poder faze-lo.


Quando Ahmad Mansour, o entrevistador, lhe perguntou sobre o que lhe fazia perseverar ante os enormes obstáculos enfrentados, sua resposta foi esta: “Durante toda minha vida não fiz senão procurar a Verdade, sou um caçador da Verdade numa selva de mentiras. Também tenho filhos. Os filhos não são só nosso futuro, são os transmissores das gerações futuras. Levamos cinqüenta anos contaminando o planeta (com radiações) e essa é a herança que estamos transmitindo a nossos filhos e netos. Devemos isso ao povo de Faluya, temos que encontrar a Verdade.”

Quando perguntou como consegue se arranjar sem fundos e com todas as portas se fechando para ele, sua resposta foi:

“Confio na boa vontade da gente que envia pequenas somas por aqui e por lá, e também creio firmemente que se uma porta se fecha, outras se abrem, ainda que sejam mais pequenas. Quando há vontade para fazer algo, se encontra algum caminho.”


Tiro o chapéu para o Professor Busby. Insto a todas as pessoas que envie este escrito, a toda a gente de consciência, insto a todos para que contatem com o Professor Busby e doem-lhe o que possam para que as mostras de Faluya sejam examinadas e possa se descobrir a Verdade. E acabarei estas linhas com uma cita final deste grande homem lutador      :“A Verdade tem umas asas que ninguém pode cortar”

Tenho que acabar aqui. Já está amanhecendo. Queria mostrar isto ao mundo… a pergunta que me levo à cama, se é que posso fechar os olhos, é a mesma que me estou a fazer desde 2003, por que? Que fez o povo iraquiano, que fizeram os meninos iraquianos para merecer todo isso…? As conseqüências são aterradoras…

 URL del artículo : http://www.cubadebate.cu/noticias/2010/07/08/faluya-peor-que-hiroshima-video/

"Rompa el aislamiento. Vuelva a sentir la satisfacción moral de un acto de libertad...Haga circular esta información".

 Rodolfo Walsh

fonte:  Somos todos palestinos e  http://old.kaosenlared.net/noticia/faluja-pior-que-hiroshima

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