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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

“É um duro golpe”, declara Lino Bocchini sobre censura da Folha à FAlha


 UJS-Na última quarta (20), o Tribunal de Justiça de São Paulo decidiu manter a censura imposta pelo jornal Folha de São Paulo ao blog Falha, que realizava paródia ao jornal de Otávio Frias.

Como argumento para a decisão, os desembargadores apontaram que o blog apresentava similaridades com o nome e a marca Folha, negando que não havia qualquer relação com o direito da liberdade de expressão em julgamento.

Já para os criadores do FAlha, os irmãos Lino e Mário Bocchini, os interesses da Folha não atendem pelo direito à marca, mas sim em censurar o blog por seu conteúdo crítico-satírico, conforme declara o jornalista Lino Bocchini (foto), em entrevista à UJS.

Na entrevista, Lino alerta sobre a importância deste inédito julgamento na liberdade de expressão, visto que a partir de agora, todos os novos casos semelhantes a estes, deverão ser baseados nesta decisão. Ou seja, fazer paródias, tal como o fazem diversos programas de humor, ou até mesmo chargistas (Como José Simão da própria Folha), correrá o risco de receber processos, multas, e suspensos do ar, como ocorre com a Falha.

Lino aponta ainda como a sociedade civil, os movimentos sociais, as mídias de imprensa alternativa, que defendem a liberdade de expressão – podem agir em solidariedade à FAlha.

Acompanhe na íntegra a entrevista concedida por Lino Bocchini à UJS:

A Folha aponta que os interesses dela visavam defender a marca, o patrimônio e não tinha qualquer caráter com restrição da liberdade de expressão. Qual o contraponto da FAlha a essa versão?

Trata-se de uma desculpa esfarrapada que pode ser desmascarada com facilidade. Poderia listar uma série de argumentos, mas um só já basta: a MTV, logo depois da Falha sair do ar, cometeu o mesmíssimo “crime”: utilizou o mesmo logotipo, e com a mesma finalidade em seu Comédia MTV (veja aqui). A logo da Falha apareceu por 4 vezes em um único episódio de 15 minutos. O programa foi reprisados várias vezes e até hoje está disponível no site da emissora.

O Grupo Abril, que mantém a MTV Brasil, não foi sequer notificado extra-judicialmente pela Folha, quanto mais processado. Ou seja, o que motivou a empresa da família Frias a nos atacar não foi uma proteção à sua marca, e sim o incômodo com nosso conteúdo crítico-satírico.

No julgamento, foi alegado que a FAlha mantinha vínculos com a Carta Capital. Para esclarecimentos, essa versão tem fundamentos?

Quem alegou isso, na verdade, foi o juiz de 1ª instância. Ele fez essa análise baseando-se em um link que mantínhamos no site (como acontece em qualquer página, inclusive no UOL) e também devido a promoção que inventamos: iríamos sortear uma assinatura semestral da revista entre nossos seguidores no twitter (a conta nem existe mais, caiu com a liminar também). E iríamos pagar de nosso bolso. A própria Carta Capital soltou um comunicado oficial atestando que não há nenhuma ligação da revista com nosso antigo site.

Quais fatores você considera que foram determinantes pela decisão dos juízes a favor da Folha?

O conservadorismo do judiciário paulista, uma vez que eles concordaram plenamente com a tese do jornal de que tratava-se única e exclusivamente de uma questão de “direito marcário”, ou seja, de proteção industrial, de marca. E ignoraram completamente toda discussão pública e a argumentação acerca de liberdade de expressão.

4- O desfecho do julgamento abre uma nova jurisprudência. O que isso significa em relação à liberdade de expressão?

É um duro golpe. Se os prejudicados fossem apenas eu e meu irmão, não teria problema algum. Mas, como o próprio juiz de 1ª Instância afirmou, trata-se de um caso inédito no Brasil, não havia jurisprudência sobre o tema. Agora há. E, com esse precedente aberto pela Folha, outras empresas que queiram seguir o mesmo caminho (tirar do ar páginas na internet que as incomodem), ganharam uma nova e poderosa arma. O dano coletivo é tão grave que a própria Folha, em diversos casos (nas suas charges e no José Simão) agora poderá ser processada por alguém que use como base seus próprios argumentos e ainda apresente própria vitória como jurisprudência.

Com a decisão do TJ-SP, o que vocês pretendem fazer a partir de agora?

Vamos analisar com nossos advogados a possibilidade de recorrer à Brasília –STJ, STF ou ambos. Não é um caminho simples, mas faremos de tudo para que o processo “suba”, já que entendemos que trata-se de uma questão constitucional.

Seria esse o alarde para a “liberdade de empresa” e a restrição da “liberdade de expressão”?

No Brasil e em muitos outros países, a liberdade de imprensa, em geral, é uma “liberdade de empresa”. A própria SIP, a poderosa Sociedade Interamericana de Prensa, é uma entidade patronal que se presta, especificamente, a assegurar de forma ampla e irrestrita todos os direitos comerciais das grandes corporações de comunicação. Sua principal alegação frente a qualquer iniciativa que lhes incomode, é que trata-se de um ataque à liberdade de expressão. Esse tipo de atitude, além de hipócrita, banaliza a discussão sobre a real liberdade de expressão.

Como os movimentos sociais, tal como a UJS, que defendem a liberdade de expressão, e a sociedade civil podem se articular em defesa da FAlha?

Denunciando continuamente a hipocrisia da Folha, que se diz defensora da liberdade de expressão mas promove esse tipo de ataque à liberdade coletiva e, mais do que isso, encampando ou criando campanhas que atinjam diretamente a credibilidade do jornal ou estimulem o cancelamento de assinaturas.

Entenda o caso

O Falha de São Paulo foi criado em setembro de 2010, pelos irmãos Lino e Mário Bocchini, com a finalidade de expressar as parcialidades e preferências políticas da Folha, fazendo isso, através do humor. Porém, em menos de um mês, a Folha entrou com uma liminar na Justiça,  para que o blog fosse suspenso. A justiça atendeu e desde então, o blog está impedido de circular, caso volte, está sujeito a uma multa diária de mil reais.

Na 2ª instância do processo, na última quarta (20), novamente o Tribunal deu voz à Folha, mantendo a censura imposta dede 2010.

Fonte: site ujs.org

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