Abaixo a truculência policial
O Grupo Tortura Nunca Mais/RJ -
GTNM/RJ que, há 28 anos, luta pela memória histórica do período da ditadura
(1964-1985), pelo esclarecimento das circunstâncias de morte e desaparecimento
dos militantes políticos daquele período, e contra todas as formas da violência
atual, principalmente a estatal, participa do grande movimento popular que se
alastra pelo Brasil contra todas as suas mazelas, e se pronuncia contra a
truculência policial que se abate sobre os manifestantes.
O movimento que se iniciou em
junho tomou uma grande dimensão e atravessa toda a sociedade brasileira São
milhões de pessoas, de norte a sul do país, em passeatas pacíficas nas ruas,
que estão se manifestando por melhorias na mobilidade urbana, na saúde e na
educação, exigindo maior transparência no uso do dinheiro público, entre outras
reivindicações.
O aspecto que mais deve ser
destacado é a reação das polícias e das forças militares inclusive com o apoio
de seus sistemas de informação a esses eventos. Em todos os contextos, a
violência ultrapassou qualquer nível de aceitabilidade por parte de sociedade.
O exemplo da cidade do Rio de
Janeiro, no dia 20 de junho, onde tivemos, certamente, a maior manifestação dos
últimos tempos, é estarrecedor: Sobre os manifestantes, constituiu-se uma ação
de repressão em larga escala, que utilizou todos os meios para,
sistematicamente, agredir a população. Podemos falar tranquilamente numa
suspensão de qualquer norma ou garantia individual ou coletiva que pudesse
oferecer qualquer limite para essa ação. Mais parecia um Estado de Sítio, ou de
Exceção, não declarado, sobre regiões inteiras do Centro da Cidade e de Bairros
da Zona Sul. Os relatos colhidos informam ataques com bombas contra transeuntes
em hospitais, bares e restaurantes, ou mesmo contra pessoas em praças a
quilômetros das manifestações, assim como, prisões praticadas aleatoriamente.
Assistimos ainda a dois casos estarrecedores, em que a polícia sitiou pessoas
em prédios federais da UFRJ, e em restaurantes, em que foi preciso a
intervenção de advogados da OAB/RJ para que essas pessoas pudessem retornar com
segurança para suas casas.
Vale ressaltar também a
desastrosa incursão no Complexo da Maré, após uma manifestação na Av.
Brasil/RJ, nos dias 24 e 25 de junho, por policiais militares do Batalhão de
Operações Policiais Especiais (Bope), Batalhão de Ações com Cães (BAC) e
Batalhão de Polícia de Choque (BPChoque). A ação resultou na morte de nove
moradores e um sargento do Bope. A população ficou aterrorizada, as aulas foram
suspensas nas escolas da região, o comércio local foi fechado, moradores
ficaram sitiados em seus lares, casas e ruas ficaram às escuras e várias
pessoas feridas. A justificativa oficial, como sempre, foi o combate ao tráfico
e prisão de criminosos. Nada justifica esse massacre, com total desrespeito aos
moradores da Maré.
Outra questão também tem nos
estarrecido: a presença de elementos nitidamente fascistas nessas
manifestações. Podemos chamar de um fascismo difuso e desorganizado, que atinge
manifestantes de partidos e movimentos sociais. Eles têm sofrido agressões
físicas e verbais, assim como têm de lutar fisicamente para manter erguidas
suas bandeiras e portarem suas identificações políticas. Casos mais graves
foram noticiados em abundância nas cidades de Porto Alegre, São Paulo e Rio de
Janeiro.
Cabe ao GTNM-RJ denunciar a
atitude absolutamente inaceitável do aparato repressivo do Estado. Entendemos
que essa situação é insustentável, não pode jamais se repetir e deve ser
seguida de uma ampla responsabilização de todos os agentes envolvidos nessa
ação coordenada de repressão.
Denunciamos e repudiamos também o
papel da grande mídia que de todas as formas tenta adjetivar os movimentos de
forma negativa e caracterizá-los como criminosos. Em muitos momentos, as
bandeiras e demandas dos movimentos sociais foram distorcidas ou parcialmente
apresentadas.
Consideramos de fundamental
importância que os movimentos sociais se incluam nestas manifestações com as
suas reivindicações e, nesse sentido, o GTNM/RJ já está participando e percebendo
a mobilização de vários setores organizados da sociedade.
Pela abertura de todos os
arquivos da ditadura
Pelo cumprimento integral das
decisões da OEA contra o Estado brasileiro
Abaixo a violência policial
contra os manifestantes
Pela Vida, Pela Paz, Tortura
Nunca Mais!
Rio de Janeiro, julho de 2013
Grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro
Fonte: PCB
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