Acaba de ser editado livro que traz um dos depoimentos mais bombásticos
sobre a ditadura militar no Brasil. O livro “Memórias de uma guerra suja”, que
deve ser lançado em breve, é o relato do ex-delegado capixaba Cláudio Guerra
sobre alguns dos acontecimentos mais marcantes das décadas de 70 e 80.
Cláudio Guerra conta, por
exemplo, como incinerou os corpos de dez presos políticos numa usina de açúcar
do norte Estado do Rio de Janeiro. Corpos que nunca mais serão encontrados –
conforme ele testemunha – de militantes de esquerda que foram torturados barbaramente,
entre eles David Capistrano e Ana Rosa Kucinski.
“Em determinado momento da
guerra contra os adversários do regime passamos a discutir o que fazer com os
corpos dos eliminados na luta clandestina. Estávamos no final de 1973.
Precisávamos ter um plano. Embora a imprensa estivesse sob censura, havia
resistência interna e no exterior contra os atos clandestinos, a tortura e as
mortes.”
Revelações sobre o caso do
Riocentro; o assassinato do jornalista Alexandre Von Baumgarten, em 1982; a
aproximação entre o crime organizado e setores militares na luta para manter a
repressão; e nomes de alguns dos financiadores privados das ações do terrorismo
de Estado que se estabeleceu naquele período também estão no livro.
Delegado Fleury
Símbolo da linha-dura do regime
militar, o delegado Sérgio Paranhos Fleury – titular da Delegacia de
Investigações Criminais (DEIC) de São Paulo – foi assassinado por ordem de um
grupo de militares e de policiais rebelados contra o processo de abertura
política iniciado pelo ex-presidente Ernesto Geisel. É o que afirma o
ex-delegado Cláudio Antônio Guerra.
“Fleury tinha se tornado um
homem rico desviando dinheiro dos empresários que pagavam para sustentar as
ações clandestinas do regime militar. Não obedecia mais a ninguém, agindo por
conta própria. E exorbitava. (...) Nessa época, o hábito de cheirar cocaína
também já fazia parte de sua vida. Cansei de ver.”
A história oficial é que o
delegado paulista morreu acidentalmente em Ilhabela, ao tombar da lancha. Mas
Guerra afirma que Fleury na verdade foi dopado e levou uma pedrada na cabeça
antes de cair no mar.
Guerra está sob proteção da
Polícia federal. Tornou-se uma testemunha-chave às vésperas do início dos
trabalhos da Comissão da Verdade, criada para apurar violações aos direitos
humanos entre 1946 e 1988, período que inclui a ditadura militar (1964-1988).
Comissão da Verdade
Um ato nacional pela verdade e
justiça está sendo organizado para próximo dia 3 de maio. Em São Paulo, a
manifestação acontecerá em frente ao antigo Doi-Codi, usado como centro de
torturas e assassinatos na ditadura.
Na última sexta-feira (27/4),
militantes de direitos humanos realizaram uma breve marcha até o escritório
paulista da Presidência da República, para protocolar um pedido para que Dilma
Roussef faça a nomeação e instaure a Comissão Nacional da Verdade.
O deputado estadual do PT
Adriano Diogo afirmou que o ato pede "a imediata instalação da Comissão
Nacional da Verdade”. E seguiu, questionando: “Será que os generais de pijama e
os torturadores que se reuniram no Clube Militar do RJ ainda têm todo esse peso
político? Será que 48 anos depois, quando pessoas foram mortas, desaparecidas,
e nenhum corpo foi sepultado – e nem devolvidos para as famílias – ainda temos
medo desses generais de pijama? Aonde vamos buscar a correlação de forças?”.
Adriano Diogo é autor da lei que criou a Comissão Estadual da Verdade,
instalada no início de março.
Outras atividades vêm ocorrendo
pelo país, cobrando não só a memória e a verdade, mas também a justiça.
A concentração para o ato em São
Paulo será em frente à Igreja do Santíssimo Sacramento, às 8h30, na rua Tutóia,
1125.
fonte PT Alesp
fonte PT Alesp
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