Paul Craig Roberts, Institute of Political
Economy
Quando o presidente Reagan
nomeou-me para o cargo de vice-secretário do Tesouro para Política Econômica,
disse-me que tínhamos de restaurar a economia dos EUA, resgatá-la da
estagflação, para voltarmos a ter economia forte, para enfrentar os soviéticos
e convencê-los a negociar o fim da Guerra Fria. Reagan disse que não havia
motivo algum para continuarmos a viver sob a ameaça de uma guerra nuclear. O
governo Reagan alcançou os dois objetivos.
Mas, imediatamente depois, esses dois sucessos
do governo Reagan foram descartados pelos governos que vieram depois dele. Foi
o próprio vice-presidente de Reagan e seu sucessor na presidência, George
Herbert Walker Bush, quem primeiro violou o acordo Reagan-Gorbachev: ao
incorporar à OTAN partes do Império Soviético; e ao instalar bases militares
ocidentais junto à fronteira da Rússia.
O processo de cercar a Rússia com bases
militares prosseguiu sem descanso ao longo de vários governos nos EUA, com inúmeras
“revoluções coloridas” pagas pelo Fundo Nacional dos EUA para a Democracia
[orig. US National Endowment for Democracy, NED] que, para muitos, não passa de
fachada para ações clandestinas da CIA. Washington tentou ‘mudança de regime’
na Ucrânia, para instalar ali um governo controlado por Washington; e na
Georgia ex-soviética, terra natal de Joseph Stalin, conseguiu.
O presidente da Georgia, país entre o Mar
Negro e o Mar Cáspio, é reles fantoche de Washington. Anunciou, há pouco tempo,
que a Georgia ex-soviética será incorporada à OTAN, como membro pleno, em 2014.
Os mais velhos ainda lembrarão que a
Organização do Tratado do Atlântico Norte, OTAN, é aliança criada entre a
Europa Ocidental e os EUA, contra o perigo de o Exército Vermelho tomar toda a
Europa Ocidental. O Atlântico Norte fica muito, muito longe do Mar Negro e do
Mar Cáspio. Por quê a Georgia seria convertida em membro da OTAN... a menos que
se trate de, assim, oferecer a Washington uma base militar no “baixo ventre
macio da Rússia” [ing. russian soft underbelly, expressão criada por Churchill,
no início do século 20]?
É absolutamente evidente, evidente demais, que
os EUA – os dois principais partidos – já decidiram que Rússia e China são os
inimigos ‘da hora’. Ainda não se sabe se o ‘projeto’ é destruir os dois países
ou apenas incapacitá-los e torná-los impotentes, para que não se possam opor ao
avanço imperial de Washington. Seja qual for o projeto, todos os caminhos levam
à guerra nuclear.
A prostituída imprensa-empresa norte-americana
[orig, presstitute American press] insiste em que um diabólico governo Sírio
‘do mal’ estaria assassinando civis inocentes, que só ansiariam por democracia;
que se a ONU não intervier militarmente, os EUA terão de agir, em nome da
defesa de direitos humanos. Rússia e China são pintadas como
demônios-assessores do demônio mor sírio, até por altos funcionários do governo
dos EUA, porque se opõem ativamente à ideia ensandecida de que a OTAN ‘deve’
atacar a Síria.
Os fatos são muito diferentes e absolutamente
não aparecem na prostituída imprensa-empresa norte-americana e nas
‘declarações’ de altos funcionários do governo dos EUA. Os ‘rebeldes’ sírios
estão armados com armamento militar. Os ‘rebeldes’ estão lutando contra o
exército sírio. Os ‘rebeldes’ massacram civis. Os mesmos ‘rebeldes’, em
seguida, ‘informam’ às mídias prostituídas que lhes prestam o sujo serviço de
distribuir propaganda no ocidente, que os massacres seriam obra do governo
sírio. E subprostitutas da subimprensa-empresa de repetição repetem para todo o
ocidente a mesma propaganda.
Dado que as armas que se veem nas mãos dos
‘rebeldes’ não estão à venda nos mercados sírios nem em banca de frutas, é
óbvio que alguém está armando os ‘rebeldes’. Os melhores analistas e
observadores do mundo têm repetido que aquelas armas são fornecidas aos
‘rebeldes’ pelos EUA ou por subalternos aos quais os EUA atribuem a tarefa
(local) de armar ‘rebeldes’ (locais), em vários pontos do mundo.
Assim sendo, já não é segredo que Washington
provocou uma guerra civil na Síria, exatamente como fez na Líbia. Apenas que,
dessa vez, russos e chineses perceberam a tempo e absolutamente não permitirão
que se aprove, no Conselho de Segurança da ONU, resolução-golpe semelhante à
que o ocidente conseguiu arrancar do CS e usou contra Gaddafi.
Para contornar esse impedimento, peguem aí um
avião Phantom velho, dos anos 1960s, da Guerra do Vietnã, e mandem a Turquia
mandar o Phantom voar para dentro das fronteiras sírias. Os sírios derrubarão o
jato velho e, então, a Turquia apelará aos seus aliados na ONU, para que
acorram em seu socorro contra a Síria. Fracassada a opção ONU, Washington
poderá invocar algum neo ‘dever-de-atacar’, nos termos do tratado que criou a
OTAN, para defender aliado membro da OTAN... contra a Síria já eficazmente
demonizada.
A mentira neoconservadora que continua a ser
usada como justificativa por trás das chamada ‘guerras de hegemonia’ de
Washington é a mentira de que os EUA estariam levando democracia aos países que
invade, ocupa e destrói com bombardeios. Mal parafraseando Mao, “a democracia
nasce do cano do fuzil”. Contudo, pouca democracia há à disposição da Primavera
Árabe; menos ainda, no Iraque e no Afeganistão, dois países que foram
“libertados” na invasão-ocupação-bombardeio democráticos dos EUA.
Os EUA estão distribuindo guerras civis e
países estilhaçados, pelo mundo. Exatamente o que o presidente Bill Clinton
distribuiu na ex-Iugoslávia. Quanto maior o número de países desmontados,
reduzidos a cacos e dilacerados por guerras entre grupos locais rivais... maior
o poder de Washington.
A Rússia de Putin entende claramente que a
própria Rússia está sob ameaças, não só porque Washington paga para criar uma
“oposição russa”, mas, também, porque Washington trabalha para criar guerras entre
facções islamistas, também em estados seculares de população muçulmana, como o
Iraque e a Síria. Essas cisões respingam também sobre a Rússia e fazem
despertar questões russas, como o terrorismo checheno.
Quando um estado secular é derrubado, as facções
islamistas ficam liberadas para saltar, umas ao pescoço das outras. A guerra
interna paralisa o país, torna-o impotente. Como já escrevi outras vezes, o
ocidente sempre conseguiu controlar o oriente porque as facções islamistas
odeiam-se umas as outras mais do que odeiam o conquistador ocidental. Assim,
quando Washington destrói governos seculares não islamistas, como destruiu o
Iraque e, agora, tenta destruir a Síria, os islamistas emergem e põem-se a
disputar a supremacia entre eles mesmos. Nada melhor, do ponto de vista de
Israel e Washington, que esses estados que perdem as condições de agir como
adversário resistente coerente.
A Rússia é hoje vulnerável, porque Putin é
demonizado pela mídia nos EUA em geral e por Washington em especial, e porque a
oposição a Putin, dentro da Rússia é financiada por Washington e trabalha a
favor dos interesses dos EUA, não dos russos. O inferno que Washington está
construindo e espalhando pelos estados muçulmanos respinga sobre as populações
muçulmanas dentro da Rússia.
Já se sabe que é mais difícil para Washington
interferir nos assuntos internos da China, embora já haja sinais de que a
semeadura de discórdia já começa a brotar em algumas províncias. Espera-se que,
dentro de alguns anos, a economia chinesa suplante, em valores, a economia dos
EUA; pela primeira vez na história, uma potência asiática aparecerá à frente
das demais economias mundiais e à frente das mais poderosas economias
ocidentais .
Essa possibilidade já bem real abala
profundamente Washington. Washington, que se deixou derrotar e é hoje governada
por Wall Street e outros grupos de negócios específicos, é absolutamente
impotente para deter o continuado declínio da economia norte-americana.
Os especialistas que vivem da jogatina em Wall
Street, aos quais só interessam os ganhos de curtíssimo prazo; o complexo
militar/segurança, que lucra com a guerra; e as empresas que exportaram, com a
produção de bens e serviços, também os postos de trabalho dos norte-americanos,
e que hoje lucram com isso são as forças que elegem representantes e nomeiam
autoridades em Washington. E assim, enquanto a economia norte-americana
naufraga, a economia chinesa prospera.
A resposta de Washington a essa situação?
Militarizar o Pacífico. A secretária de Estado Hillary Clinton “área de
interesse nacional dos EUA”, o Mar do Sul da China. Os EUA estão chantageando o
governo das Filipinas, usando lá a “carta chinesa” (a ameaça viria da China) e
trabalhando para conseguir que a Marinha dos EUA seja convidada a voltar para a
base naval que ocupou, há tempos, na Baía Subic. Recentemente, houve manobras
conjuntas entre exércitos e marinhas dos EUA e das Filipinas: treinamento para
enfrentar “a ameaça chinesa”.
A Marinha dos EUA está deslocando navios para
o Pacífico e construindo nova base naval numa ilha da Coreia do Sul. Os Marines
dos EUA já estão baseados na Austrália e estão sendo realocados, do Japão, para
outros países asiáticos. Os chineses nada têm de idiotas. Sabem perfeitamente
que Washington está tentando encurralar a China.
Para um país incapaz de ocupar o Iraque depois
de oito anos de guerra; e incapaz de ocupar o Afeganistão depois de 11 anos de
guerra... imaginar-se capaz de tomar e ocupar simultaneamente duas potências
nucleares é, simplesmente, ato de insanidade.
A húbris, a arrogância enlouquecida,
alimentada diariamente em Washington por doidos neoconservadores que ainda não
viram, até hoje, o extraordinário fracasso dos EUA no Iraque e no Afeganistão,
meteram-se, agora, a provocar duas potências gigantes – Rússia e China. A
história do mundo, em todos os tempos, jamais, antes, assistiu a tamanha
imbecilidade.
Psicopatas, sociopatas, doidos varridos e
idiotas ‘normais’ que mandam em Washington estão arrastando os EUA e o mundo,
para vastíssima desgraça. Os governos que se sucedem em Washington – tanto faz
que sejam governos Democratas ou Republicanos – , e independente de quem venha
a ser o próximo presidente dos EUA são, hoje, a mais grave ameaça à vida nesse
planeta, que jamais houve, em todos os tempos. Como se não bastasse, os
criminosos de Washington contam com a cumplicidade incondicional da
empresa-imprensa.
Em próxima coluna, examinarei a chance que
talvez ainda haja de os criminosos de guerra que comandam Washington e sua
empresa-imprensa de repetição conseguirem levar a termo o total colapso da
economia dos EUA, antes de que os mesmos criminosos de guerra consigam por fogo
no mundo.
Tradução: Vila Vudu
Fonte: site Irã News
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