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quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Compra de terras por estrangeiros e especulação refletem no preço da cesta básica.


Desde meados do século XX, corria pelo Brasil,  dados referentes a propriedade e domínio de terras.  Estes, ruborizavam qualquer interlocutor menos  atento.     Números tácitos,  gritantes  e gigantescamente imorais.


Diante de uma concentração de terras  medonha a maioria dos representantes dos três poderes se esquivava insinuando que  nada havia de irregular.


Algo  desprezível e  muito imoral, no entanto,   comum para a época.   Assim rezava a cartilha das elites com o devido patrocínio da cristandade.


Isso, por  obviedade,  sugeria consequências alarmantes para a sociedade brasileira. Não havia como encobrir tais vicissitudes.   Alguns poucos, aqui e ali, bradavam com suas bandeiras  denunciado  o status quo dominante.



A monopolização da terra  tem sido um assunto pouco discutido entre os meios intelectualizados, exceção  notável  tem se verificado na seara da esquerda, sendo que, sua exígua produção  tem dependido  da acentuação, assertiva e agudeza de seus atores.



A discordância sobre essa questão da terra é  enorme  entre aqueles que representam o pensamento ideológico de esquerda e, ao que parece, continuará por muito tempo.



O incansável  Luis Carlos Prestes,  em meio a suas batalhas, debruçou-se  sobre essa questão e nos legou muitas coisas  bonitas e dignas  de sua grande sabedoria.    Certa ocasião  disparou:  ” Está no latifúndio, na grande propriedade territorial as causa do sofrimento da miséria e do atraso social do povo brasileiro”.



Estamos  no século XXI, já na segunda década, e esse  disparo se mostra ainda atual e preciso.






A matéria  que segue é uma entrevista  da Radio Agência NP com o  professor Sérgio Sauer  e ....  ...  vamos a ela??!! 


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Para compreender a estrangeirização das terras e suas consequências, a Radioagência NP entrevistou o professor Sérgio Sauer. Para ele, o monopólio da terra desencadeia um processo que chega até a mesa dos brasileiros.





No Brasil, menos de 1% dos grandes proprietários detém quase 50% das terras. Na outra ponta, mais de 70% dos pequenos proprietários, agricultores familiares e camponeses possuem em torno de 24% das terras. A informação já é antiga, mas a novidade é que aumenta a cada ano a concentração de terras por estrangeiros, em especial por empresas do setor financeiro.



Isso é o que aponta o professor da Universidade de Brasília campus Planaltina, Sérgio Sauer. Apostando na mesma análise, a ActionAid divulgou no último Dia Mundial da Alimentação (16 de outubro) o Relatório Situação da Terra, sobre países da América Latina, África e Ásia. Segundo a ONG, o aumento da compra de terras por estrangeiros leva à insegurança alimentar da população local, que vê sua produção agrícola ser destinada à exportação



Para compreender a estrangeirização das terras e suas consequências, a Radioagência NP entrevistou o professor Sérgio Sauer, que também é relator do Direito Humano a Terra, Território e Alimentação da Plataforma Dhesca. Para ele, o monopólio da terra desencadeia um processo que chega até a mesa dos brasileiros, com risco de aumento da inflação e de encarecimento dos alimentos e produtos da cesta básica.



Radioagência NP: O Brasil é marcado por ser um país com alto índice de concentração de terras, qual a situação desse quadro ao longo do tempo?



Sérgio Sauer: A concentração das terras no Brasil – ou seja, poucos têm muita terra – é um processo histórico que remonta ao período colonial e, depois, mais recentemente, a partir da Revolução Verde no Brasil, nos anos 1960, que aprofundou esse processo de concentração. Agora nos anos mais recentes, a gente começou a perceber – alguns dizem que não é um fenômeno novo, mas ele é novo no sentido que se aprofunda – um investimento de empresas do setor financeiro, empresas do agronegócio e mesmo pessoas físicas do exterior, especialmente do [hemisfério] norte e de alguns países da Ásia, comprando terras especialmente na África e também na América Latina, em particular no Brasil.



Radioagência NP: Como explicar esse fenômeno mais recente da concentração de terras?



SS: Uma coisa que é importante deixar claro é que a grande imprensa e os jornais, praticamente, semanalmente anunciam que empresas, inclusive empresas do setor financeiro (e isto é uma novidade) - bancos, fundos de pensão, esse setor que estava acostumado a investir mais em bolsas de valores, na especulação financeira com títulos, investimentos para rendimentos em juros, etc. – passam a investir em terra a partir de 2008. Nós entendemos isso como parte de um contexto mais global, primeiro daquela crise norte-americana do setor imobiliário, que se estendeu para os bancos e de uma crise mais ampla, em nível mundial. Então, começou a sair recursos de alguns setores que eram chamados de capital de risco e vir para, por exemplo, aquisição de terras, que talvez é menos lucrativo do ponto de vista imediato, mas é mais seguro.



Radioagência NP: E o que justifica esse aumento na compra de terras?



SS: Como há um aumento da população, nós já chegamos a 7 bilhões de habitantes, e há um aumento do poder aquisitivo de alguns países, como a China, então a tendência é de ter uma demanda maior de alimentos. Só que, isso são dados do Banco Mundial, esses investimentos, especialmente na África, estão vinculados não à produção de alimentos, apesar de esse ser o discurso, mas à produção das chamadas commodities agrícolas: grãos, como soja para alimentação animal (ração) ou para produção de biocombustíveis, biodiesel, etanol da cana. E uma segunda vertente, agora mais recente, é a especulação, a busca e a demanda por minérios, os chamados recursos naturais – especialmente na África ainda –, minério de ferro, madeira, água. Um terceiro aspecto é que parte significativa desses investimentos são especulativos, ou seja, há investimentos no setor, compra de terras e tal, sem que haja perspectiva de produção, só para reserva de valor. Compra-se uma grande área e espera os preços subirem para revender e, com isso, ganhar dinheiro só nessa compra e venda, que a gente chama de especulação imobiliária.



Radioagência NP: Quais as consequências desse processo para a sociedade?



SS: A primeira delas é de que esses investimentos estrangeiros vêm na mesma direção da concentração da propriedade da terra. Se antes eram poucos brasileiros que concentravam muitas terras; agora são esses mesmos poucos brasileiros e algumas empresas ou pessoas físicas estrangeiras adquirindo grandes quantidades. Associado a isso, há uma tendência nesses investimentos de concentrar e monopolizar a produção, é na compra dos produtos da terra. Então, é um segundo problema que impacta, por exemplo, sobre preços: se tem um grande monopólio, essas empresas põem o preço que elas quiserem nos produtos, porque elas controlam os produtos. Em terceiro lugar, e aí é importante dizer que no ano passado, em 2011, um dos motivos pelos quais o Brasil ficou novamente ameaçado com a inflação acima do que tinha sido estabelecido, era por causo do aumento do preço dos alimentos, da cesta básica. E uma quarta, é o seguinte, como há uma demanda por terra de camponeses sem terra, de comunidades quilombolas que não têm seus territórios demarcados, de povos indígenas que ficam constantemente com ameaças sobre seus territórios; uma quarta consequência para a sociedade é que aumentou a demanda por terras, aumentou a concentração, tende a aumentar os conflitos pelo acesso à terra e pelos direitos territoriais.



De São Paulo, da Radioagência NP, Vivian Fernandes.




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